Qual o segredo? Não sabe. Acha mesmo que não há. Mas aos 91 anos Laurinda Ribeiro, natural de Castelões, Penafiel, voltou a vencer o Concurso de Melhor Pão-de-Ló da 40.º Agrival – Feira Agrícola do Vale do Sousa, que decorre em Penafiel até domingo. Mais um a somar aos muitos prémios já conquistados, nesta categoria e na de melhor broa de milho.
Em segundo lugar nesta competição, que contou este ano com 15 participantes de Penafiel, Paredes, Lousada e Marco de Canaveses, ficou Joaquim Moreira, de Penafiel, e em terceiro a Padaria Real de São Martinho de Recezinhos.
Já perdeu a conta aos títulos
Nascida e criada em Castelões, Laurinda da Purificação Couto Ribeiro vem de uma família de agricultores e tinha quatro irmãos. Com a mãe aprendeu as lides da casa, a arte do tear, que mantém viva até hoje, e também a receita da broa de milho. “Quando tinha apenas sete anos enchi a panelinha de água, deixei-a ferver e cozi o feijão. Fiz como a mãe fazia. Saiu um caldo e a partir daí fiquei responsável por fazer o jantar”, conta a sénior que, desde há cerca de 10 anos, vive com a filha no Marco de Canaveses.
Começou a tecer aos 13 anos e nunca mais parou. “Fui sempre tecedeira e ia ajudar na agricultura aos vizinhos. Íamos às sachadas e cantava-se, era bonito. Agora não presta”, lamenta a mulher que está prestes a fazer 92 anos, já em Setembro.
Só aos 23 anos, por alturas do casamento, aprendeu a fazer pão-de-ló. A receita é mesma que ainda repete hoje e que já ensinou a filhas – teve 11 filhos – e noras.
Segredos não há. “A gente já sabe e nem é preciso receita. Eu digo-a a quem pergunta. São duas dúzias de ovos caseiros, metade de claras, meio quilo de açúcar e cerca de 350 gramas de farinha. Faço a olho. As claras têm de ser batidas em castelo e não cair quando se vira a taça. E o forno a lenha tem de estar na temperatura certa”, resume. Faz igual há quase 70 anos. Sobretudo por alturas da Páscoa ou quando alguém pede.
Participa no concurso da Agrival há cerca de 20 anos e costuma ganhar com frequência. Há dois anos já tinha conquistado “o ouro” com o melhor pão-de-ló. “Já ganhei bastantes vezes. No primeiro ano não queria vir e ganhei logo na broa de milho. Mas não se pode ganhar sempre. É um orgulho quando venço, mas também gosto que os outros ganhem. Nunca fui soberba”, garante Laurinda, que este ano ganhou mesmo à sua própria filha, que também entrou no concurso. Na broa levou-lhe a melhor Maria da Graça Soares, das Termas de São Vicente, também já repetente nestas andanças.
Apesar da idade, a penafidelense não pára. “Passo os dias a trabalhar. De manhã vou pensar as galinhas, sacho as cebolas, apanho sementes das alfaces ou das couves. Tudo o que puder fazer faço”, conta. “Depois de almoço vou para o tear. Ando a fazer umas toalhas muito lindas, aos quadradinhos, tudo lavrado. Ainda agora acabei uma para fora com dois metros e meio”, acrescenta ainda.
Por isso, para o ano, espera concorrer outra vez. “Se for viva estou cá”, garante.