O novo ano que agora se inicia não nos permite grandes entusiasmos. Pelo contrário, 2016 promete ser um ano difícil. A nível internacional, a crise dos refugiados continua sem fim à vista. Mercê de uma brutal desorganização em termos europeus, a que acrescem as agora mais do que óbvias ondas xenófobas e ultranacionalistas que vêm inundando a UE , antevêem-se momentos muito difíceis para centenas de milhares de seres humanos cuja única ambição passa por escaparem à morte.
Mas para além desta enorme crise humanitária, a situação económica à escala global é preocupante. Com o preço do barril de petróleo a atingir mínimos históricos, a economia chinesa em franca desaceleração e uma Europa cada vez mais longe dos princípios que fundamentaram a criação da CEE, 2016, também do ponto de vista económico e financeiro, promete ser um ano muito difícil.
Em Portugal, passadas as eleições e o complexo processo de formação de um novo governo, o ano de 2016 começou com os estilhaços de mais uma prenda que o sector bancário decidiu dar ao país. Depois de meses e meses a jogar ao esconde esconde, em que a única preocupação do anterior governo de coligação PSD/CDS foi ir a votos sem que o BANIF tombasse estrondosamente, António Costa foi confrontado com uma situação muito difícil e com meia dúzia de dias para comunicar ao país uma decisão. A menos má de todas foi tomada, com naturais consequências para o erário público, mas impedindo o crescimento descontrolado do sentimento de desconfiança relativamente ao sector bancário português. Uma vez mais será o contribuinte a pagar a conta da incompetência e eventualmente dos crimes cometidos por mais um grupelho de alegados banqueiros. Naturalmente que o buraco aberto pelo BANIF prejudica as contas do Estado Português e exigirá dos responsáveis europeus alguma condescendência no que à meta do deficit e da dívida diz respeito.
A verdade é que independentemente da opinião que tenhamos sobre a forma como o actual governo foi empossado, alguns erros da anterior maioria de direita começaram a ser eliminados. O ano de 2016, apesar do contexto internacional difícil, poderá ser encarado com alguma esperança tendo em conta o programa que o governo do PS apresentou ao país. Não obstante estarmos totalmente dependentes da situação económica e financeira internacional, termos à frente de um Governo alguém que não acredita nas virtudes do empobrecimento, é uma garantia adicional para um país que precisa tanto de crescer, produzir e criar mais emprego.
Do ponto de vista estritamente político, o grande desafio do PS e de António Costa é executar um projecto de centro esquerda, europeísta e tolerante, garantindo a estabilidade governativa e parlamentar até 2019. Contrariamente a alguns militantes e dirigentes do meu partido, eu não sou um entusiasta da actual solução parlamentar. Como é óbvio, aquilo que eu e a grande maioria dos socialistas sempre desejamos é que o PS receba do povo português uma maioria absoluta. Aliás esse era também o ensejo de António Costa. Mas, pragmaticamente falando, a verdade é que quando essa maioria não se atinge, deveremos sempre ponderar as vantagens e desvantagens de coligações ou acordos parlamentares à esquerda. O actual Primeiro Ministro, com grande mérito, reconheça-se, conseguiu apresentar ao país um acordo de incidência parlamentar com PCP e BE. Os balanços far-se-ão mais tarde, mas estas primeiras semanas já foram suficientes para o povo português perceber que, sem Passos e Portas ao leme do país, o futuro colectivo poderá ser menos difícil.