Todos os anos, a Agrival – Feira Agrícola do Vale do Sousa atrai milhares de pessoas a Penafiel – em média 150 mil pessoas nos 10 dias do evento -, mas a 41.ª edição, prevista para Agosto, foi já cancelada devido à pandemia COVID-19. Segundo a autarquia, não estavam reunidas condições para realizar o certame em segurança.
A iniciativa, considerada uma das maiores feiras agrícolas do Norte e Centro do país, diz a mesma fonte, gera, em média, 10 milhões de euros em negócios por ano, tendo um importante impacto na economia local. É uma montra para os cerca de 300 expositores que participam, das mais variadas áreas, permitindo iniciar negócios que se concretizam durante todo o ano.
As empresas participantes concordam com o cancelamento, que protege a saúde de todos, mas não escondem que terão elevados prejuízos.
“A Agrival é um ponto-chave para negócios”
É a primeira vez que o certame não se realiza desde 1980, para protecção de todos. “É uma decisão difícil de tomar, mas primeiro está a saúde dos penafidelenses e dos milhares de visitantes”, salientou o presidente da Câmara de Penafiel, Antonino de Sousa, quando anunciou o cancelamento. Ficou prometido, desde logo, um regresso em força em 2021, caso esteja ultrapassada a pandemia.
Há seis anos que a Serralharia Estores Rodrigues, de Duas Igrejas, se juntou à Agrival. Esta seria a sétima vez. A empresa, de 38 anos, quis dar a conhecer os seus serviços e abrir horizontes. Nunca se arrependeu da decisão, explica Adriano Rodrigues. “Desde que fui para a Agrival nunca mais precisei de trabalhar com empreiteiros. Trabalho directamente com os particulares. 70% dos meus trabalhos vêm daí e desde que fomos para a Feira nunca mais me recordo de ter de ir pedir trabalho. Este ano não vai ser assim. Vou ter de ir à procura de serviço para manter os funcionários”, admite o empresário de Penafiel. É que grande parte dos negócios acabava por se concretizar depois. “Poucos negócios se fazem na Feira, mas as pessoas ficam com o nosso contacto e procuram-nos depois. A Agrival é um ponto-chave para negócios”, garante Adriano Rodrigues, que concorda, ainda assim, com o cancelamento. “Foi a melhor solução, apesar de me deixar pena. A saúde em primeiro lugar”, diz.
Também de Penafiel, a Art Drinks, empresa dedicada ao serviço de bar catering em eventos privados. Está presente na Agrival, na zona dos bares, que concentra centenas de pessoas todas as noites, há oito anos consecutivos. “Fomos para divulgar os nossos cocktails. A Feira representa uma facturação de 14 a 19 mil euros por ano. Além disso estabelecemos lá muitas parcerias de negócio”, atesta Rui Santos. “Já fizemos negócios com empresas de renome como a Land Rover ou a Quinta da Aveleda dentro da própria Agrival”, sendo procurados também por muitos noivos para casamentos, dá como exemplo.
“A Agrival é uma importante alavanca económica e uma montra para o nosso trabalho. Mas cancelar o evento foi uma decisão acertada e de bom senso. Este ano não havia condições para a realizar”, realça, salientando o espírito de família que se gera naquele espaço todos os anos. “É uma zona de afectos, de abraços e de descontracção”, frisa.
A Art Drinks viu 90% dos eventos até Setembro adiados ou cancelados. “É um prejuízo enorme, mas vamos ter de nos adaptar”, garante Rui Santos.
“São à volta de 450 mil euros ou mais que deixa de se facturar”
Com sede na região, o Grupo JAP, representante de várias marcas de automóveis, ocupa mais de 3000 metros quadrados no certame. Todos os anos vendem ali entre 50 a 60 carros e estabelecem contactos para vendas posteriores. “Nos quatro ou cinco meses a seguir temos uma taxa de efectivação de 25 a 30% dos negócios”, adianta Dionísio Jorge, responsável pela comunicação do Grupo. Por isso, a perda é elevada. “São à volta de 450 mil euros ou mais que deixa de se facturar. O cancelamento da feira representa um grande prejuízo”, afirma.
A Agrival, salienta Dionísio Jorge, é “um ponto-chave que permite chegar a muita gente”, já que muitos regressam ano após ano, por tradição. “Vamos ter de fazer outros eventos para compensar”, sustenta.
Se há empresas da região, há também quem venha de longe por reconhecer a importância da Agrival no Norte do país. O restaurante Geadas, de Bragança, participa na mostra gastronómica nacional realizada dentro da feira há cerca de 16 anos. Adérito Gonçalves não esconde os prejuízos: “Será uma grande quebra de facturação, de 40 a 50 mil euros. Temos clientes na feira e clientes que nos procuram depois ao longo do ano. E este ano vai ser um prejuízo enorme porque houve vários eventos cancelados”.
“É um evento de referência e é preferível cancelar do que ter impacto na saúde pública. Acredito que vamos poder voltar no próximo ano”, acrescenta.
Já na Coimbrão – Pão com Chouriço não se fala em prejuízos, mas na ausência de lucros. Mantendo a tradição iniciada pelos pais em 1985, dois irmãos das Caldas da Rainha, que vivem de outras profissões, montam todos os anos um espaço na Agrival. “Temos ali uma família e é um bom sítio para fazer negócio. Todas as nossas matérias-primas como a farinha, a lenha e as carnes do talho são compradas em Penafiel, para ajudar a economia local”, dá como exemplo. Essas empresas do concelho sofrerão mais essa quebra, refere Joaquina Paulo, assegurando também a vontade de regressar em 2021.