Desmistificar a ideia de que as indústrias são uma coisa “suja, dura e pesada”, mas antes empresas “com tecnologias de ponta”, “boas condições” e, muitas vezes, salários “acima da média”, e atrair jovens para sectores onde escasseia a mão-de-obra no concelho é o grande objectivo do projecto -piloto “A Vida à Porta”, desenvolvido pela Câmara Municipal, pela ASEP – Associação de Empresas de Paredes e pelos agrupamentos de escolas.

Para aproximar os alunos de Paredes do mercado de trabalho e percebam as escolhas que podem fazer, estão a ser promovidas visitas a empresas do concelho.

Desta vez, um grupo de 60 alunos do ensino secundário de cursos profissionais da Escola Básica e Secundária de Lordelo, foram visitas a Inovocorte, uma metalomecânica na zona industrial de Lordelo, que emprega 84 pessoas, mas podia empregar muitas mais.

“Todos [os empresários] têm esse problema que é a falta de mão-de-obra e, sobretudo, de mão-de-obra qualificada. Hoje em dia, os jovens não querem trabalhar neste tipo de trabalho, pensam que é um trabalho sujo, duro, pesado. Nada disso é verdade porque as empresas, seja de serralharia, seja de móveis, estofos, o que for, têm condições, têm máquinas, há equipamentos para fazer quase tudo. Isto são profissões de futuro”, explica José Machado, dono da empresa.

“É pena que os jovens não queiram continuar estas artes. Mas eu acho que a tendência vai mudas, em breve”, atesta. Até lá, reconhece que tem sido muito difícil recrutar trabalhadores.

“Neste momento temos à volta de 84 pessoas, mas se tivesse 200 pessoas teria trabalho para elas”, dá como exemplo o empresário que, de forma indirecta, exporta 95% da produção e que, em 2021, facturou mais de seis milhões de euros.

Empresário José Machado

É preciso desfazer estereótipos e preconceitos

Esta foi a segunda visita a uma empresa realizada através deste projecto que alerta os estudantes “para a falta de mão-de-obra no concelho e para a necessidade de as indústrias terem profissionais qualificados, em diferentes áreas”.

A Câmara e a associação empresarial, assim como as escolas, entendem que é importante que os jovens conheçam mais de perto o tecido empresarial e a realidade das actuais condições laborais das fábricas e aquilo que têm para oferecer, podendo fazer escolhas profissionais mais informadas e escolher “aprender uma arte”.  

O objectivo é que esta medida consiga dar resposta à escassez de trabalhadores sentida em vários sectores, desde logo nas empresas de mobiliário e metalomecânicas.

“O que queremos é aproximar os alunos das empresas e que conheçam as condições que elas têm para oferecer. Queremos que se identifiquem com alguma arte e alguma profissão e se comecem a interessar pelo mercado de trabalho, porque as indústrias precisam, e muito, de mão-de-obra”, descreve Silvestre Carneiro, presidente da ASEP. “Estas visitas servem para conhecerem as condições das empresas. Nas empresas de mobiliário já não se vê pó, nesta metalúrgica também não. As empresas estão a apetrechar-se com tecnologias de ponta e têm boas condições”, realça.

“Este projecto pretende mostrar aos jovens as possibilidades que têm, é preciso desfazer estereótipos e preconceitos. Quando pensamos numa indústria ainda a associamos a condições de trabalho que hoje já não se verificam”, frisa também Albino Pereira, director do Agrupamento de Escolas de Vilela, aquele que em Paredes disponibiliza mais cursos profissionais aos alunos.

Os jovens, explica, precisam de saber que “podem fazer escolhas à porta de casa”. “Não precisam de ir só trabalhar para a restauração ou ir para uma loja num centro comercial, poderão fazer carreiras noutras opções, nomeadamente na indústria. E não são opções só para quem não quer estudar além do 12.º ano, também para quem quer estudar há aqui mercado de trabalho”, sustenta.  

A luta pela mão-de-obra

“É muito importante aproveitar a mão-de-obra que temos no concelho. Para isso, temos que desmistificar algumas ideias que os alunos tinham”, acredita o presidente da Câmara Municipal de Paredes.

“Temos de mostrar que, hoje em dia, trabalhar numa indústria não tem nada a ver com aquilo que era há 20 anos. São trabalhos com um grau de especialização crescente, condições salariais acima da média e boas condições. Queremos que percebam que as indústrias de Paredes têm tecnologia de ponta”, esclareceu Alexandre Almeida, atestando que o crescimento das empresas tem feito crescer o problema da mão-de-obra. Além disso, referiu, cada vez que são fixadas novas empresas no concelho, as que já existem encaram isso como um “problema” ou mesmo ameaça por virem “roubar” a mão-de-obra.

Os alunos, do 10.º, 11.º e 12.º ano do curso profissional de Comércio assistiram a uma sessão sobre o funcionamento da empresa e ouviram dizer que “Não precisamos todos de ter ‘canudo’, temos é de aprender todos os dias”. De seguida visitaram quer as zonas de produção quer a de planeamento.

Rayane Oliveira, de 19 anos, aluna do 11.º ano gostou do que viu. “Quero seguir um curso superior para me dedicar à gestão de empresas. Gostei daqui e não me importava de vir para a área administrativa”, assumiu, acrescentando que gostava de trabalhar no concelho, para estar “mais perto de casa”.

Cristiano Neto, de 18 anos, está no 12.º e tem algumas certezas quanto ao futuro. “Quero trabalhar na fábrica de mobiliário do meu pai. Sempre tive essa ideia de continuar o negócio da família”, conta. Ele conhece bem a dificuldade de atrair pessoas para essa indústria. “O meu pai se quiser funcionários neste momento não consegue arranjar. As pessoas da minha idade não querem ir para o pó”, mesmo que a empresa esteja a apostar tanto em tecnologia, assume.

Mais indecisa está Inês Bastos, de 17 anos. A aluna do 12.º ano diz que pretende fazer mais formação, quando acabar o actual curso, mas ainda não sabe em que área. “Gostei de ver como a empresa funciona, acho que todas as empresas deviam funcionar assim, com todos a serem tratados como iguais”, disse, mostrando-se surpreendida com a realidade que encontrou. “Isto é bom para percebermos as oportunidades. Mas não vejo o meu futuro na indústria. Gostava mais de fazer uma loja minha ou algo assim”, reconhece a jovem.