Em 2017, Manuel Ferreira, atleta de ciclismo adaptado, venceu quase tudo o que havia para vencer: foi campeão nacional de pista contra-relógio (500 metros), vice-campeão nacional de pista perseguição, campeão nacional de contra- relógio, campeão nacional de fundo e venceu a Taça de Portugal.
Mas o ciclista da ADRAP quer mais. E no próximo ano gostava de competir em provas internacionais. Quer pontuar por Portugal e, quem sabe, chegar aos convocados dos Jogos Paralímpicos de Tóquio, em 2020.
Por isso, Manuel Ferreira lançou um apelo e pede ajuda a particulares e empresas para juntar os cerca de 3.000 a 4.000 euros necessários para custear as despesas com alimentação, viagens e alojamento que lhe vão permitir participar em provas em Espanha, Itália e Bélgica, promovidas pela União Ciclista Internacional.
“Sinto-me igual a toda a gente e tive uma infância feliz”
Nasceu em Galegos e foi por lá que cresceu. Apesar de não ter a mão esquerda, Manuel Ferreira, hoje com 36 anos, diz que sempre foi bem aceite e nunca se sentiu diferente das outras crianças. “Sinto-me igual a toda a gente e tive uma infância feliz”, conta.
Sempre gostou da bicicleta. E foi por volta dos 10 anos de idade que teve a primeira, partilhada com um amigo. “Eu andava 100 metros e ele outros 100”, recorda. A primeira bicicleta, só sua, teve-a aos 18 anos, quando foi trabalhar numa empresa do concelho. Fazia cerca de oito quilómetros diários.
Nunca andou em nenhuma escola de ciclismo nem entrou em nenhuma prova até há cerca de dois anos atrás.
“Em conversa com dirigentes da ADRAP falaram-me na hipótese de competir na vertente de para-ciclismo”, explica Manuel Ferreira. Foi a uma prova onde estava o seleccionador nacional, fez avaliações médicas, e ficou incluído na categoria C5.
Depois de cerca de três meses de treinos, competiu pela primeira vez a 25 de Abril de 2015 – “no dia em que também faço anos” -, numa prova da Taça de Portugal, em Gondomar. “Tive logo a primeira vitória”, refere com orgulho. Nesse ano, o atleta da ADRAP foi campeão nacional de fundo, campeão nacional de contra-relógio e vencedor da Taça de Portugal.
“Venci tudo o que havia para vencer. Estes resultados levam-me a querer mais”
Em 2016, continuaram as vitórias. Sagrou-se vice-campeão nacional de contra-relógio pista (500 metros); campeão nacional de perseguição pista; vice-campeão nacional de contra- relógio; vice-campeão nacional de fundo; foi segundo na Taça de Portugal e 15.º numa prova de contra-relógio da Taça do Mundo que decorreu em Espanha, a primeira prova internacional em que participou. Na prova de fundo viu-se obrigado a desistir depois de uma queda que o levou a um período de recuperação de seis meses.
Apesar disso, em 2017 voltou à competição. Foi campeão nacional de pista contra-relógio 500 metros, vice-campeão nacional de pista perseguição; campeão nacional de contra- relógio, campeão nacional de fundo e vencedor da Taça de Portugal.
“Venci tudo o que havia para vencer. Estes resultados levam-me a querer mais”, admite. Mas “voar mais alto” em 2018 significa cruzar fronteiras e passar a competir em provas internacionais.
“Quero competir internacionalmente para pontuar para os Jogos Paralímpicos de Tóquio em 2020. A minha expectativa não é ficar em primeiro, mas quero ficar nos primeiros 10 para pontuar em nome de Portugal”, explica Manuel Ferreira. “Isso vai permitir ganhar experiência e, quem sabe, dar origem a uma convocação para os jogos”, acredita o atleta. “Chegar aos Paralímpicos seria o ponto alto da minha carreira”, garante.
“A ADRAP é mais que uma equipa, é uma família, mas apenas tem capacidade para me apoiar a nível nacional”
Para participar em provas em Itália, Espanha e Bélgica, o para-ciclista precisa de apoio financeiro. “O clube onde estou, a ADRAP, é mais que uma equipa, é uma família, mas apenas tem capacidade para me apoiar a nível nacional. Não tem capacidade financeira para me poder apoiar a nível Internacional. Por este motivo, estou à procura de apoios para poder realizar as provas internacionais onde os custos são bastantes elevados e não tenho como os suportar”, sintetiza.
“Infelizmente o para-ciclismo não é muito reconhecido. Os portugueses não dão atenção à modalidade nem o Estado dá verbas. Isso leva muita gente a desistir”, confessa.
Para não seguir esse caminho, Manuel Ferreira lançou um apelo na rede social Facebook, pedindo a empresas e particulares que o ajudem a conseguir os entre 3.000 a 4.000 euros necessários para pagar as despesas com viagens, alojamento, aluguer de carro e alimentação que implica a participação nestas provas.
“Tenho que angariar estas verbas até Janeiro, para me poder inscrever”, adianta.
Até lá, Manuel Ferreira vai continuar a fazer o que gosta, preparando-se para as provas nacionais com treinos de duas a três horas por dia e percursos entre 40 a 120 quilómetros.