Muitas acusações políticas, sobretudo ligadas ao endividamento do município, e pouca discussão do ponto mais importante da noite: as contas de 2020. Foi isso a que se assistiu na última Assembleia Municipal de Paços de Ferreira. O documento acabaria aprovado pela maioria socialista e pelos presidentes de junta, com os votos contra do PSD.
A defesa das contas da bancada socialista foi feita por Carlos Lobo, que lembrou que 2020 foi ano de “incertezas e decisões difíceis” e que “o executivo investiu 800 mil euros no combate à pandemia, verba avultada face às capacidades financeiras do município”, sem entrar em “populismos” e “dar tudo a todos”, que seria o mais fácil, argumentou.
Apesar disso, continuou-se a investir. “Investiram-se oito milhões de euros em projectos de regeneração urbana, municipalizou-se e melhorou-se o serviço de recolha de lixo, iniciaram as obras de melhoramento da ETAR de Arreigada”, relatou o eleito do PS, argumentando que a “acção de executivo foi pautada por sentido de responsabilidade, mantendo-se fiel ao princípio basilar das boas contas públicas”.
“Foram cumpridos os compromissos financeiros e caminhou-se para a consolidação das contas públicas. Reduziu-se a dívida em 1,5 milhões de euros, houve resultados correntes positivos e obteve-se um resultado líquido de dois milhões”, relatou ainda Carlos Lobo. “Tendo em conta o endividamento de 42 milhões e a provisão que devemos ter para resolver o tema das águas, do acordo, mais 50 milhões, os resultados positivos não são capricho, são obrigatoriedade da boa gestão das contas públicas”, defendeu ainda.
Pelo PSD, Miguel Martins foi curto. “Depois de ouvirmos este discurso pintado a rosa de que tudo está bem, tudo está feito e no caminho certo, causa-me espanto perceber porque é que o município recorreu às moratórias. As moratórias foram criadas para as famílias, para as empresas, para as instituições que tivessem em dificuldades financeiras. Pintou aqui um cenário de tal maneira favorável que não haveria necessidade de recorrer às moratórias”, disse, lembrando que no caso dos municípios, as moratórias seriam para apoiar no âmbito dos efeitos covid. Se os apoios nesse âmbito foram de 800 mil euros, em que foi gasto o resto do valor, questionou. “Eu sei que foi bem gasto. Não estou a pôr aqui em questão que tenha sido utilizado indevidamente. Agora não foi utilizado para aquilo que estava previsto na lei”, sustentou o social-democrata.
“Aquilo que hoje mais me orgulha é que o actual candidato do PSD à Câmara Municipal votou favoravelmente 99,9% das propostas do Partido Socialista”
Dada a palavra ao presidente da autarquia para defender ou esclarecer sobre as contas de 2020, Humberto Brito atacou antes o candidato do PSD.
“Na política fazem-se opções programáticas do que queremos para o futuro colectivo. Declaramos o nosso desacordo e o nosso acordo”, começou por dizer, referindo que quando se exprime acordo ou desacordo podem ser emitidas declarações de voto. “Aquilo que hoje mais me orgulha é que o actual candidato do PSD à Câmara Municipal votou favoravelmente 99,9% das propostas do Partido Socialista” nos últimos oito anos, frisou, em relação a Alexandre Costa, membro da Assembleia enquanto presidente da Junta de Freguesia de Paços de Ferreira.
“Votou em consciência, concordando com o programa do Partido Socialista e é isso que nos deixa satisfeitos. É a verdadeira coerência”, alegou o autarca. “Será certamente uma nova atitude porque a atitude antiga do PSD era má pro concelho e o povo sabe” acrescentou ainda, aludindo à dívida deixada.
O documento foi aprovado por maioria sem mais questões ou esclarecimentos, perante uma Assembleia, com lotação esgotada, deixou pessoas à porta a contestar não a possibilidade de assistir à sessão.
O PSD aproveitou o mote para lembrar que já defendeu e propôs, por diversas vezes, a transmissão online das assembleias municipais. O presidente do órgão, Miguel Costa, esclareceu que já foram solicitados aos serviços meios técnicos para que isso possa acontecer já na próxima sessão.