Apenas 2.218 pais/encarregados de educação, cerca de 13,75% dos responsáveis por alunos no concelho de Paredes, participaram nas sessões de capacitação familiar e parentalidade positiva integradas na medida “Pais Acima da Média” do programa Paredes Educa Mais, que visa promover o sucesso escolar e combater o abandono escolar precoce.
As acções visavam dar ferramentas aos pais para ajudar os filhos a serem melhores alunos.
Na apresentação dos resultados sobre o primeiro ano de execução do projecto, durante a sessão de abertura do ano lectivo, em Baltar, tanto o presidente da Câmara como o vereador da Educação assumiram que, apesar dos resultados positivos, esse foi o dado mais negativo do projecto até agora.
“Há aspectos a melhorar, sobretudo ao nível da participação dos pais. Essa tem sido a principal dificuldade. Fazer com que os pais entendam que não é só depositar os filhos nas escolas e deixar tudo ao encargo dos professores e auxiliares. Têm de entender que também têm aí um papel importante a desempenhar”, defendeu o presidente da autarquia, Alexandre Almeida.
Na prestação de contas do que foi feito, Paulo Silva frisou a mesma ideia. “A parte mais difícil deste projecto foi chegar junto das famílias. Nem sempre é fácil mobilizar os pais para estas iniciativas”, referiu. “Íamos fazer uma sessão por agrupamento, mas fomos além do previsto e tentamos fazer em todas as escolas, para que as pessoas não tivessem de se deslocar muito e estivéssemos mais próximos”, adiantou o autarca. Ainda assim, a taxa de participação ficou aquém do esperado. Participaram 2.218 pais/encarregados de educação, cerca de 13,75% dos existentes. A maioria eram pais de alunos do 1.º ciclo – 1869 -, sendo os restantes encarregados de educação ou pais de alunos do 2.º e 3.º ciclos. “Pensávamos ter uma média de participação de 20% dos pais”, admitiu Paulo Silva.
“A maior parte dos pais sempre teve uma expectativa muito baixa em relação às potencialidades da escola. Esse paradigma tem de ser mudado”
O objectivo é melhorar essa participação neste segundo ano de projecto, com a ajuda dos professores e associações de pais. “Queremos neste ano lectivo 2019/2020 ter um maior número de pessoas nas sessões para as famílias, até porque em todas as sessões fazemos um questionário e os pais vêm estas acções como positivas. Esperamos que esse feedback passe e que os pais que vieram este ano voltem e mobilizem outros”, disse o vereador da Educação.
“A maior parte dos pais sempre teve uma expectativa muito baixa em relação às potencialidades da escola. Esse paradigma tem de ser mudado. Se os pais valorizarem mais a escola os filhos também vêm para a escola com outra expectativa. Os pais têm de perceber que vale a pena vir à escola e têm de perceber como podem apoiar os filhos”, defendeu ainda Paulo Silva.
Recorde-se que o Paredes Educa Mais quer melhorar os índices de retenção do concelho, colocando-o na média da Área Metropolitana do Porto, nomeadamente no 2.º ano, em que a taxa de retenção e desistência do concelho é 3% acima da média da AMP, e no 7.º ano, em que os números são “mais preocupantes”, ficando 5% acima da média dos concelhos da AMP.
Ao longo de dois anos lectivos, o projecto vai envolver 4.626 alunos. Além de várias acções globais, com o apoio de mediadores, estão previstas intervenções mais focalizadas, com apoio de técnicos especializados.
O objectivo é que haja uma redução em 25% das taxas de retenção e desistência do 2.º ano (tendo como referência o ano lectivo 2014/2015 em que esta taxa era de 10,5%); uma redução em 25% das taxas de retenção e desistência do 7.ª ano (tendo como referência o ano lectivo 2014/2015 em que esta taxa era de 20,2%); e uma redução de 10 % da taxa de alunos no 7.º ano com níveis negativos.
Pais com falta de tempo para acompanharem os filhos
Representantes de associações de pais do concelho reconhecem que muitos pais não participam e estão mesmo afastados da escola, muitas vezes por falta de tempo.
“A presença dos pais na escola tem de ser mais incentivada. Há muitos pais a quem este género de projectos passa muito despercebido. O afastamento dos pais das escolas afecta todos os estabelecimentos de ensino”, assume Ângelo Neto, da direcção da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Básica de Paredes.
“Há vários problemas que fazem com que alguns pais não se aproximem da escola. Os pais que aparecem são pais com filhos com sucesso e com mais formação. Temos de ter a capacidade de atrair novos. Mas há pais que não vão por terem dois empregos, por estarem com horários sobrecarregados e terem muita dificuldade de se deslocar à escola”, elenca. Outros, reconhece também, “será por desacreditarem da escola”, sobretudo os que têm menos qualificações. “É necessário chamar esses pais à escola e ter um discurso mais fácil. Às vezes usa-se linguagem que os pais não percebem”, refere.
Também João Loureiro, da direcção da Associação de Pais da EB n.º1 de Lordelo, não acredita que a falta de participação seja por desinteresse. “Dadas as condições de trabalho e as preocupações diárias, os pais, por vezes, descuidam-se um bocadinho e não têm tanto tempo para se dedicar à vida escolar dos filhos”, adianta. Mas salienta que ainda assim “grande parte dos pais estão atentos e procuram estar presentes”.
“Este projecto é importante. Noto que há uma nova geração de pais, mais jovens, com formação que estão por dentro da vida escolar dos filhos e têm mais tempo para participar das actividades e em formações”, acrescenta João Loureiro, frisando que a informação sobre as sessões não terá chegado a muitos encarregados de educação. “Muitos pais não souberam, outros não terão vindo por falta de tempo”, conclui.