A meio do mandato o presidente da Câmara Municipal de Valongo, José Manuel Ribeiro, aceitou dar uma entrevista onde faz um balanço dos dois anos à frente do Município e anuncia que será recandidato e pedirá uma maioria “que dê condições para governar” em 2017. Confessa que é difícil administrar com o PAEL, que classifica ser uma camisa-de-forças à governação municipal. Garante que o investimento da Jerónimo Martins só chegou a Valongo por causa do empenho do seu executivo. Não foge às questões mais sensíveis como o assunto do Campo dos Sonhos ou algumas das promessas eleitorais que admite poder vir a não cumprir por falta de dinheiro. Considera que governar em minoria é difícil, não entende as alianças entre o PSD e a CDU que diz terem em conta o interesse partidário em vez do interesse dos cidadãos.


Está a meio do mandato, que balanço faz destes dois anos na presidência da Câmara Municipal de Valongo?

O balanço que faço em particular, é muito positivo. Estamos claramente a mudar Valongo e isso ouve-se: ouve-se na rua, ouve-se junto das pessoas quando falam connosco. Sinto que estamos a dar mais esperança às pessoas que cá vivem, esse era um dos compromissos que tínhamos. Nestes dois anos captámos vários investimentos, que rondam os 65 milhões de euros, onde se destaca o investimento da Jerónimo Martins. Foi uma conquista, pois estamos a falar de cerca de 300 postos de trabalho a criar.

 

O investimento da Jerónimo Martins foi captado por si? Não vinha já do mandato anterior?

Foi captado por este executivo. Para mim conta o que dizem os proprietários do investimento.

 

E o que dizem os proprietários do investimento?

No ano passado o senhor Pedro Soares dos Santos, o presidente do grupo Jerónimo Martins, convidou-me para ir a Lisboa. Foi nessa altura que me transmitiu a decisão de vir para Valongo. E mais, agradeceu-me o empenho deste executivo, disse-me que se não fosse este executivo nunca teriam vindo para Valongo.

 

E explicou-lhe o porquê?

Eu julgo que no passado este dossiê foi maltratado.

 

Mas o anterior executivo chegou a dar como certa a vinda da Jerónimo Martins para o Concelho de Valongo.

É como lhe digo: quem fala destes investimentos é quem é dono da obra e o dono da obra disse-o. Estamos a falar de uma cotada em Bolsa e a decisão foi transmitida à Bolsa em Outubro do ano passado. Deixe-me dizer-lhe uma coisa que é muito importante: os investimentos como estes não caem do céu – é preciso serem conquistados. E a verdade é que nós andámos muitos anos a perder investimentos neste concelho.

 

Porque é que diz que andaram a perder investimentos?

Olhe, por exemplo, não conseguíamos fechar o PDM. Arrastar um processo como o PDM durante 15 anos não é a melhor forma de dar credibilidade a um concelho. Conseguimos fechar a revisão do PDM ao fim de 15 anos. Esse foi o nosso primeiro sinal aos mercados: credibilidade. Segundo lugar: confiança. Terceiro lugar: maior atractividade. Eu sou um quadro da AICEP há mais de 15 anos, o que me permite falar nestas matérias com alguma autoridade. Estes investimentos têm que ser conquistados. Isso implica muito trabalho e credibilidade. Não basta anunciar a intenção.

 

Ou seja, está a dizer que quando o anterior executivo anunciava a Jerónimo Martins não passava de uma intenção não concretizada?

Exactamente! Não estava concretizada e nem sequer era possível.

 

Porque é que não era possível?

Não era possível, desde logo porque não tinham condições de edificabilidade naquele terreno. Foi preciso alterar o PDM e foi preciso agarrar o investimento. Foi necessário a Câmara cumprir com tudo o que se comprometeu. Quando o dono da obra me diz: «Senhor Presidente, agradeço-lhe o empenhamento, agradeço-lhe toda a dedicação que teve, nós vamos para Valongo e deve-se muito à sua acção», isto é o que conta! Tudo o resto não passa de conversa fiada.

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“Passamos de mau exemplo para uma Câmara que paga a 10 dias”

 

O que é que mudou em Valongo nos últimos dois anos?

Muita coisa! A mais importante: passamos a ser uma Câmara que paga. Hoje, pagamos a 10 dias. A Câmara de Valongo era dada como um mau exemplo. A Câmara nunca pagou a 10 dias aos seus fornecedores. Com isso conseguimos credibilidade. Passámos a ser um dos concelhos com maior eficiência financeira. Não somos nós que o dizemos: é a OTOC, a Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, no seu Anuário, que é um documento respeitadíssimo. Nós demos um salto gigantesco no índice da transparência municipal, passámos para a ser o 13º a nível nacional e o primeiro no distrito do Porto. Quando me pergunta o que mudou? A principal mudança é que passamos a jogar no campeonato dos primeiros, o que é uma coisa nova numa terra habituada a jogar a liga dos últimos. Mas há mais: há 50 anos que se fala nas serras do Porto. Finalmente conseguimos dar as mãos a Paredes e a Gondomar e, com a área metropolitana, assinámos um acordo, já foi votado, vamos avançar agora para a criação concreta do Parque das Serras do Porto. Isto é um feito notável!

 

O que é que lhe faz falta para cumprir as suas promessas eleitorais?    

Faz-me falta dinheiro. No entanto, já cumprimos cerca de 80 por cento dos nossos compromissos eleitorais. O que nos falta fazer está dependente dos fundos comunitários ou da capacidade financeira do Município. E o Município tem um constrangimento terrível que é o PAEL. No entanto, há coisas que não estavam nas nossas promessas eleitorais e serão uma realidade.

 

Como por exemplo?

A modernização administrativa. Em 2016 o Concelho comemora 180 anos. É altura ideal para passar a ser a Câmara a ir ter com as pessoas em vez de serem as pessoas a vir à Câmara. Os serviços municipais irão ficar mais próximos da população. Vamos abrir cinco Espaços do Cidadão, um em cada freguesia, e uma Loja do Cidadão em Ermesinde. Com a inclusão da área do urbanismo, todos os serviços municipais passarão a estar 100 por cento on line.

 

A Oficina da Regueifa, do Pão e do Biscoito,  assim como a Oficina do Brinquedo Tradicional Português são duas das suas promessas. Quando pensa concretizar?

Nós estamos a fazer o nosso trabalho de casa. Os projectos de arquitectura já estão concluídos. Já contratamos os projectos das especialidades e da avaliação do impacto económico-financeiro. Faltam abrir possibilidades de financiamento comunitário. Estamos a falar de intervenções de vários milhões de euros.

 

E se não for possível?

Eu acredito que os fundos comunitários existem para ajudar as comunidades a ganhar competitividade e a resolver problemas. Portanto, acredito que os fundos comunitários nos darão a oportunidade de podermos dinamizar investimentos que são estruturantes, que dão mais competitividade às cidades, que dão mais competitividade aos territórios, que nos ajudam a combater a falta de emprego e, portanto, estes investimentos têm, exactamente esses objectivos.

 

Falou várias vezes na necessidade de requalificar ruas e passeios. Quando é que vai começar essa requalificação?

Nós temos vindo a fazer essas intervenções. Por exemplo, fizemos uma intervenção que era esperada há mais de 20 anos na Zona Industrial de Campo, a Rua da Fervença, foi um investimento importantíssimo para ajudar o esforço das empresas ali instaladas. Fizemos, há bem pouco tempo, uma intervenção muito importante na estrada de ligação de Alfena a Valongo, onde investimos quase 200 mil euros. Fizemos uma intervenção, logo no início do mandato, em Sobrado, no Largo do Passal, corrigindo um problema muito antigo. Temos vindo a fazer várias intervenções em Ermesinde, na zona de Sonhos, e temos feito várias intervenções em passeios, sobretudo nas partes mais densamente povoadas, aqui em Valongo, em Ermesinde, agora na Quinta da Lousa, em Valongo também.

 

E isso é suficiente para resolver esse tipo de problemas em todo o concelho?

Não, não é. Mas umas das nossas marcas é que assumimos os problemas. Para resolver tudo de uma vez necessitamos de cerca de 10 milhões de euros. No entanto, a Câmara não tem esse dinheiro. Por isso, estamos a fazer um investimento anual de cerca de 700 mil euros, que é o possível.

 

“Governar com a camisa-de-forças do PAEL é horrível”

 

Como é que é governar com o PAEL?

É muito difícil! Governar com o PAEL é horrível! Porque é uma camisa-de-forças que foi colocada por quem cá esteve antes e que governou mal os dinheiros públicos. Com todo o respeito que tenho pelo passado, e acho que no passado fizeram-se coisas positivas, mas também muitas coisas negativas. O que é um facto incontornável é que, em 2012, fomos colocados dentro de uma camisa-de-forças que se chama PAEL. Tínhamos mais de 20 milhões para pagar a fornecedores. Por isso, estamos muito limitados no investimento.

 

Isso impede-o de cumprir algumas das suas promessas eleitorais?

Muito dificilmente cumpriremos tudo. Estamos limitados quer ao nível da despesa em serviços, em aquisição de bens, ao nível da despesa com funcionários, mas também no investimento, o que é grave num concelho que é altamente carenciado em investimento físico. Por exemplo, à nossa volta todos os municípios já resolveram os seus investimentos desportivos e nós aqui ainda andamos a discutir os sintéticos. Para fazer investimentos é necessário dinheiro e nós estamos limitados a pouco mais de dois milhões por ano.

 

Os fundos comunitários não ajudam a resolver esse problema?

Não. O novo quadro comunitário não financia equipamentos desportivos. Mas também temos problemas ao nível das escolas. E aqui conseguimos forçar o Ministério da Educação a incluir a Escola Secundária de Valongo, para além da Escola Secundária de Ermesinde, no plano de requalificação nacional. Também na área da saúde conseguimos que o Governo continuasse a manter esse compromisso e está já em mapeamento os centros de saúde de Alfena e de Campo.

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“Herdámos mais de 120 processos em Tribunal contra a Câmara”

 

Prometeu reabrir as duas piscinas que o anterior executivo encerrou. Já sabe quando as vai reabrir?

Comprometi-me a reabrir uma das piscinas. No entanto, nós necessitamos de perceber exactamente quanto custa reabrir uma das piscinas. Porquê? Porque o anterior executivo quando converteu as piscinas em pavilhões, numa intervenção que custou mais de 200 mil euros, acabaram com as infra-estruturas existentes, ou seja, hoje, não é possível destapar e voltar a ter piscina.

 

É necessário fazer uma nova?

Elas foram aterradas, é preciso fazer novas infra-estruturas, mesmo dentro do próprio espaço, o que tornou tudo muito caro. Estamos a avaliar todas as opções para podermos dialogar com a comunidade. Mas o nosso compromisso foi com a reabertura de uma das piscinas.

 

E vai conseguir?

Sou uma pessoa que gosta de cumprir compromissos, mas tenho que o fazer com responsabilidade. Tenho que ver quanto é que isto custa, qual é a opção mais viável e se é comportável pelo orçamento Municipal.

 

A oposição afirma que a diminuição do passivo municipal se deveu ao PAEL e não à sua gestão. Isto é verdade?

O PAEL foi criado para pagar as dívidas a fornecedores. E portanto, por si só, é um instrumento de redução da dívida. Mas a Câmara de Valongo não tem só essa dívida. A Câmara de Valongo tem uma dívida pesadíssima! Nós ainda estamos a pagar muitas dívidas anteriores. Estamos a pagar uma dívida à EDP, a pagar ainda parte de todo o empreendimento social que foi construído, estamos a pagar ainda as obras no Museu Municipal de Valongo. Temos um stock de dívida financeira muito elevado. Portanto, o PAEL ajuda-nos a diminuir parte desse passivo, mas também é importante perceber o seguinte: nós conseguimos, logo no primeiro ano, ir além do PAEL. Tivemos margem e pudemos ir. Só no primeiro ano de exercício abatemos 6 milhões de euros.

 

E este ano conta voltar a reduzir a dívida?

Claro! Contamos reduzir entre três a quatro milhões de euros. Mas é importante dizer o seguinte: nós quando cá entrámos, encontrámos gavetas vazias, sem dinheiro, mas encontrámos 700 mil euros de juros de mora, de quem ninguém falava. E nós abatemos esses 700 mil euros. Foi por isso que nós conseguimos reduzir brutalmente os prazos médios de pagamento. Isso não estava previsto no PAEL! O PAEL veio ajudar-nos a pagar aos fornecedores, mas o PAEL não é um piloto automático. O PAEL é um espartilho onde fomos metidos, sem termos nenhuma responsabilidade.

 

É público que herdou um conjunto de processos judiciais. Caso a Câmara venha a ser condenada, vai ter dinheiro para pagar esses processos?

Não. Nós já conseguimos resolver alguns processos amigavelmente, como o caso das refeições escolares, que representava um risco superior a 500 mil euros. Nós herdámos mais de 120 processos em Tribunal contra a Câmara. Neste momento, serão há volta de 70 e poucos, mas representam um risco de cerca de 13 milhões e tal, que é uma dívida escondida. E, se formos condenados, nos casos mais problemáticos, aí teremos um problema assustador para o Concelho de Valongo.

 

“O PSD/Valongo demarca-se de tudo o que de mau deixou e reclama as conquistas deste executivo”

 

O que é mudou, em Valongo, com o novo PDM?

Muita coisa. Com o novo PDM passámos a ter mais credibilidade e mais confiança. Acabou-se com a especulação imobiliária. Somos mais atractivos, com isso, atraímos mais investimento, mais emprego, portanto, e isto é fundamental, para um concelho que quer afirmar-se.

 

Falava do índice da transparência, mas a oposição continua a queixar-se que não recebe resposta aos requerimentos que apresenta.

Isso não é verdade. Todas as perguntas, todas as questões são respondidas. Nós não temos mesmo nada a esconder. Aliás, basta uma visita ao nosso site para perceber como é diferente em relação a todos os outros. Está lá tudo, todos os documentos estão disponíveis, não só para os eleitos das outras forças políticas mas para todos os cidadãos. Eu acredito nas pessoas e acreditar nas pessoas é dar-lhes informação. Para além de toda a informação disponível, nós respondemos a todas as questões, não há nenhum requerimento em atraso, não temos nada a esconder. O que a oposição não diz é que, para além de toda a informação que disponibilizamos on-line, temos o projecto Comunidade Mais Esclarecida, Comunidade Mais Participativa. Não conheço nenhum município que todos os anos vá um dia por semana a uma freguesia prestar as contas todas às pessoas, que tenha no seu site a informação de tudo, do custo de tudo o que fazemos neste município. Há uma diferença com o passado: é que eu comporto-me como um inquilino e nunca como o proprietário da Câmara.

 

Já disse que o investimento da Jerónimo Martins é um assunto tratado por si. No entanto, a oposição acusa-o de não ter mais nada nada para mostrar.

Isso não é verdade. O PSD Valongo tem, de facto, uma capacidade curiosa de se demarcar de tudo o que deixou de mau, e deixou muita coisa de mau, como é o caso do PAEL, a situação financeira do município, mas ao mesmo tempo reclama aquilo que têm sido as conquistas do actual executivo. Bom, eu não comento essa estratégia eleitoral. Como lhe disse, o que conta para mim é a afirmação do dono da obra. O dono da obra, o que diz, com muita clareza, é que veio para Valongo e deve-o a este executivo. Isso é que conta.

 

O investimento da Jerónimo Martins já terá efeitos na economia até ao fim do seu mandato?

Já está a ter, já está a ter. Neste momento, já se desenvolve um trabalho com centenas de pessoas e que tem um impacto na economia local. Mas quando estiver concluído será ainda maior, pois trata-se de mais de 300 novos postos de trabalho. Mas o ganho para o Município com este investimento vai para além disso.

 

Que outros ganhos terá o Município?

Por exemplo, a Jerónimo Martins foi muito sensível a um pedido que lhe fiz: a requalificação de toda a estrada entre Alfena, a Codiceira, o cruzamento da Codiceira e a entrada em Sobrado. Todo esse percurso será requalificado quando só estava prevista a requalificação da estrada entre o Centro de Distribuição Logístico e Sobrado. Isto é um ganho brutal para o Concelho. Há também as receitas para o Município em termos de taxas. Por causa da visibilidade que este investimento, posso-lhe dizer que já há já empresas interessadas na plataforma de cima. Investimento atrai investimento. Estamos a contar apresentar, já em Janeiro, uma proposta muito ambiciosa para o novo regulamento de taxas, que prevê uma redução de cerca de 50 por cento do valor das taxas para novas empresas e edificações familiares. Isso ajudará o nosso concelho a tornar-se ainda mais atractivo.

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“O Campo dos Sonhos é um problema herdado e em fase de resolução”

 

Vai conseguir resolver o problema do Campo dos Sonhos? Ou o Ermesinde vai ficar sem o equipamento desportivo?

Repare, o problema do Campo dos Sonhos é mais um exemplo de um problema herdado do mandato anterior. Acreditamos que está em fase de resolução.

 

Será resolvido como?

Quando pegámos neste dossiê não havia nenhum protocolo assinado. Havia um protocolo que foi colocado e que mereceu, na altura, a concordância dos eleitos do PS. Ou seja, encontrámos um protocolo que não estava assinado. Nós fizemos uma proposta alternativa, não abdicando dos Montes da Costa. Porque, numa cidade que já não tem equipamentos desportivos, entregar os Montes da Costa seria um erro. Para além disso, os Montes da Costa foram expropriados, existindo um ónus que impede que aquilo seja convertido em construção. Entendemos que não fazia sentido abdicar daquele espaço, que necessita de intervenção, mas temos que o manter no domínio pública. E por isso fizemos uma proposta alternativa.

 

Mas o actual proprietário não aceitou.

O actual proprietário do Campo de Sonhos não quis dialogar em torno de uma proposta que incluía terrenos e uma contrapartida financeira. Assim, Percebemos que não havia outro caminho a não ser avançar pela via da expropriação.

 

A expropriação vai acontecer?

Estamos a aguardar a declaração de utilidade pública. Nós só tomamos esta decisão porque nunca podemos hesitar quando está em causa o interesse público. E aqui estava em causa o interesse público.

 

Mas o anterior presidente garante que tinha o problema resolvido com o proprietário do estádio.

Não é verdade. Não tinha. O protocolo nem sequer estava assinado.

 

João Paulo Baltazar afirmou que havia um acordo para o proprietário ficar com os terrenos do Monte da Costa.

Não era possível. Essa troca de terrenos não era possível. Porque parte dos Montes da Costa foram objecto duma expropriação. Havia um ónus. Quando se expropria para fins públicos não se pode alienar para fins privados. Portanto, era um acordo impossível. Na altura, a oposição não tinha capacidade de perceber o problema porque não tinha acesso à informação toda.

 

Qual será o valor da expropriação?

Durante este processo percebemos que o Campo de Sonhos tem um valor muito menor que aquele que tinha sido atribuído. Estima-se que o valor ande na casa dos 300 e poucos mil euros.

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“Tratar de forma igual desagrada a quem até agora era tratado de forma privilegiada”

 

Como é que responde às críticas do PSD que afirma que o senhor está a criar uma grande desunião e luta entre as associações do concelho? 

Isso não faz qualquer sentido. Nós dialogamos de forma aberta e estamos sempre próximos de todas as associações. Todas! O que pode acontecer é que, como tratamos todos de forma igual, isso possa desagradar a quem até agora era tratado de forma previlegiada. Aqui tratamos todos da mesma forma, com equidade. Hoje há uma estratégia de tratar todos por igual e de todos fazerem parte da promoção do concelho.

 

Para si, até agora as associações não eram tratadas de forma desigual?

Sem dúvida. Durante vários anos o concelho nunca soube promover-se, nem a si, nem às suas gentes, nem às suas associações, nem ao seu património. Hoje, toda a gente sabe onde é que fica Valongo, o que é Valongo, o que tem para ser visitado. Foi esta a estratégia que nós adoptámos desde há dois anos. Por exemplo, a promoção em torno das primeiras serras do Porto tem trazido resultados. Não somos nós que o reconhecemos, é, por exemplo a revista Runner’s World Coach, que é uma revista de referência, que diz que os Trilhos do Paleozoico são uma prova imprescindível. Portanto, já estamos a cumprir um dos compromissos que é sermos o primeiro destino metropolitano, que é único no Porto, que tem essa distinção – primeiro destino metropolitano para trail running. Depois, toda a estratégia em torno do brinquedo tradicional português. Fizemos este ano uma iniciativa, a Festa do Brinquedo, que foi um sucesso tremendo que está a gerar uma enorme notoriedade para o Concelho.

 

Por falar em festas, a oposição acusa-o de ser um executivo sempre em festa.

Isso é demagogia de quem não percebe, ou não quer perceber, o que estamos a fazer. Ou se percebe, não está confortável com o sucesso e isso é um problema que não me diz respeito, ou então, se não percebe é um problema que não é meu. Nós o que fazemos são iniciativas de promoção daquilo que são as nossas marcas. Nós temos aqui um potencial enorme em torno do pão, da regueifa e do biscoito, temos um eixo antigo. Hoje temos um roteiro, criado por nós, das antigas biscoitarias e padarias que é único no país. Então, e não vamos promover o que é nosso?

 

Ou seja, essas festas fazem parte da promoção da marca Valongo?

Obviamente! Somos o único concelho do país que ainda tem um núcleo de quatro ou cinco oficinas que fazem o brinquedo tradicional. Então, não vamos promover isso? Quando metade da colecção do Museu do Brinquedo de Ponte de Lima é de Valongo? Não vamos dinamizar e dar a conhecer o potencial que temos cá? Bom, mas compreendo que isso não agrade a todos.

 

Qual o foi o custo da Expoval para o Município?

O peso financeiro que teve vai ser conhecido no relatório a publicar dentro de poucos dias. No entanto, há dois anos a Câmara teve que comportar mais de 50 por cento dos custos da Expoval. Este ano, o peso financeiro para o Município andará na casa dos oito por cento.

 

Ou seja, acredita que houve uma redução nos custos para o Município de 50 para oito por cento.

Sim, mas em termos de custos reduzimos drasticamente, em termos de visitantes batemos recordes. Tivemos mais área expositiva, mais 1000 metros quadrados, muitos mais visitantes e fizemos uma promoção daquilo que são as marcas do território: a exposição das serras, que nunca foi feito, foi um sucesso; e demonstração ao vivo de fazer pão, de fazer brinquedos e de trabalhar a ardósia. Isto nunca foi feito. A Expoval mostra que é possível fazer muito mais gastando muito menos.

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“A auditoria financeira será conhecida em breve”

 

Quando tomou posse anunciou uma auditoria financeira. Já não a vai fazer?

A auditoria está a ser feita.

 

Mas já passaram dois anos.

Sim, sim. E os resultados serão tornados públicos quando estiver concluída.

 

Quando é que estará concluída?

Estamos a aguardar o relatório. Aliás, o relatório deve estar próximo, porque há um prazo para ser concluído. A auditoria foi contratada, está em curso e a empresa que a está a fazer é uma empresa de reconhecido nome no mercado. E portanto, mal seja conhecida será tornada pública.

 

Prometeu reduzir as chefias municiais e fazer poupanças na gestão de pessoal. No entanto, o PSD acusa-o de gastar mais.

Eu prometi e cumpri. Nós agora temos apenas oito divisões, reduzimos em 50 por cento os quatro directores e 12 chefes de divisão que havia para oito chefes de divisão. No entanto, eu reconheço que a estrutura de comando que temos hoje é muito exigente, que necessita de ser afinada, mas mantendo as oito divisões.

 

O PSD diz que o Gabinete da Presidência passou a gastar 1,5 milhões de euros. Isso não é aumentar a despesa?

Era se isso fosse verdade. Mas não é verdade! O meu gabinete de apoio é constituído por três pessoas nomeadas de acordo com a legislação em vigor. As acusações que o PSD me faz são demagogia barata. E sabe porquê? Nós, nesta Câmara, temos cerca de 600 funcionários. Gastamos com os 600 funcionários 12 milhões de euros. Como é que 3 pessoas num gabinete podem gastar um milhão e meio de euros? Até lhe digo mais, como gosto da transparência, o gabinete de apoio ao presidente, que está previsto na lei, custa 114.760 euros por ano, incluindo subsídios de férias, Natal e de refeição, e são os salários que estão definidos na lei. Portanto, eu acho que estas acusações não têm qualquer fundamento, isto é demagogia barata! Não vou por aí.

 

Como é governar sem maioria absoluta e dependente da oposição?

É muito difícil! E muitas vezes é frustrante. Mas há aqui uma coisa importante: não tendo maioria também fico numa posição confortável.

 

Porquê?

Pois a oposição é co-responsável por todas as decisões tomadas. Sabe porquê? Porque eu levo tudo à reunião de Câmara: quer seja apoio financeiro, quer seja apoio não financeiro, vai tudo à Câmara, e portanto são co-responsáveis. Claro que se tivesse maioria era possível fazer ainda muito mais. Eu gosto de fazer coisas! Eu amo muito esta terra! Foi aqui que eu cresci. Eu sou daqui. Esta é a minha terra. A maioria dá-nos outras condições. O problema são as motivações de quem tem mandatos para governar. O que me chateia é quando a luta política se sobrepõe aos interesses dos cidadãos.

 

Acredita que as posições do PSD têm em conta do interesse partidário em vez do interesse dos cidadãos?

Às vezes. Eu faço por me dar bem com toda a gente, respeito todas as forças políticas mas, o que acontece aqui neste concelho é que há uma preocupação, muitas vezes, do PSD e da CDU, numa, numa estranha aliança, que se preocupa em retirar-nos receitas e aumentar a despesa. Quer dizer, dão a sensação de estarem mais preocupados com o ano eleitoral de 2017 do que com as finanças da Câmara Municipal. O estranho de tudo isto é que o PSD conhece bem o estado em que deixou ficar as contas do Município. Respondendo à sua pergunta: governar em minoria é difícil, mas são as condições que tenho e é com elas que continuarei a governar o Concelho.

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“Em 2017 serei candidato e vou pedir à população melhores condições para governar”

 

Mantém a mesma motivação que o levou a candidatar-se em 2013?

Total! Total! A motivação é a mesma. Eu estou empenhado, e vou conseguir, que Valongo seja visto como um concelho de referência em vários níveis: ao nível da governança, da transparência, ao nível social (aumentámos para três as plataformas solidárias), desportivo, ao nível ambiental, com o Parque das Serras do Porto, a nível económico, a nível turístico.

 

E essa motivação vai levá-lo a ser candidato em 2017?

Claro! Obviamente! Vou-me candidatar e vou pedir à população que me dê melhores condições para governar!

 

Essas condições que fala é a maioria absoluta?

São as condições necessárias para poder fazer como que o concelho dê um salto ainda maior. Este concelho precisa de perceber rapidamente que tem que ter uma estratégia para captar visitantes. Por isso é que estamos nesta linha da promoção do território com as seis logomarcas e também com os equipamentos que precisamos. Nós temos mais de sete milhões de passageiros no Porto, mais de um milhão e 300 mil dormidas e temos que ter a arte e o engenho e conseguir que muitas delas venham a Valongo. Ter a arte e o engenho que faltou durante anos.

 

O que está a tentar dizer é que a falta da maioria absoluta impede-o de pôr alguns projectos em curso.

Claro! Obviamente, obviamente! Uma grande parte do meu tempo passo-o em reuniões de Câmara. Eu tenho reuniões de Câmara todas as semanas. Ou seja, 40 por cento do meu tempo é a preparar e a participar em reuniões de Câmara. Não é possível! Em dois anos já fiz o mesmo número de reuniões de Câmara que os meus colegas presidentes de câmara vão fazer em quatro anos! Mas eu respeito isso. Eu sou plural e democrata. Eu fui a primeira Câmara a dar espaço de opinião á oposição no Boletim Municipal.