Todos contra o coronavírus. É essa a máxima que vigora na região. Câmaras municipais, juntas de freguesias, associações, empresas, particulares e até “claques” de futebol estão-se a disponibilizar para apoiar quem mais precisa. Uma rede de voluntários está a preparar-se nos concelhos de Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo para levar medicamentos e alimentos a quem não deve, pela idade ou problemas de saúde, sair de casa.
Há também quem se una no apoio aos profissionais de saúde que estão a combater a doença.
Ontem foi declarado o Estado de Emergência pelo Presidente da República. Hoje o Governo vai anunciar medidas concretas. A regra base para conter a propagação do COVID-19 é só uma: seguir as indicações de higiene e, sempre que possível, ficar em casa.
O COVID-19 chegou à região a 4 de Março, quando foi confirmado como positivo o primeiro caso, um funcionário de uma empresa de Santo Estevão de Barrosas em Lustosa, que tinha estado em Milão. Entretanto tanto ele como a sogra, também infectada, já estão recuperados.
Câmaras e juntas apoiam no acesso a medicamentos e alimentos
Na linha da frente estiveram as câmaras municipais. Os primeiros a reagir e a tomar medidas para combater o vírus na região. Desde logo foram encerrados equipamentos municipais, como pavilhões, piscinas e serviços das autarquias, que passaram a privilegiar os contactos à distância. Com o evoluir da situação, a atenção das câmaras passou para o apoio aos que estão em casa, em vigilância ou tratamento, ou aos mais vulneráveis, como os idosos.
Foram criadas linhas de apoio, prometidos novos apoios sociais e redireccionadas as verbas dos eventos cancelados e adiados para ajudar os afectados e criadas redes municipais de recolha de lixo porta-a-porta. Houve ainda prorrogação de prazos de pagamento de várias facturas. As próprias autarquias, ou em conjunto com as instituições particulares de solidariedade social e associações do concelho, prometem também apoio com entrega de refeições e alimentos a quem ficar em quarentena.
* Lousada criou linhas de apoio, prorrogou pagamento de facturas e criou rede de recolha de lixo porta-a-porta
* Paços de Ferreira vai assegurar apoio domiciliário a quem for suspeito ou infectado
* Paredes vai canalizar verbas de eventos para apoio social
Mais próximas da população são também muitas as juntas de freguesia destes cinco concelhos que já vieram a público divulgar iniciativas de apoio. Ficam alguns exemplos.
A União de Freguesias de Silvares, Pias, Nogueira e Alvarenga anunciou a criação de um serviço de apoio á realização de compras de bens alimentares e medicamentos, com entrega porta-a-porta, para os idosos e pessoas que o requeiram e não estejam em condições de as realizarem. Haverá ainda um serviço de transporte para quem requisitar, para situações de deslocação urgente e devidamente justificada.
Em Irivo, depois do apelo do presidente da junta, foi criado “um piquete de apoio às famílias”, desde logo aos que têm menos capacidade de se deslocar, como idosos e pessoas com mobilidade reduzida. “Tudo para que evitem os transportes públicos e estejam menos vulneráveis ao contágio do COVID-19” e com a promessa de máximos cuidados e uso de protecção. Serão feitos recados, idas aos supermercados e farmácias.
Ainda em Penafiel, a Junta de Boelhe associou-se à Associação de Desenvolvimento da freguesia e vai disponibilizar a carrinha e ter voluntários, entre eles o presidente da junta, para apoiar os mais vulneráveis, também com idas à farmácia e eventualmente ao posto médico “se for absolutamente necessário”. “Para além do transporte gratuito, ofereceremos os alimentos e a medicação”, diz o autarca Artur Teixeira.
Em Sebolido, em parceria com a Associação Sebolido Activo, a Junta também vai “disponibilizar apoio aos habitantes considerados de risco (pessoas idosas, doentes crónicos ou com pouca mobilidade)”. Para evitar que saiam de casa fazem compras e levantam medicamentos.
A Junta de Freguesia de Alfena também criou uma iniciativa de compra de bens essenciais destinada aos alfenenses com 65 ou mais anos ou de grupos de risco, evitando que saiam de casa. Propõem-se a comprar bens alimentares e medicamentos.
Em Paredes, a Junta de Freguesia de Rebordosa anunciou que está disponível para realizar compras de bens essenciais e medicamentos para idosos com mais de 70 anos que não tenham familiares e amigos para ajudar neste período de isolamento social.
Há juntas a apoiar também os profissionais de saúde. É o caso das de Cristelo, Duas Igrejas, Sobrosa e Vilela, em Paredes, que se uniram para colmatar as deficiências de material no Centro de Saúde de Cristelo. Os responsáveis das freguesias entregaram, esta manhã, diverso material de protecção, como fatos, desinfectante, luvas e lixívias, com a promessa de nova entrega durante a tarde. “Os nossos profissionais de saúde estão a sacrificar a sua vida e tudo fazem para travar esta epidemia! Cumpra o seu papel, tome as devidas precauções, e sempre que possível… Fique em casa”, apelam.
Apoios aos profissionais de saúde não fica de fora
O apoio aos profissionais de saúde tem sido uma constante, de várias formas. Há médicos, enfermeiros, auxiliares e outros, que precisam de ficar mais perto dos locais onde prestam serviço e outros que temem regressar a casa, infectando os seus.
Depois de serem aplaudidos nas varandas, nas redes sociais surgiram vários grupos onde muitos particulares cedem casas a estes profissionais de forma gratuita, como o “Partilha de Casa para profissionais de saúde!” ou o “COVID19 – Alojamento SOLIDÁRIO para profissionais de saúde”. Mas a título particular foram muitos os que nas suas próprias páginas, também aqui na região, se mostraram disponíveis para ajudar os que combatem a doença na primeira linha.
Esta semana o Penafiel Park Hotel & Spa deu nota de que disponibilizou as suas instalações ao Centro Hospitalar Tâmega e Sousa para permitir que todos os profissionais de saúde daquela unidade hospitalar tenham “condições exemplares no combate ao Covid-19”.
A Câmara de Paredes também anunciou que foi contactada por diversos operadores turísticos do concelho que disponibilizam quartos aos profissionais de saúde que não queiram ou não possam pernoitar nas suas casas.
Há quem ajude de outras formas. A Secção Regional Norte da Ordem dos Enfermeiros agradeceu, esta semana, à Fábrica de Biscoitos Paupério, de Valongo, que deixou várias caixas de bolachas para entrega aos profissionais dos hospitais de Santo António, S. João, Pedro Hispano e Santos Silva. “Algumas empresas portuguesas têm, nos últimos dias, tentado participar no combate activo ao inimigo público número um, o COVID-19. A Paupério, fábrica de biscoitos com quase 150 anos de existência, sediada em Valongo, quis prestar homenagem aos profissionais de saúde que estão na linha da frente desta batalha, fornecendo bolachas e biscoitos para alimentação dos profissionais dos serviços”, referiam, agradecendo “o mimo”.
Centros sociais, claques e comissões de festas também ajudam
Além de juntas e câmaras tem sido várias as instituições que demonstram intenção de ajudar os mais desprotegidos nos seus concelhos.
Por exemplo, o Centro Social e Cultural de Abragão revelou que está a ajudar os idosos e doentes da vila, facultando-lhes alimentos e medicamentos ao domicílio. Mais uma vez, uma medida que tem como objectivo manter os idosos e os mais debilitados em segurança nas suas residências e diminuir o fluxo de pessoas nas farmácias e mercados locais.
Também os Ultras Rac e os Super Fãs Rebordosa Atlético Clube, “claques” apoiantes do clube de Rebordosa, anunciaram que vão ter uma equipa de voluntários para ajudar a suprir as necessidades de qualquer pessoa idosa ou com mobilidade reduzida, desde deslocações às superfícies comercias e farmácias. Tudo a título gratuito e 24 horas por dia.
A Comissão de Festas de Lordelo, em Paredes, também divulgou que é necessário “proteger as pessoas consideradas de risco (idosos, doentes crónicos, doentes oncológicos, pessoas com problemas respiratórios, entre outros). “Por tudo isto, a Comissão de Festas de Lordelo 2020 mostra-se sensibilizada perante esta pandemia do COVID-19, estando ao dispor de toda a população lordelense. Estamos disponíveis para ajudar em tudo o que for necessário, desde ir à farmácia, às compras ou outras tarefas que exponham, um pouco mais, as pessoas consideradas de risco”, adiantam.
Estes são apenas alguns exemplos da vasta onda de solidariedade que se está a estender pela região.
