Durante alguns séculos só houve museus em Roma. Conhece a história?
Desde que o papado começou a ter influência na administração civil da cidade de Roma, as grandes preocupações foram os pobres, a instrução e a cultura. Os Papas queriam que o povo convivesse com a arte, em praças belas, decoradas com esculturas e fontes, em edifícios públicos com pinturas e tapeçarias de qualidade. No século XV, esta preocupação adquiriu um matiz novo, quando foi necessário proteger as obras de arte que não podiam ficar à intempérie, ou eram substituídas por outras mais modernas. Para que a população tivesse livre acesso a esses objectos, tal como contemplava as obras de arte espalhadas pela cidade, surgiram os primeiros museus do mundo.
Como é óbvio, foi preciso inventar o nome, porque a palavra «museu» não existia com este significado. Com sentido de humor, importou-se a palavra grega «muséon» (palácio das musas). Sem pruridos de linguagem sexista, o conjunto, incluindo os esplêndidos exemplares de Júpiters e de Apolos, ficou conhecido como «as musas», figuras femininas mitológicas inspiradoras das artes.
A arquitectura dos edifícios foi uma inovação, porque nunca se tinham construído edifícios para expor objectos de arte. Quando, mais tarde, apareceram outros museus na Europa, o modelo mais corrente foi aproveitar os palácios dos regime depostos, por exemplo o Hermitage em S. Petersburgo, ou os palácios de coleccionadores ricos, por exemplo a National Gallery em Londres, para mostrar os respectivos tesouros. O museu do Louvre também se instalou num palácio antigo, como muitos grandes museus. O museu Vaticano e os outros museus construídos pelos Papas foram diferentes, porque nunca foram palácios, nunca morou lá ninguém, mas foram projectados de raiz para serem visitados pelo povo. Só séculos mais tarde, no século XIX e sobretudo no século XX, se construíram outros museus de raiz: por exemplo, o museu Calouste Gulbenkian em Lisboa, ou os Guggenheim de Nova York ou de Bilbau.
Outra característica invulgar do museu Vaticano é que não tem peças roubadas. Pode dar vontade de rir constatar que esse sistema expedito (digamos assim) foi adoptado pelos principais museus. O museu do Louvre começou com uma colecção de pintura e escultura roubada às igrejas francesas; o museu nacional de Arte Antiga, em Lisboa, tem uma origem semelhante; outros grandes museus nasceram do saque dos tesouros do Egipto ou da Grécia. O próprio museu do Vaticano foi saqueado no princípio do século XIX por Napoleão Bonaparte. Fala-se em um milhão de caixas levadas para Paris, com peças de arte e arquivos. Com a queda do Imperador, aquilo que foi possível recuperar voltou para Roma.
O museu Vaticano e os outros museus que os Papas promoveram geraram polémica desde o início. Que desperdício oferecer arte ao povo! Os ateus de há uns séculos acusavam o Vaticano de hipocrisia, com o argumento de que expor divindades pagãs era fomentar a idolatria. Hoje em dia, diz-se que a arte é luxo e desafia-se o Vaticano a vender a arte aos ricos para dar o dinheiro aos pobres (os ateus da internet usam termos mais veementes, que me dispenso de reproduzir).
Está à vista que os católicos são tanto ou mais pecadores que as outras pessoas, contudo, também é verdade que a Igreja foi – e continua a ser – uma instituição muito especial.