Penafiel: Ainda não há caldo, mas já se preparam os ingredientes em Quintandona (C/FOTOS)

Azáfama é grande nos últimos preparativos. São esperadas milhares de pessoas

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A menos de 24 horas da Festa do Caldo de Quintandona ainda há muito a fazer. A azáfama era grande, esta tarde, na aldeia preservada em Lagares, Penafiel, onde se fazem os últimos preparativos. É esperado que, a partir de amanhã e até domingo, as ruas, por enquanto quase vazias, se encham de gente para degustar a gastronomia tradicional e, na vertente cultural, vivenciar cerca de 40 espectáculos de música, teatro e dança.

Do caldo, o ‘rei’ da festa, ainda não se sente o cheiro, mas já há quem prepare os ingredientes. Até porque, os próximos dias serão de correria e ninguém quer deixar desiludidos os cerca de 17 mil visitantes esperados, se se mantiverem os valores da última edição realizada, em 2019. Mas é possível que “a fome de festa” traga ainda mais gente, admitem.

“Quando se tira o testo ainda lembra os sabores de antigamente”

Voluntárias desde que começou o evento, Leontina Moreira e Maria Rosalina descascam e cortam abóbora para o famoso caldo, junto a uma lareira e a um forno de lenha dos quais, amanhã, sairão centenas de refeições para a alegria dos visitantes. Conversam animadas. “Se não fosse a brincadeira aqui ninguém trabalhava”, dizem em ambiente descontraído, como quem aproveita os últimos minutos de descanso antes dos dias de trabalho que se avizinham.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Durante os três dias do evento a realidade é só uma: “só temos tempo de ir a casa tomar banho e tornar a vir. E esticar um bocadinho as pernas para depois levantar”. Ainda assim, não desmobilizam, e todos os anos se juntam à equipa de voluntários que põe o evento de pé. “Gostamos muito disto”, admitem.

Elas são um dos alicerces da Cozinha do Amásio. Vão fazer caldo, mas também pataniscas, feijoada, cozido, massa à lavrador… Mas o trabalho começa antes. Por isso, vieram adiantar o possível, preparando os ingredientes para o famoso caldo. O segredo é só um, o carinho e ser feito num pote de ferro antigo e ao lume, atestam as mulheres de Lagares. “Quando se tira o testo ainda lembra os sabores de antigamente. Leva carne de porco, feijão, abóbora, batata, cebola, cenoura, couve, tudo ingredientes da terra.

Leontina e Maria Rosalina lembram-se de como tudo começou, com um caldinho no fim dos ensaios do teatro de rua em que participaram. “Fizemos aqui muitas peças lindíssimas”, recordam. Têm saudades desses tempos. “É por isso que continuamos, para matar as saudades”, brincam.

A festa tem agora outra dimensão e é preciso mais trabalho para atender a todos e manter a qualidade. “Vem muita gente. Amanhã à tarde neste campo só se vê cabeças. Ficamos admiradas como se junta tanta gente”, comentam. Depois de dois anos de interregno devido à pandemia acreditam que o evento vai atrair ainda mais pessoas que estão “com fome de festas”.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

“Isto é uma mais-valia para a terra e ficamos contentes por vir muita gente”, garantem as duas mulheres. “Isto era um cantinho da freguesia que pouca gente aqui vinha. Antes do teatro também não vínhamos a Quintandona e hoje podemos dizer que é a parte mais desenvolvida de Lagares, atrai muita gente cá”, acrescentam. E isso acontece o ano todo e não só por alturas da Festa do Caldo.

“A minha infância foi passada naquela casa. A Casa da Viúva era da minha avó e tenho muitas memórias ali”, conta Maria Lourenço, de 72 anos, referindo-se à casa onde está instalado agora um winebar. Ela, que mora em Quintandona, nem costuma participar muito na festa, mas veio também ajudar na preparação.

“Estou a ajudar em tudo, sou polivalente. Já ajudei a montar tendas, já limpei as mesas e a banca”, dá como exemplo a voluntária. Nota que há menos mobilização este ano no voluntariado, quiçá por causa da pandemia.

Não tem é dúvidas de que a Festa do Caldo mudou esta aldeia de 60 habitantes que não tinha quase nada. Agora, durante o ano, há sempre gente a visitar. “Gosto deste movimento”, afirma.

“Estávamos ansiosos por voltar”

Nem só de voluntários se faz a festa. Os moradores são convidados a, durante o certame, abrir as portas das casas e dos terraços para acolher os visitantes. É o que fazem Rui Borges e a família. “É difícil não embarcar neste espírito da festa. Nem é pelo dinheiro”, garante.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Ele, de Fonte Arcada, mudou-se para Quintandona há alguns anos e também quis envolver-se no evento. Desde 2014 que os “Troikadinhos” fazem petiscos. “Já antes morava aqui uma tia e fazíamos com um primo meu e um grupo de amigos, mas desde 2014 que estas cerca de 20 pessoas, tudo família, organizam este espaço”, conta. No pátio já há mesas montadas e está-se a terminar de instalar o balcão. A chuva atrasou os preparativos, mas esperam que agora dê tréguas.

Nos três dias não fazem contas aos milhares de clientes que servem nem há quantidade imensa de petiscos que saem das cozinhas, desde uma sopa rica a rojões, moelas, pataniscas, entrecosto, chouriço, sardinhas pequeninas. Também Rui Borges, pasteleiro de profissão, acredita que “se o tempo ajudar” este ano haverá mais gente em Quintandona. Com a pandemia “estávamos ansiosos” por voltar, reconhece.

Ele, que escolheu viver na aldeia com a mulher e o filho, reconhece o “crescimento galopante” que tem acontecido pela Festa do Caldo, mas não só. “É uma aldeia fora de comum. Gosto deste sossego, deste espírito e da festa. E a evolução dos últimos anos vai trazer cada vez mais gente”, acredita.

Dois anos de pandemia “prejudicaram” a máquina do evento

Na última edição, em 2019, 17 mil pessoas passaram por Quintandona nos três dias da Festa do Caldo. “Estamos preparados para receber o mesmo número de pessoas se cá quiserem vir”, avança Belmiro Barbosa, presidente da Associação de Desenvolvimento de Lagares, da Casa Xiné e membro da Confraria do Caldo de Quintandona.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

O interregno da pandemia, reconhece, deixou marcas na “máquina” do evento, muito baseada no voluntariado. “Dois anos parados foi muito pesado. Hoje é mais difícil voltar a arrancar com a máquina. Os motores arrefeceram demais, as pessoas envelheceram dois anos e está a ser mais difícil congregar as forças. Mas tudo está a ficar recomposto”, garante.

“Este ano temos cerca de 150 voluntários, não iremos chegar aos números de anos anteriores, mas estamos próximos. Não bastam, remedeiam. Os que vêm são mais sacrificados, com menos horas de descanso. Mas desde que iniciamos este trabalho há 16 anos há um núcleo duro que se mantém de pé e regressa”, realça Belmiro Barbosa.

“Esperamos que seja a Festa do Caldo de sempre. Vale a pena visitar esta aldeia e o que se promove cá, que é o que é tradicional. As pessoas que venham que há novidades, mudanças de espaços e melhorias”, apela o responsável da organização.

A Festa do Caldo de Quintandona acontece entre amanhã e domingo. Haverá 40 espectáculos em três dias.

A entrada para o recinto é de três euros/dia para os três dias de festa, com opção de passe geral (entrada para os três dias) por sete euros. O acesso ao parque de campismo com chuveiros de água quente e aos 20 parques de estacionamento é gratuito.

A organização é da Casa Xiné – Associação para a Promoção e Desenvolvimento Cultural de Quintandona, Associação comoDEantes – Grupo de Teatro, Associação para o Desenvolvimento de Lagares e da Câmara de Penafiel.