Um reformado de 53 anos quis vingar-se da antiga patroa e organizou uma emboscada que deveria terminar com a morte da mulher e do actual companheiro numa mata de Milhundos, em Penafiel. Munido de um revólver e de dois engenhos explosivos, Francisco T. surpreendeu o casal durante um passeio matinal, mas, nem após ter disparado por duas vezes, evitou ser manietado e detido. Na sexta-feira, começou a ser julgado por dois crimes de tentativa de homicídio, três de detenção de arma proibida, outros três de ofensa à integridade física e dois de ameaça grave. E ao colectivo de juízes admitiu o uso da arma e dos explosivos, mas negou que alguma tenha tido a intenção de matar a ex-patroa.
Escondeu-se na mata à espera da chegada do casal
A história remonta a 2007, quando o indivíduo de Duas Igrejas, Penafiel, trabalhava, em França, numa empresa de Margarida C. e do então marido. Nessa altura, Francisco T. teve um acidente de trabalho e, pouco depois, regressou a Portugal.
Anos depois, e já envolvida numa nova relação sentimental, Margarida C. também passou a viver entre Penafiel e o território francês. E era pelas matas de uma freguesia do concelho penafidelense que o casal fazia, diariamente, uma caminhada matinal. Um hábito de que Francisco T. teve conhecimento e que o levou a organizar a vingança há muito esperada. Assim, no dia 1 de Dezembro do ano passado, o agora reformado muniu-se de um revólver e de dois engenhos explosivos prontos a rebentar e, ao volante de uma moto, deslocou-se até uma mata onde o casal passaria. A seguir, escondeu-se na vegetação e esperou. Cerca das 9h20, Margarida C. e o companheiro aproximaram-se e foram surpreendidos com um salto de Francisco C.. Este logo lhes apontou a arma e obrigou-os a dirigirem-se para outro carreiro ainda mais reservado. Pelo caminho revelou-lhes que os ia matar.
Perante a ameaça, José A. agarrou o braço armado de Francisco e tentou tirar-lhe o revólver. O reformado não se ficou e, de imediato, disparou com o intuito de alvejar o casal. Falhou, mas voltou a tentar quando estava, no chão, envolvido numa luta corpo-a-corpo com José.
O som dos disparos chamou a atenção dos moradores mais próximos. Foram estes que ajudaram a manietar Francisco e a mantê-lo imobilizado até à chegada da GNR.
Uma busca posterior à casa do reformado, que aguarda o fim do julgamento em prisão preventiva, permitiu encontrar mais sete engenhos explosivos.
“Estou arrependidíssimo por ter feito o que fiz”
Na sexta-feira da semana passada, Francisco T. negou que alguma vez tenha tido a intenção de tirar a vida a Margarida C.. Na primeira sessão do julgamento a decorrer no Tribunal de Penafiel, o arguido admitiu que apontou uma arma à antiga chefe e ao actual companheiro desta. Admitiu também que transportava dois engenhos explosivos e uma faca. Mas garantiu que tudo isto serviria apenas para assustar o casal e obrigar Margarida C. a telefonar para os serviços da Segurança Social, nos quais tentava resolver um problema relacionado com uma eventual indemnização pelo acidente de trabalho ocorrido em França, quando estava ao serviço da vítima. “Se a dona Margarida telefonasse podia ser que se desse a volta ao texto e eu recebesse a indemnização. Usei o revólver apenas para a pressionar”, disse. “Estou arrependidíssimo por ter feito o que fiz. Foi um impulso que me deu”, assegurou ainda.
Segundo a versão apresentada por Francisco T. esse acidente de trabalho obrigou-o a três dias de paragem, mas não o impediu de cumprir o contrato laboral até ao final do ano. Três meses depois de estar ao serviço de uma nova empresa, Francisco T. ficou impossibilitado de trabalhar devido a dores nas costas. Os exames realizados indicaram que a lesão na coluna cervical estava relacionada com o antigo acidente de trabalho.