Desde ontem que a maioria das cerca de 40 trabalhadoras que restavam à Cunha e Alves, empresa têxtil de Raimonda, Paços de Ferreira, estão concentradas à porta da confecção. Quando chegaram ao trabalho a empresa estava fechada e a proprietária não atendeu o telefone nem abriu a porta perante o toque da campainha. A situação apanhou-as de surpresa apesar de as dificuldades da empresa, que produzia sobretudo camisas masculinas para a Zara, terem começado já no final do ano passado.
Em atraso têm metade do ordenado de Dezembro, metade do subsídio de Natal e o salário de Janeiro. Não sabem o que fazer – aguardavam hoje a chegada de elementos da Autoridade para as Condições do Trabalho para as encaminhar – e como pagar as contas que se começam a acumular. Pedem que, pelo menos, lhes sejam entregues os documentos para requererem o subsídio de desemprego e puderem decidir o que fazer daqui para a frente.
“Chegamos aqui e tínhamos a porta fechada e estavam as carrinhas paradas”
Todos os dias as carrinhas da empresa iam buscar as funcionárias a casa. Esta terça-feira não apareceram. Ainda assim vieram, pelos seus próprios meios, apresentar-se ao trabalho. Encontraram as portas fechadas e ninguém que lhes desse explicações.
A situação já vinha a degradar-se desde Novembro do ano passado, contam as funcionárias que, hoje, ainda permaneciam junto à empresa com cerca de 40 anos de existência. “Desde Novembro que já havia pouco trabalho. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Antes tínhamos trabalho até dizer chega. Chegamos a produzir três mil peças por dia”, conta Carla Oliveira. Mas em Dezembro os pagamentos começaram a falhar. Acabaram por só receber metade do ordenado desse mês e metade do subsídio de Natal.
Eram cerca de 75 funcionárias. Algumas não esperaram para ver o que ia acontecer. Cerca de 30 abandonaram a empresa. “Nós ficamos aqui a tentar dar a volta à situação”, explica a trabalhadora.
Com o mês de Janeiro por pagar, a empregadora reuniu com as funcionárias no dia 7. “Prometeu pagar uma parte até dia 11 e outra até ao dia 21 e que a situação ficava regularizada no início de Março”, relatam. Mas no final do dia de segunda-feira não fez o pagamento prometido. “Pediu-nos para continuarmos a trabalhar que ia a Espanha tentar resolver”, acrescentam as funcionárias da Cunha e Alves.
Mas no dia seguinte as carrinhas não apareceram para recolher as funcionárias. Elas vieram ainda assim trabalhar. “Chegamos aqui e tínhamos a porta fechada e estavam as carrinhas paradas”, conta Márcia Maria, que trabalha ali há quatro anos. “Estavam lá dentro, mas ninguém veio dizer nada”, salientam Carla Oliveira que, depois de 11 anos de trabalho nesta confecção saiu, acabando por regressar em Abril do ano passado.
“Vamos ficar cá até isto estar resolvido”, prometem as trabalhadoras. Nos últimos dois dias têm cumprido o horário de trabalho, das 8h00 às 17h00, em frente à empresa.
Pedem que lhes entreguem pelo menos os papéis para requererem apoios ou procurarem novos empregos já que têm contas para pagar. “Não consegui pagar a renda e tenho compromissos para cumprir”, lamenta Márcia Maria. “Eu sou sozinha e tenho dois filhos na escola e já tive que dizer à senhoria que não posso roubar para lhe dar. Não posso deixar de dar de comer aos meus filhos para pagar a renda”, explica Carla Oliveira, lembrando que a isso acrescentem outras contas como luz e água.
Algumas das trabalhadoras têm procurado apoio junto da ACT e dos sindicatos.
O Verdadeiro Olhar tentou obter esclarecimentos da empresa, mas sem sucesso.