“Já noto mudanças. Tenho mais energia, as cãibras e as dores passaram, já me sinto menos deprimida e com mais agilidade, mais disposição”. O relato é de Márcia Machado, de 57 anos, uma das participantes do projecto “Meno(s) Pausa+Movimento”, que se destina a promover o saúde e o bem-estar das mulheres na menopausa.
A iniciativa da Câmara Municipal de Penafiel, que conta com um conjunto de parceiros, está no terreno desde Fevereiro e já engloba mais de 100 mulheres a praticar exercício físico gratuito orientado para as necessidades deste grupo em concreto e supervisionado por profissionais especializados.
O grande objectivo passa por conseguir melhorias em termos de saúde física e mental, atenuando as alterações que surgem com a menopausa. Estas mulheres são mais propensas a questões como a depressão, a obesidade, problemas cardiovasculares e oncológicos, entre outros. A prática de exercício em contacto com o meio natural pode ajudar. A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está a realizar uma investigação.
“Ainda me custa muito a caminhar nas subidas, fico mais ofegante. Mas é para continuar”
Há casos de irmãs que vêm praticar exercício juntas e relatos de quem nunca tinha praticado desporto na vida e veio agora testar pela primeira vez. E já há muita gente a testemunhar mudanças conseguidas graças a este projecto.
Numa das salas do Pavilhão de Feiras e Exposições, fazem o aquecimento, com música para animar o ambiente e muita conversa. Primeiro de olhos abertos e depois de olhos fechados fazem exercícios de equilíbrio. De seguida é dada a partida para uma caminhada em direcção ao Sameiro e regresso. Cada uma faz no seu ritmo e tem um plano ajustado. Algumas são monitorizadas durante o percurso.
Fátima Marques, de 62 anos, está na menopausa há cerca de 20 anos. Desde essa altura sentiu muitas mudanças físicas. “Tenho esclerose múltipla e vários problemas e tudo junto não é fácil”, refere. Em casa não fazia exercício. “Tenho o campo e tenho animais, mas nunca tinha feito nada deste género. Fiz um rastreio no posto médico e aconselharam-me a vir. A minha filha inscreveu-me. Vim e fiz os testes e cá ando toda contente. Só faltei uma vez”, explica animada a penafidelense.
Durante os mais de três meses diz que já perdeu quatro quilos. “Ainda me custa muito a caminhar nas subidas, fico mais ofegante. Mas é para continuar”, garante Fátima Marques. A mulher não esconde que o facto de ser gratuito ajuda. “Sou viúva e a reforma é pequenina, isto ajuda muito. Se não fosse isto não podia inscrever-me num ginásio, por exemplo”, testemunha.
Maria Emília, de 55 anos, descobriu o projecto nas redes sociais e rapidamente lançou o desafio a todas as amigas. “Sou hipertensa e estava com o colesterol um bocadinho alto e o médico tirou-me a medicação com a condição de fazer exercício. Quando soube disto e que era gratuito, melhor. As posses não eram muitas para pagar exercício”, assume a mulher, que está na menopausa há cerca de três anos e, logo nessa altura, começou a perceber que a parte abdominal estava a “alargar”.
“Já noto melhorias no volume do corpo. Só deixar a alimentação não estava a resultar. Mas estou a perdê-lo com o exercício”, descreve a penafidelense que até já tinha tentado fazer caminhadas, mas não conseguiu atingir resultados sozinha.
Fátima Moreira, de 57 anos, foi uma das amigas que arrastou e que ainda convenceu a irmã a vir. “Já praticava exercício. Sempre fiz natação e depois hidroginástica. Não consigo estar parada. Isto traz benefícios para a cabeça, não me dou sentada no sofá”, explica a participante.
Já Márcia Machado, também de 57 anos, soube do projecto através da internet e veio à procura de benefícios para a saúde. “Tenho um problema na coluna, já tinha feito vários exames e cheguei à conclusão que era falta de actividade física”, conta. Tentou adaptar-se à rotina do ginásio, mas não conseguiu. Ali, adaptou-se logo. “Estava entre pares, pessoas com as mesmas dificuldades, mulheres e senti-me bem e à vontade”, afirma a mulher que está há oito anos na menopausa, que lhe trouxe alterações corporais. Considera-se uma mulher informada, mas confessa que acabou por desvalorizar a situação. “Às vezes ajudamos os outros e acabamos por nos esquecer de nós próprias”, reconhece Márcia, que é cuidadora do marido, o que lhe trazia também dificuldades na hora de sair de casa. “Aqui é perto, moro já ali e dou uma fugida”, dá como exemplo das vantagens do Meno(s)Pausa+Movimento. Ela não tem dúvida dos muitos benefícios que o exercício físico lhe tem trazido, “mentais, emocionais, de ordem social e física”. “Já noto mudanças. Tenho mais energia, as cãibras e as dores passaram, já me sinto menos deprimida e com mais agilidade, mais disposição. Sinto-me muito bem”, garante.
“A assiduidade às três sessões por semana tem sido superior a 95%”
Este projecto nasce com a Câmara de Penafiel e tem como parceiros a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Tâmega II – Vale do Sousa Sul e o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa.
Passa por um “trabalho de valorização do exercício físico multimodal (cardiovascular, força, equilíbrio e flexibilidade) em contacto com ambiente natural, três vezes por semana, sendo que há também sessões a realizarem-se em contexto de sala”, explica o município.
Trata-se de um programa de promoção do exercício e da saúde vocacionado para mulheres pós-menopáusicas, com mais de 45 anos, residentes do município de Penafiel.
“As alterações hormonais resultantes da menopausa traduzem-se habitualmente num maior risco de manifestação de doenças crónicas e degenerativas tais como a hipertensão arterial, a doença cardiovascular, a diabetes, a osteoporose, a osteoartrose ou a doença oncológica, com implicações adversas na qualidade de vida da mulher. A prática regular de actividade física nesta fase, em particular quando realizada em contacto com o ambiente natural, revela-se importante para a saúde da mulher pela sua influência na mobilidade activa, na cognição, na prevenção da incapacidade e na coesão social”, afirmam os responsáveis pelo programa.
O Meno(s) Pausa+Movimento arrancou com uma avaliação clínica e complementada com avaliações da aptidão física, avaliações funcionais e de qualidade de vida das candidatas. Além de um programa de exercício adaptado em contacto com o ambiente, o projecto inclui uma componente de investigação científica.
Emília Alves, da coordenação técnica científica e pedagógica, revela que cada participante faz percursos com diferentes níveis de esforço e adaptados à sua idade e condição. A cada 15 dias, o percurso muda. As praticantes têm entre os 45 anos e os 70 anos.
O trabalho de monitorização é feito por quatro doutorandos, da região, e quatro doutorados na orientação pedagógica. A primeira pós-avaliação acontece em Junho.
Mais de 180 mulheres fizeram avaliação e 149 estão afectas ao projecto. 103 delas estão no grupo experimental que realiza exercício e 46 estão num grupo de controlo que participa na avaliação e em actividades pontuais. Há três aulas por semana, estão as participantes distribuídas por cinco turmas. “A assiduidade às três sessões por semana tem sido superior a 95%”, adianta Emília Alves.
“As mulheres relatam que se sentem mais funcionais nas tarefas do dia-a-dia. Há quem deixe de tomar medicação para dormir e descrevem alterações na composição corporal. Na sua maioria não praticavam exercício físico antes. Aqui têm a mais-valia de ser gratuito”, sustenta a coordenadora.
Menos depressão, menos peso, melhor sono
Também na coordenação desta investigação, Helena Moreira, docente da UTAD, já trabalha com mulheres pós-menopausicas desde a realização da tese de doutoramento.
“É reconhecido que as mulheres têm, comparativamente aos homens, menor actividade física habitual. Vulgarmente não conseguem atingir os níveis mínimos recomendados semanalmente em termos de saúde”, começa por referir. Além disso, esta população tende a evidenciar maior risco de várias doenças, como as oncológicas, obesidade, osteoporose, perda de massa muscular e também enfrenta maiores desigualdades no acesso à saúde, atesta a professora universitária, defendendo que a definição de programas de actividade física dirigidos às necessidades específicas desta população revela-se de grande importância. Até porque, acrescenta, as mulheres são mais sensíveis aos desafios ambientais e “podem ter um papel importante, no âmbito familiar e da comunidade, na adopção de comportamentos pró-ambientais, contribuindo para a mitigação das alterações climáticas”.
Em Penafiel, estão a implementar um programa de exercício físico em contacto com o meio natural, porque está comprovado que isso traz benefícios adicionais para a saúde das pessoas. “Tem um efeito importante na redução dos níveis de ansiedade e depressão. A partir dos 61 anos de idade a depressão tende a aumentar de forma exponencial, afectando particularmente as mulheres e, em comparação aos homens, tendem a apresentar depressões mais graves”, dá como exemplo Helena Moreira.
Segundo a coordenadora, o contacto com o ambiente tem também um papel importante na perda de peso destas mulheres, que vulgarmente evidenciam níveis elevados de adiposidade, nomeadamente na zona da abdominal, o que as torna mais susceptíveis ao aparecimento de problemas cardiovasculares e oncológicos. O facto de se tornarem mais activas traz melhorias no sono e atenua sintomas da menopausa.
O programa criado tem em conta o trabalho de investigação já realizado na UTAD e já há interesse de outras autarquias em replicá-lo.
O projecto acaba por ter três vertentes, desde logo o ensino, porque permite aos alunos em cursos de mestrado e doutoramento desenvolverem investigação específica com esta população, a vertente de intervenção comunitária, já que proporcionam rastreios gratuitos dos níveis de saúde, e, outro objectivo, é “fazer a classificação de percursos pedestres na periferia da cidade para que possam ser usados pelas participantes do programa, mas também por outros grupos populacionais, sempre com o objectivo de promover o estilo de vida activo nessas pessoas”, adianta a docente.
A meta passa pela “melhoria geral dos indicadores de saúde” das participantes, reduzindo “níveis de ansiedade e depressão, afrontamentos, suores nocturnos, que têm implicações no sono e tendem a estar presentes nos primeiros anos da menopausa, e melhorando a composição corporal”. “Uma grande faixa destas mulheres tem situações de obesidade, o que já era esperado, não só pelos limitados níveis de actividade física, mas também pela toma de medicação anti-depressiva, entre outros. Também há senhoras com défice de massa muscular, o que aumenta o risco de queda e fractura. Muitas têm limitada aptidão cardio-respiratória”, resume a coordenadora da investigação.
“Queremos perceber o impacto do exercício físico na saúde destas mulheres”
O vereador do Desporto da Câmara de Penafiel, Pedro Cepeda, destaca a importância desta parceria com a UTAD e desta investigação. “Queremos perceber o impacto do exercício físico na saúde destas mulheres com estas três sessões semanais, perceber o que vai mudar nos indicadores de saúde”, resume. A meta é depois alargar a iniciativa para que mais mulheres possam participar.
“O nosso objectivo é estimular as mulheres que, nestas idades, às vezes estão menos activas e mais isoladas socialmente, tendo um estilo de vida mais sedentário, para melhorar as suas condições de saúde física e mental”, afirma o autarca. “Há muitas pessoas satisfeitas porque foi a primeira oportunidade que tiveram de ter exercício físico e convívio social”, dá como exemplo.
Já participam mulheres de todo o concelho, mas uma meta para o futuro pode passar por descentralizar as aulas.
Pedro Cepeda salienta ainda o que vai ficar para o futuro: “A UTAD está a analisar, dentro dos percursos que tem feito na cidade, a fazer um estudo para definir um trilho pedestre em Penafiel, homologado, que seja apto a este tipo de população e que vai ficar no fim do projecto”.