Há duas graves “falhas” da governação socialista no concelho de Paços de Ferreira nos últimos nove anos, que não terão “solução na presidência de Humberto Brito”: o problema da concessão de água e saneamento e a gestão do processo da ETAR de Arreigada.
“Não sabemos onde é que isto vai terminar”, afirmou o presidente da comissão política do PSD Paços de Ferreira, num encontro com jornalistas, em relação à opção de o executivo do PS avançar com a rescisão do contrato de concessão de água e saneamento por justa causa. O que têm sido dadas é soluções de “fuga para a frente”. “Judicialmente sabemos como isto vai terminar, porque já há jurisprudência nos casos de Barcelos e Marco de Canaveses. Sempre defendemos a via negocial. Só Paços de Ferreira seguiu a via do confronto”, argumentou Alexandre Costa, acompanhado de outros elementos do partido, nomeadamente Miguel Martins, Célia Carneiro e António Coelho. O também vereador da oposição lembrou que o anúncio foi feito em “vésperas de campanha eleitoral” e acredita que “se não houver um processo negocial Humberto Brito vai embora e fica tudo na mesma”. Não colhe já a ideia de que não havia interlocutores, já que as águas estão na mão de uma empresa conhecida. “Agora existe uma empresa em que o negócio é a água, a Indaqua. Este era o momento para gerir o processo e negociar”, defende o social-democrata. “A Câmara deve ter previsibilidade do que vai acontecer e neste momento não tem”, alerta.
Outro processo com falhas é o da construção da ETAR de Arreigada. “É um crime ambiental, mas também político e económico”, sustenta Alexandre Costa. Já na última campanha eleitoral, o social-democrata diz ter afirmado, em Meixomil, que a Câmara de Paços de Ferreira escolheu um “projecto low-cost”. “Do conhecimento que temos, o investimento previsto para a ETAR de Arreigada era de 10 milhões. Era isso que estava em cima da mesa da concessionária e do projectista. Mas foi-se a Lisboa e conseguiu-se um aviso de feito à medida para Paços de Ferreira de cinco milhões de euros. Pegou-se no projecto que havia e teve de se cortar. Havia muita coisa prevista que não foi feita e o resultado está à vista”, argumenta o líder do PSD.
Em Assembleia Municipal, o partido da oposição foi questionando quando é que a ETAR iria funcionar e foram sendo dadas “desculpas”. Mas depois das últimas eleições, Alexandre Almeida, presidente da Câmara de Paredes, disse “basta”, em nome da população de Lordelo, refere o PSD pacense. “Tem sido a Câmara de Paredes e não a de Paços de Ferreira a liderar este processo”, sendo que os responsáveis pacenses não querem falar e “escondem” responsabilidades, alega Alexandre Costa. “Não entendo como ainda não se pediram responsabilidades judiciárias na questão da ETAR”, disse.
Recorde-se que, nas últimas semanas, o presidente da Câmara de Paredes, Alexandre Almeida, avançou que será necessário um novo investimento de raiz para resolver aquele problema que poderá custar outro tanto de investimento como o feito para a remodelação da ETAR: cinco milhões de euros.
Nota “negativa” ao executivo de Humberto Brito
Faltam estratégias de desenvolvimento do concelho em várias áreas. Num balanço de um ano de mandato feito aos jornalistas, o PSD Paços de Ferreira deu nota “negativa” ao trabalho feito pelo executivo do PS, liderado por Humberto Brito, em áreas como o PDM e zonas industriais, a formação superior, o emprego, a política desportiva, a habitação, a mobilidade, as respostas sociais e o ambiente.
A ausência de um PDM, que ainda demorará muito a terminar a revisão, não permite o ordenamento do território e a falta de zonas industriais leva à construção de armazéns em locais que comprometem o futuro. Há ainda “constrangimentos no crescimento dos núcleos urbanos de Paços de Ferreira e Freamunde” e “falta de investimento das freguesias, quer na segurança rodoviária quer na qualificação do território”, advertem os social-democratas. “Há falta de equidade nos investimentos nas freguesias”, “discriminação” e “dualidade de critérios”, revela Alexandre Costa, acrescentando que Lamoso, Codessos, Modelos e Arreigada (antigas freguesias) têm sido as localidades mais prejudicadas.
No ambiente, além da questão da ETAR, nota-se uma ausência de políticas para a qualificação dos recursos naturais e redução de ameaças poluentes e que as zonas ribeirinhas estão esquecidas, havendo também falta de investimento em energias alternativas.
O PSD Paços de Ferreira fala ainda de uma ausência de política cultural e desportiva, sendo que “nestes nove anos não houve nenhuma política de fundo para nenhuma modalidade desportiva”. “Há falta de condições para o aumento de modalidades, um bloqueio de crescimento no desporto indoor e esquecimento do desporto inclusivo. E mesmo na gestão da implementação de sintéticos o processo tem tido uma gestão atabalhoada”, comenta.
O facto de o concelho não se afirmar, quer na região quer no país, traz “grave prejuízo para as empresas locais” e falta também “pró-actividade na captação de empresas”, sobretudo de outros sectores de actividade.
A “incoerência e indefinição” deste executivo socialista também gerou “graves prejuízos” na gestão da marca Capital do Móvel, defende o presidente do PSD pacense. Tem havido pouca preocupação com a diminuição da população e perda de capital humano.
“Na Acção Social temos assistido apenas a uma política crescente de assistencialismo e pouco ou nada orientada para as respostas integradas. Passados nove anos, não existiu a capacidade de criar uma única nova resposta social no concelho”, afirmou Alexandre Costa, lembrando que só agora há planos nesta área.
O social-democrata falou também do futuro do partido que quer, nos próximos três anos continuar a preparar as próximas autárquicas, assim como crescer em militantes, quadros e capital humano. Em 2024, serão apresentadas as propostas pela comissão política que assumir o processo autárquico. A meta é ter projecto alternativo que capte os votos dos pacenses, até porque 2025 será altura de mudança de ciclo. “É preciso simplificar o discurso para chegar às pessoas. Temos estado no terreno”, deu como exemplo.
Para 22 de Outubro, o partido tem agendada, em Seroa, uma convenção autárquica que irá debater estes temas.
Também ajudará a que a C.M. de Paços de Ferreira não acelere a resolução do problema da ETAR de Arreigada o facto de que quem sofre o primeiro e principal impacto do crime ambiental lá tem origem serem os munícipes do concelho vizinho (freguesia de Lordelo, concelho de Paredes), o que para todos os efeitos em altura de eleições autárquicas nada retiram ou acrescentam em termos de votação.
Fosse o problema impactar primeiramente, ou exclusivamente, no território administrado pela C.M. de Paços de Ferreira e certamente que o problema já estaria resolvido à muito tempo.
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