“Não estamos sós na tempestade”. A música é de Pedro Abrunhosa e pode ouvir-se quando se liga para a ARC – Indústria de Mobiliário, uma empresa de Rebordosa, em Paredes, que oferece mobiliário às famílias cujas casas de primeira habitação ficaram destruídas nos incêndios que lavram deste domingo em Portugal. Os fogos têm tido especial incidência nas regiões norte e centro e já causaram sete mortes e, pelo menos, 123 feridos. Também dezenas de casas foram atingidas pelas chamas.
E a letra desta música não podia ser mais adequada, tendo em conta que quem perdeu tudo, ou quase tudo, pode contar com a solidariedade da ARC, que está a tentar semear sonhos pelas trevas.
Inês Rocha é filha de Armando Rocha, proprietário desta empresa, e neta do fundador António da Rocha Carneiro. A também administradora da unidade contou ao VERDADEIRO OLHAR que, no início, a ARC laborava num espaço muito pequeno, por baixo de casa do avô paterno. Há 38 anos, um incêndio também destruiu por completo aquela pequena fábrica familiar. Na altura, a família Rocha teve que deitar mãos à obra e “começar tudo do zero”. Apesar da tragédia, conseguiram “salvar os animais” e, aos poucos, reergueram-se.
Hoje, e anos depois, Armando Rocha, pai de Inês, não esquece o sucedido e a verdade é que “sempre se tem mostrado disponível para ajudar os bombeiros”, porque estas situações “o sensibilizam”. Esta semana, e depois de ver as imagens e as notícias acerca desta tragédia que está a assolar o país, a família não hesitou e quis ajudar. Contactaram a corporação local, mas foi-lhes dito que já não precisavam de bens de primeira necessidade. Então, Armando Rocha lembrou-se de doar mobiliário, porque a ARC “tem muitos móveis em armazém, alguns protótipos e outros devolvidos”. Por isso, “resolvemos dar-lhes uma nova vida, junto de quem mais precisa”, contou Inês Rocha, ao VERDADEIRO OLHAR.
De imediato, colocou um post no Facebook e também no Instagram e, horas depois, as publicações tinham mais de 12 mil partilhas e muitas centenas de comentários. “Não esperávamos esta quantidade de mensagens e pedidos, não tínhamos a noção do impacto que esta campanha ia ter”.
Depois de recolherem todos as solicitações, Inês Rocha conta que vai organizá-las e “priorizar os casos mais urgentes”, sendo que se segue uma visita às famílias de forma a avaliar as necessidades. “Vamos ser nós a tratar de tudo e a encaminhar os donativos, para que todo este processo seja célere”, explicou.
Mas as ajudas, que devem ser pedidas para o 22 4119480, não se limitam a Paredes ou concelhos limítrofes, sendo que são extensíveis a todo o país. Hoje de manhã, por exemplo, receberam três pedidos de ajuda de Albergaria-a-Velha”, em Aveiro.
Com esta avalanche de pedidos, Inês Rocha diz estar muito feliz e que o pai até já disse que se for preciso estão dispostos a fazer mobiliário, porque o “importante é que a ajuda chegue a quem precisa”.
E a verdade é que a desgraça não é uma escolha e o importante é que todos tenhamos consciência de que “não estamos sós na tempestade”. A ARC é o melhor exemplo disso.
Fundador da ARC era apaixonado pelo fabrico de móveis e sonhou criar a sua própria fábrica. Conseguiu-o com o apoio incondicional da família
A empresa ARC foi fundada em 1971, em Rebordosa, no coração da “Rota dos Móveis”, pelo empreendedor António da Rocha Carneiro, pai e avô dos atuais administradores. “Conhecedor e apaixonado pelo fabrico de móveis”, um dia sonhou criar a sua própria fábrica, tendo concretizado o seu projeto “contando com o apoio incondicional da família”.
Conhecido pela sua deteminação e vontade de trabalhar, António da Rocha Carneiro venceu no negócio, que foi crescendo com o apoio dos filhos. Atualmente, a empresa é gerida pelo filho Armando Rocha e os netos Rui e Inês Rocha.
A ARC, que emprega 76 pessoas, é atualmente uma das empresas portuguesas produtoras e exportadoras de mobiliário. Tem uma unidade com cerca de 12 mil metros quadrados, onde estão aquartaladas a fábrica, o showroom e os escritórios e tornou-se numa “empresa moderna e competitiva, equipada com a mais alta tecnologia aplicada ao sector do mobiliário”.