Os 40 anos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) foram comemorados esta quinta-feira no auditório do Museu Municipal de Penafiel, que recebeu profissionais de saúde que abordaram diversos temas e conquistas deste sistema.
“A maior conquista do 25 de Abril”, é assim que Carlos Alberto, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), se refere ao SNS. “Os portugueses devem ter a noção da enorme evolução nos serviços de saúde que ocorreu nos últimos 40 anos”, acrescenta.
No âmbito da região de influência do CHTS, que serve cerca de cinco por cento da população portuguesa, 12 concelhos e quatro distritos, sublinha que conseguiram “ter muito mais médicos, muito mais enfermeiros, um conjunto de especialidades muito maior” e refere também a mais recente valência, que é “o primeiro centro de tratamento da obesidade”, além de “um conjunto de mudanças muito grandes em curso”. “Continua a haver muitas dificuldades, temos uma área de influência muito grande, temos muita gente, população cada vez mais envelhecida, com muitas doenças, mas prefiro sempre falar do que foi feito, sendo certo que há muito por fazer ainda”, remata.
“Temos que deixar de ser o país do “queixandar” – livro editado por Mia Couto. Num certo sentido, parece que é tudo mau, tudo é motivo de queixa e o sector da saúde, muitas vezes, é usado dessa maneira injustamente porque os profissionais dão o melhor de si, em condições muitas vezes difíceis, mas proporcionando bons serviços à comunidade”, destaca ainda Carlos Alberto, utilizando as palavras de Bagão Félix durante a sessão solene de comemoração dos 40 anos do SNS em Coimbra.
Antonino de Sousa, presidente da Câmara Municipal de Penafiel, também reconhece que o SNS apresenta “muitas fragilidades que é preciso compreender e corrigir” e sublinha que deve haver um envolvimento de toda a comunidade. “É um daqueles temas em que é importante que haja consenso de todo o espectro partidário nacional, porque qualquer reforma nesta área deve ser geracional”, explica referindo que, de qualquer das formas é “um grande ganho” para a democracia uma vez que foi criado “com o objectivo de permitir que todos tivessem igual acesso à saúde, independentemente da sua situação social ou económica”.
“É um bem que nós temos que não há igual pelo mundo fora. É um sistema justo, equitativo para todos, sem excepções e que funciona muito bem e nós queremos mostrar o que de bem se faz na saúde”, indica Filipe Serralva, director do Serviço de Urgência do CHTS.
Na sua área, revela que há algumas novidades para o CHTS, nomeadamente, a contratação de um director a tempo inteiro, numa estratégia de redefinição dos fluxos, e uma unidade de curta duração, cujas obras já foram iniciadas. “A ideia é criarmos uma equipa dedicada à urgência, com fluxos próprios para tentar que os doentes que tenham patologia urgente e emergente tenham atenção de vida e que comecemos a ter índices de qualidade e de satisfação quer para nós como profissionais e como instituição sabermos que estamos a dar o melhor, mas também que isso seja percepcionado pelos nossos utentes”, descreve.
Ao longo destes 40 anos foram vários os marcos destacados na evolução deste sistema. Para Filipe Serralva, “a base continua a ser uma das melhores do mundo”, mas, actualmente, existe a “possibilidade de informatização dos processos”, de “partilha de informação entre as várias áreas da saúde” e “possibilidades de investimento em certas áreas que já se provou que são uma mais-valia e mantendo a mesma base de justiça, em que todos têm direito a saúde da mesma maneira e sem limites”.
Já Fernando Malheiro, director executivo do ACES (Agrupamento de Centros de Saúde), destaca a época de descentralização das competências e de globalização em que se vive, que acredita que traz “menos burocracia, maior rapidez, maior proximidade às pessoas e maior responsabilidade de cada um dos actores neste processo”.
“Evolução” é para José Ribeiro, enfermeiro director do CHTS, a palavra-chave. “O CHTS tem de continuar a evoluir. É uma instituição com uma grande pressão na procura dos cuidados de saúde e tem também que se ir adaptando aos novos tempos, alterando um pouco aquilo que é a oferta dos cuidados de saúde com unidades de internamento de curta duração, com um hospital de dia polivalente, com hospitalização domiciliária – que permita também dar alguma opção aos nossos internamentos e, ao mesmo tempo, ter as pessoas em casa, com uma equipa 24 horas disponível para poder prestar cuidados”, enumera. Para o enfermeiro director, todos estes pontos são sinal de “evolução dos tempos e a procura de novos modelos organizativos, um bom aproveitamento dos sistemas de informação e uma tentativa também de diminuir os custos da saúde”.
António Rui Barbosa, director da delegação regional Norte do INEM, lembra também a criação do Instituto Nacional de Emergência Médica há 38 anos, “sensivelmente na mesma altura”.
Começou primeiro com a “ideia peregrina e estratégica de ter um serviço que proporcionasse cuidados de proximidade real aos cidadãos”, constituindo-se em 1965 o Serviço de Primeiros Socorros e Feridos. Evoluiu até ao final da década de 70, início dos anos 80, quando foi formado uma espécie de um grupo de trabalho, o Gabinete de Emergência Médica, que pretendia “criar condições para que existisse um órgão que fosse coordenador de um conceito paralelo ao Sistema Nacional de Saúde – Sistema Integrado de Emergência Médica. Alguns meses depois foi publicado o diploma que determinava o INEM como uma instituição cuja missão era “prestar cuidados de emergência medica a todo e qualquer cidadão que se encontre em território nacional”.
“Ao celebrar os 40 anos do SNS, o 38.º aniversário do INEM, estamos a celebrar o esforço diário destas pessoas, profissionais de saúde, gestores, das governações sucessivas. É celebrar na prática o bem mais precioso, a par da liberdade, que nós conseguimos no nosso pais. É celebrar um bem que não é de ninguém, não é de nenhuma instituição, não é atribuído a ninguém, mas a todos, é um bem que é a saúde”, conclui.
Esta sessão organizada pelo município juntamente com o CHTS trouxe também à conversa os presidentes das corporações de Bombeiros de Penafiel, Paço de Sousa e Entre-os-Rios.