A abóbora deste ano dos meninos e meninas do Centro Escolar de Duas Igrejas, em Paredes, será tudo menos ‘gigante’. Mas isso não faz com que tenham menos gosto em participar no IV Concurso e Feira de Hortícolas Gigantes de Paredes “O Maior da Minha Aldeia”. No ano passado, as abóboras produzidas ultrapassaram os 50 quilogramas e permitiram fazer doce para todos os alunos, professores e funcionários.
Já Fernando Dias e Inês Cruz, que entram no concurso há três anos, também não terão este ano a maior abóbora que já produziram, fruto das condições climatéricas. Ainda assim, contam, com orgulho, que quando uma abóbora começa a atingir grandes dimensões chega a crescer 10 quilogramas por dia, visíveis a olho nu.
Há 41participantes inscritos neste concurso que decorre entre 16 e 18 de Setembro na Aguiar de Sousa, no Parque da Senhora do Salto. Como é habitual, serão premiados as maiores abóboras, melancias e, também, os tomates e melões de maior dimensão. Em 2021, a maior abóbora a concurso tinha 699 quilogramas.
“Apesar de vivermos numa aldeia, ainda temos crianças que não sabem que os ovos vêm das galinhas”
Todos os dias, os meninos e meninas do Centro Escolar de Duas Igrejas, em Paredes, além de estudar, têm outra tarefa a cumprir: cuidar, primeiro das aboboreiras e depois das abóboras.
Era o que faziam a Leonor (10 anos), a Mafalda e a Margarida (de seis anos), entre as muitas crianças que frequentam a escola. “De manhã esperávamos pela professora aqui na entrada e íamos regar as abóboras e arrancar as ervas ou tirar rebentos”, explica Leonor Costa. “Gostei de participar, é interessante. Muita gente não sabe como se faz plantação. Eu já sabia porque ajudo a minha avó e ajudei a ensinar os colegas”, acrescenta, referindo que, no futuro, quer ter a agricultura como hobbie. Mafalda Silva confessa que a abóbora desde ano não é a maior que já viu na escola e que tem pena que não tenha crescido mais. Ainda assim, no próximo ano, quer voltar a participar.
A ideia é repetir, garante Felisbela Vasconcelos, coordenadora do Centro Escolar de Duas Igrejas. Até porque a escola valoriza este tipo de experiências que complementam o currículo. Também têm um pomar e fazem compostagem.
“É o segundo ano que nos juntamos a este projecto. As nossas crianças gostaram muito de participar”, afirma. No ano passado, conseguiram duas abóboras de ‘peso’, com 56 e 52 quilogramas, graças ao trabalho dos alunos e funcionários. “Apesar de vivermos numa aldeia, ainda temos crianças que não sabem que os ovos vêm das galinhas e as abóboras das aboboreiras. A ligação à agricultura é importante”, sustenta a docente.
Mais que a abóbora produzida, que este ano não será grande concorrente, o importante é “o processo” de produção, salienta Felisbela Vasconcelos. “Todos na escola se entusiasmaram e se envolveram para ver a abóbora a crescer”, refere.
Prova disso foi o trabalho de Sandra Rocha, assistente técnica, que mesmo de férias foi à escola regar e cortar rebentos. “Houve algumas que secaram, o tempo não ajudou como no ano anterior”, lamenta. Para os alunos, diz, esta pode ser uma forma de criar o “bichinho” de mexer na terra. “Alguns já sabiam distinguir as flores masculinas e femininas e quais tinham de tirar”, dá como exemplo.
“Vê-se ela a crescer de um dia para o outro”
Fernando Dias e Inês Cruz, de 61 e 60 anos, participaram nos últimos três anos. “Fomos por brincadeira, gostamos e continuamos”, contam. Produzem hortícolas, apenas como um part-time, mas ambos têm raízes na agricultura. “Quando estudava, chegava a casa e tinha de trabalhar no campo”, recorda Fernando, de Rebordosa.
O gosto pela terra ficou. Agora trocam experiências sobre a produção de abóboras de grandes dimensões com outros produtores, até de Peniche e do Algarve. “Já conseguimos meter o meu filho nisto, já planta morangos e pimentos. Ele nunca vinha ao campo”, sustenta a mãe sobre o filho de 29 anos.
A primeira abóbora que produziram chegou aos 216 quilogramas e a segunda aos 407. “Esta é para esquecer”, lamentam em relação à deste ano. Foi um ano difícil em termos agrícolas, devido às temperaturas.
“Isto é uma brincadeira, não se faz pelos prémios, é uma forma de conviver”, afirmam Fernando e Inês, lembrando que a agricultura exige muito trabalho e, estas abóboras, um acompanhamento permanente. “Desde a procura do sítio para a plantação até ao acompanhamento do vento, humidade, calor… muitas vezes, temos de as cobrir, é um acompanhamento diário, para monitorizar”, elencam. Mas quando a abóbora atinge uma grande dimensão, chega a crescer 10 quilogramas por dia. “Vê-se ela a crescer de um dia para o outro”, contam com orgulho.
“O tempo este ano não foi o ideal para a abóbora”
Este concurso internacional da Câmara de Paredes está integrado num projecto mais vasto que visa “dar visibilidade aos produtores e produções locais e estimular o interesse das populações locais na agricultura sustentável, contribuindo um maior dinamismo e atracção ao território”.
Para a vereadora da Câmara de Paredes, Beatriz Meireles, essa meta tem sido atingida, permitindo reforçar a importância da agricultura e da sensibilização ambiental e mesmo envolver as crianças. “Se numa fase inicial era um concurso que chamava a atenção de modo trocista, actualmente já não é nada disto. A comunidade envolve-se no projecto, as pessoas ficam mesmo incomodadas quando as abóboras não estão em condições de competir, há uma dedicação enorme e uma rivalidade saudável que cresceu ao longo das edições”, descreve a autarca.
Beatriz Meireles admite que o objectivo do evento foi “um bocadinho interrompido pela pandemia”, mas está agora a ser retomado com a criação de uma programação mais vasta, indo além do concurso. A vertente cultural do evento inclui barraquinhas com venda de bebidas/comida, mel, doces de abóbora, bolo de abóbora, plantas e produtos hortícolas e um espaço infantil. Estão previstas actuações musicais, apresentações de livros e uma caminhada.
A vereadora também reconhece que “o tempo este ano não foi o ideal para a abóbora”. “Vamos ter abóboras grandes, mas em outros anos já tivemos maiores. Ainda assim há abóboras com pesos consideráveis”, conclui.