Movidos pela fé, alguns de pés descalços, de velas na mão, centenas de pessoas participaram, ontem, na secular procissão das Endoenças, percorrendo a pé os cerca de três quilómetros de percurso que ligam a Igreja Paroquial de Santa Clara do Torrão, em Alpendorada (Marco de Canaveses), à Capela de S. Sebastião, em Entre-os-Rios (Penafiel).
Pelo meio houve o “Sermão do Encontro”, entre Jesus Cristo e Nossa Senhora das Dores, onde os dois últimos anos, marcados pela pandemia e que impediram as celebrações nos moldes habituais, não foram esquecidos.
A estas pessoas juntaram-se outras centenas que não quiseram perder o espectáculo de luz proporcionado pela tradição das Endoenças. As margens dos rios Tâmega e Douro, em Penafiel, Marco de Canaveses e Castelo de Paiva, estavam iluminadas com milhares de tigelinhas. Cerca de 50 mil foram apoiadas pelas Câmaras de Penafiel e Marco de Canaveses.
Já a procissão percorria a ponte que liga Alpendorada a Entre-os-Rios quando o presidente da Câmara de Penafiel falou aos jornalistas sobre a importância desta celebração para o Tâmega e Sousa e para o país que tem “nesta extraordinária manifestação de fé uma fortíssima tradição com mais de três séculos de existência”.
Antonino de Sousa lembrou que a pandemia impediu que as Endoenças acontecessem, nos últimos dois anos, nos moldes habituais, apesar de terem sido assinaladas com mensagens de luz em Entre-os-Rios. “Uma manifestação religiosa com mais de 300 anos, algo que é capaz de ultrapassar tantas vicissitudes, tem de ser algo muito forte”, destacou.
O autarca ressalvou ainda que além de ser um evento “muito importante para os cristãos e para os que têm fé”, é também importante do ponto de vista turístico. “Este é um evento de turismo religioso de importância incontornável no Norte do país traz muita gente à região e isso reflecte-se na economia local”, frisou o edil.
Segundo o presidente da Câmara de Penafiel, as Endoenças mobilizam as duas margens destes rios e quer o concelho de Penafiel quer o do Marco de Canaveses estão “empenhados em contribuir para que continuem a ser uma referência incontornável do turismo religioso”.
“Acredito que vamos ter milhares de pessoas a participar, pela fé, pelo espectáculo extraordinário que estas 50 mil tigelinhas iluminadas proporcionam e porque temos constatado que s pessoas estão ansiosas por voltar à normalidade”, adiantou Antonino de Sousa.
Também Isabel Guedes, presidente da Junta de Eja, confirmou que a população ansiava por este regresso das celebrações, sobretudo os mais idosos. “É um evento que envolve toda a comunidade para que a tradição se possa prolongar”, disse.
Recorde-se que, esta sexta-feira Santa, pelas 15h00, a Procissão do Enterro do Senhor cumpre o percurso inverso, de regresso à Igreja Paroquial de Santa Clara do Torrão, no Marco de Canaveses.
As Endoenças de Entre-os-Rios foram classificadas em 2015 pelo Município de Penafiel e inscritas no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.