Cerca de 100 trabalhadores da Sousacamp, empresa dedicada à produção de cogumelos instalada na Madalena, em Paredes, desde 2008, receberam propostas de rescisão amigável, no âmbito do processo de insolvência em curso há mais de um ano e que teve desenvolvimentos nos últimos meses.
No final do ano passado, veio a público que uma gestora de capital de risco iria adquirir a Varandas de Sousa, a principal empresa do Grupo Sousacamp, que tem 450 trabalhadores. Haveria ainda um perdão de dívida de dois terços de uma dívida de 60 milhões de euros, avançou o Jornal de Negócios. Mas o administrador de insolvência adiantou ao mesmo jornal que haverá dispensa de trabalhadores na unidade de Paredes. A produção será concentrada nas fábricas de Vila Flor e Vila Real, encerrando-se os setores de colheita e produção em Paredes, mantendo-se as áreas de embalamento e expedição do grupo.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da agricultura e das indústrias de alimentação, bebidas e tabacos de Portugal (SINTAB), os trabalhadores não vão aceitar as rescisões amigáveis propostas. “Contestamos esta dispensa de trabalhadores. São eles que estão a financiar o seu despedimento”, diz José Eduardo Andrade, aludindo ao perdão de dívida de cerca de 40 milhões de euros. “As propostas de rescisão têm sido apresentadas de forma autoritária”, continua o dirigente sindical, explicando que “o que propõem aos trabalhadores é, na maioria dos casos, menos do que aquilo a que teriam direito em caso de despedimento”.
“A informação que temos é que os trabalhadores não vão aceitar estas rescisões amigáveis. O perdão da dívida devia garantir a totalidade dos postos de trabalho”, defende José Eduardo Andrade, mantendo a posição do Sindicato plasmada numa carta enviada a seis entidades envolvidas no processo de insolvência onde se lia: “durante todo o processo de insolvência, fomos alertando para a necessidade de que as soluções que viessem a ser apresentadas para recuperação das empresas do Grupo, assentassem fundamentalmente em dois pilares: a garantia de manutenção de todos os postos de trabalho e a continuidade da propriedade da empresa em mãos nacionais”.
O SINTAB diz que cerca de 100 dos cerca de 140 trabalhadores da fábrica de Paredes receberam a proposta de rescisão amigável.
A unidade na Madalena já vinha a ser “descapitalizada” com a retirada de máquinas e equipamento e pelo facto de há um mês não ter composto para produção de cogumelos. “Na unidade da Varandas de Sousa na Madalena estão a proceder à transferência de imobilizado para outros locais, nomeadamente máquinas de processamento de composto, veículos de transporte e elevação de cargas, caldeira, porta paletes manuais, escadotes, computadores, e demais instrumentos auxiliares de colheita. Esta constatação preocupa os trabalhadores e leva-os à dúvida, legítima, sobre a verdadeira intenção de manutenção destes postos de trabalho por parte daqueles que se afiguram como novos proprietários do grupo e futuros patrões”, escrevia o sindicato na semana passada.
Esta quarta-feira há um plenário com os trabalhadores para tomar decisões “perante a ofensiva continuada da administração da Sousacamp no sentido da dispensa de trabalhadores”. Em cima da mesa está uma possível greve no dia 30, em que se realiza a assembleia de credores que deverá aprovar o plano de recuperação da maior produtora portuguesa de cogumelos portuguesa.