Promover a economia social, permitindo a criação de postos de trabalho e a sustentabilidade das actividades dos centros sociais de Ferreira, Arreigada e Frazão, foi o mote para o nascimento da Engenho dos Paladares.
A empresa, 100% social, dedicou-se à produção de queijo de leite de vaca, biscoitos e bolachas tradicionais, doçaria de conservação, licores, doces e compotas sob a marca Paladares Paroquias. A par disso tem um serviço de catering e take away que serve cerca de 800 refeições diárias, às próprias instituições e a escolas do concelho.
Hoje, factura mais de 500 mil euros anuais e dá emprego a 11 pessoas, sendo que muitas delas eram antes desempregadas de longa duração. Os lucros revertem para projectos sociais.
Os grandes objectivos, explica o Padre João Pedro Ribeiro, que lidera a empresa desde Dezembro do ano passado, são continuar a fazer a Engenho dos Paladares crescer, criando mais postos de trabalho, e apostar no mercado gourmet, colocando os produtos fabricados em Frazão em todo o país.
23 toneladas de queijos de várias variedades produzidas anualmente
Todos os anos são transformados 262 mil litros de leite em 23 toneladas de queijo na antiga Casa Paroquial de Frazão, onde foi instalada a unidade de produção desta empresa social. São ainda produzidas, entre outros, cerca de três toneladas de bolachas e biscoitos e 2,9 toneladas de compotas e marmeladas. Números que reflectem o crescimento do projecto mas que nem sempre chegam para a procura. A marmelada, por exemplo, está actualmente esgotada. Tudo é produzido de forma artesanal, mas respeitando todas as regras de higiene e segurança.
Ordenado em 2018, o padre João Pedro Ribeiro tomou conta das paróquias de Ferreira, Arreigada e Frazão no final do ano passado. É a ele que cabe agora liderar um projecto que nasceu em 2011, pela mão de outro pároco.
“Eram anos de crise e a sensibilidade do meu antecessor, o padre Samuel Guedes, para a área social levou-o a criar esta empresa, em primeiro lugar para criar postos de trabalho e para empregar desempregados de longa duração. Iniciamos com oito funcionários, hoje em dia são 11. E também havia o objectivo, que permanece, daquilo que é o lucro da empresa reverter a favor dos centros sociais e paroquiais de Ferreira, e de Frazão/Arreigada”, explica o padre.
O projecto foi pioneiro “na ligação aos centros sociais e também à envolvência paroquial da empresa”, reconhece João Pedro Ribeiro.
Veio também apostar no revivalismo de uma área que já tinha marcado o concelho no passado. “Tínhamos aqui em Paços de Ferreira a Agrária, que muitos pacenses se recordam, que produzia queijo. Depois houve uma deslocalização da Agrária para Vila do Conde, criou-se uma saudade grande e o padre Samuel teve a ideia de começar a produzir queijo. Alargamos, entretanto, o leque de oferta dos produtos, com a confeitaria, com as bolachinhas, as compotas, o mel, os licores, etc.”, conta o pároco de Arreigada, Ferreira e Frazão.
Queijos com nomes da terra matam saudades
Os objectivos com que o projecto nasceu têm sido alcançados. “Ano após ano conseguimos canalizar mais lucro para as IPSS’s. É muito importante para nós garantir a sustentabilidade dos centros sociais e paroquiais e, de facto, aqui a empresa serve para esse fim”, afirma o sacerdote. Além disso, o crescimento que foi sendo conseguido ao longo destes anos permitiu empregar mais pessoas. A meta é manter esse desígnio. “Um dos objectivos é crescer e criar postos de trabalho. Temos essa preocupação. Tudo dependerá do sucesso e do volume de negócio”, reconhece João Pedro Ribeiro.
A Engenho dos Paladares nasce com dois “braços”: a produção de queijos, doces e compotas e também um serviço de catering.
No primeiro âmbito a aposta tem passado por inovar constantemente, experimentando novos tempos de cura e novos aromas nos queijos.
“Todos os anos temos introduzido novos sabores e formatos para satisfazer a procura do mercado quanto aos queijos. Todos os anos também temos criado licores com novos sabores e novas bolachas”, explica o padre. “Temos introduzido todos os anos produtos novos. Alguns até vêm de sugestões de clientes que nos provocam, no bom sentido, e dizem ‘seria interessante fazer algo do género’. Nós testamos e, sendo do agrado de alguma clientela e parecendo que podem ter boa saída, apostamos neles. Queremos agradar o mercado, sem dúvida”, reconhece o responsável por esta empresa social.
Os queijos têm nomes ligados à terra, como “Paços” ou “Ferreira”. Existem depois variações de sabores e tamanhos. Há queijo com aroma de alho e orégãos, presunto ou salmão ou até mesmo com picante, em barra, com cerca de um quilograma, ou até aos mais pequenos para consumo na restauração.
“Entre os queijos, se tivéssemos que eleger um campeão de vendas, seria o brick, sem dúvida. Nas bolachas as broas de cacau têm muita saída e também as nossas bolachas de manteiga e as de cenoura”, adianta João pedro Ribeiro.
Depois há compotas de vários sabores, como mirtilo ou laranja e gengibre, e licores vários.
Para além da marca Paladares Paroquiais, existe um serviço de catering e uma sala para eventos, esta última na própria Casa Paroquial em Frazão, onde organizam festas de aniversário, baptizados e casamentos.
Na cantina em Arreigada a produção é também intensa. “Nós temos uma cozinha central que produz diariamente 800 refeições e, a partir dessa cozinha, servimos os centros sociais e também clientes de catering. Para além disso, fornecemos as refeições de três centros escolares das nossas freguesias”, sustenta o pároco.
Existe uma quinta, em Ferreira, onde produzem alguns hortícolas que utilizam e está a nascer, em Arreigada, uma horta onde serão produzidas ervas aromáticas para usar na confecção das refeições.
Crescer para todo o país e apostar no mercado gourmet são objectivos
O volume de negócios tem vindo a aumentar. No ano passado, atingiu os 529 mil euros. O impacto no concelho e nestas paróquias, em particular, é elevado, garante. “Desde logo os nossos funcionários são na sua maioria daqui. Para além disso, muita gente associa os Paladares Paroquiais à freguesia de Frazão. Deixa-nos orgulhosos que a população diga são os queijos produzidos em Frazão. E a população fica contente com isto. É uma publicidade muito positiva já que temos produtos de excelência. As pessoas têm dado um feedback muito bom e isso enaltece a nossa terra”, diz João Pedro Ribeiro.
Os produtos são sobretudo vendidos para o mercado nacional, a partir da “loja de fábrica”, ao lado da Igreja de Frazão, ou a uma rede de clientes no Norte do país, em concelhos como Porto e Guimarães.
A meta é crescer e expandir. “Dentro do mercado nacional ainda temos muitos mercados e locais onde queremos chegar. Queremos apostar sem dúvida no segmento gourmet. Temos notado o aumento da procura por esse tipo de produtos. Os nossos produtos também estão nessa categoria e é, sem dúvida, nesses mercados que queremos fazer a nossa aposta e tentar chegar a todo o país, criar uma rede de parcerias e que a Paladares Paroquiais seja, cada vez mais, uma marca conhecida a nível nacional”, defende o pároco de Arreigada, Ferreira e Frazão.
500 utentes em várias valências sociais
A Engenho de Paladares continua a ter como base os centros sociais de Ferreira e de Frazão e Arreigada, entretanto agregados, com várias respostas sociais. Temos um centro de dia, um centro de convívio e um serviço de apoio ao domicílio. A instituição tem ainda um centro de actividades de tempos livres para crianças e dá ainda um apoio à família no acompanhamento dos jovens, no acolhimento e no prolongamento depois das aulas. Existe também uma cantina social.
Com os seniores, a aposta é no envelhecimento activo. “Se tivermos os nossos utentes com alguma actividade isso reflecte-se no bem-estar deles, a nível anímico e na saúde física, e da família”, acredita João Pedro Ribeiro.
No total, as instituições sociais dão apoio a cerca de 500 utentes.