A mensagem que Augusto Oliveira quer passar é simples: “A nossa vida, às vezes, pode estar muito caótica e ser muito complicada, mas temos de acreditar sempre. Esse é o primeiro passo para atingir um objectivo”.
O paredense, de 49 anos, viveu tempos difíceis, marcados pelo álcool e drogas e teve um acidente que quase o levou à morte, mas conseguiu dar a volta ao destino através da corrida.
São essas experiências que retrata neste livro chamado “Correr Fez-me livre – Dos cuidados intensivos à ultramaratona”, que é apresentado este sábado à noite, pelas 21h00, na Casa da Cultura de Paredes.
“Pôr este livro cá fora, publicá-lo e apresentá-lo é quase como acabar uma ultramaratona, porque foi um processo que demorou muito, até devido à pandemia. Era um livro que estava pensado há bastante tempo”, reconhece o autor.
O próprio formato do livro é uma espécie de “prova de 340 quilómetros” em que vai saltando entre a história da sua vida e as competições e o que sente durante as provas. “Negoceio muito comigo. Uma parte de mim diz que era mais fácil desistir porque estou a sofrer. A outra diz que é preciso cumprir o objectivo, chegar ao fim, demore o que demorar”, dá como exemplo.
A corrida, assume, foi a sua melhor terapia e aquilo que agarrou para voltar à vida. “Desde que comecei a corrida já tirei uma licenciatura, já conquistei a minha filha, muita coisa se passou desde os meus 105 quilos até à primeira prova de 100 quilómetros”, explica o paredense, funcionário dos CTT que se dedicou nos últimos anos às ultramaratonas.
Ir ao fundo e voltar
Augusto Oliveira teve uma adolescência e juventude preenchida por muita actividade física e desportiva, tendo sido atleta de alta competição de canoagem de águas bravas. Mas, lê-se na sinopse, depois de começar a trabalhar passou a viver uma vida de insatisfação em que sentia falta da adrenalina.
Foi aí que passou à dependência de álcool e drogas a que não conseguiu escapar apesar de hospitalizações e desintoxicações. Isso levou-o a “um estado de completo desinteresse pela vida, o desânimo, falta de objectivos, motivações, declínio físico, mental e emocional”.
É nessa fase que sofre um acidente de mota que quase lhe rouba a vida. Seguiram-se um mês em coma, duas cirurgias e três tromboses venosas profundas. A família, conta, foi informada de que as hipóteses de sobrevivência eram quase nulas e que, mesmo que sobrevivesse, poderia ficar dependente de terceiros para toda a vida.
Atravessou um período de recuperação lento, em que chegou a ultrapassar os 100 quilogramas e, só após “três anos de fisioterapia fez o seu primeiro quilómetro”.
Foi aí que encontrou, na corrida e trail, sobretudo, a vontade de se reabilitar. Já fez mais de 87 maratonas e ultramaratonas, bem como mais de 100 provas com outras distâncias e tem mais de 30 provas acima dos 100 quilómetros de distância. Participou nas mais conceituadas provas do Mundo, UTMB – Ultra Trail Mont Blanc – 168 km, Ultra Trail do Pirineu – 110 km, Ronda dels Cims – 170 km e no Tor des Geants – 338 km e BadWater – 217 km, como Verdadeiro Olhar já deu a conhecer em várias reportagens.
Em “Correr Fez-me livre – Dos cuidados intensivos à ultramaratona” retrata todo esse percurso e os sentimentos vividos.