Mesmo depois de uma obra de requalificação de milhões, a obra da Escola Secundária de Ermesinde, com mais de 1500 alunos, está apenas “meia feita”. Ainda há salas no antigo edifício das oficinas, conhecido como Pavilhão de Mecânica, com fissuras e abatimentos do pavimento, um auditório cheio de infiltrações e de mofo e um edifício administrativo também à espera de intervenção no interior.
Esta semana, a direcção do Agrupamento de Escolas de Ermesinde enviou um email à Câmara de Valongo e à comunidade educativa, também em nome da Associação de Pais da Escola Secundária de Ermesinde (Apese), lamentando a situação e dizendo que as obras que vão agora arrancar ficam aquém das expectativas.
“Tive conhecimento da sua visita à Escola Secundária de Ermesinde para dar início a uma intervenção (já programada desde o Verão de 2021) ao Pavilhão de Mecânica, estando prevista essa intervenção em quatro salas da ala direita do pavilhão que apresentam sinais preocupantes de degradação e constituem risco para alunos e professores, pintura dos corredores e intervenção no auditório que evidencia infiltrações de água em várias áreas da sala”, começa por dizer a directora, Ana Maria Cortez, na missiva a que o Verdadeiro Olhar teve acesso. Logo de seguida, lamenta que afinal não se tencione fazer qualquer intervenção no auditório, como previsto e prometido. “Foram feitas várias visitas desde o Verão de 2021 para averiguar a situação e nunca foi posta em causa sequer a possibilidade de um adiamento de uma obra que é urgente. Lembro que o Auditório é a única sala de visitas da escola, o único espaço em que se podem juntar grupos de alunos para realização de trabalhos e acções que implicam uma dinâmica de conjunto, o local onde se apresentam trabalhos de aptidão profissional dos alunos dos cursos profissionais em que estão presentes agentes externos conferindo dignidade a esse acto, onde se realizam sessões de informação/formação com entidades convidadas, enfim, a perda deste espaço (e a sua utilização conforme está é inviável) reveste-se de uma gravidade que com certeza não estão a avaliar correctamente”, aponta a direcção da escola.
“A requalificação da Escola Secundária de Ermesinde ficou a meio”
“A requalificação da Escola Secundária de Ermesinde ficou a meio, como sabe! Adivinhava-se este triste desfecho: uma escola (deve ser caso único no país) que fica a obra meia feita, meia por fazer. Esta obra que vão realizar na Mecânica é apenas um ‘lavar’ a cara e disfarçar o indisfarçável! O que seria correcto fazer-se era a conclusão da requalificação, antes de se avançar para qualquer outra intervenção noutras escolas do concelho”, sustentam ainda no email enviado, lembrando ainda outros problemas como um bufete “completamente desadequado para o universo de público que serve”, salas para receber pais aquém das necessidades, sem privacidade e com condições degradadas e serviços administrativos em espaços “sem quaisquer condições”. “Pelo exemplo que estamos a ver acontecer com o auditório, pouca esperança nos resta…”, lamenta a directora.
Contactada, também a representante da Associação de Pais da Escola Secundária de Ermesinde, explica que anda a pedir uma reunião e visita à escola do presidente da Câmara de Valongo desde o início do ano, sem sucesso, tendo este aparecido esta semana, sem aviso, para consignar uma obra que não chega. “O assunto anda a ser empurrado com a barriga. Dizem que não há problemas estruturais no edifício, mas não acreditamos. Não contestamos as obras nas outras escolas, mas custa-nos que isto tenha ficado por tratar”, afirma Manuela Queirós. Descreve “salas com fissuras enormes, um auditório com cheiro a mofo e cheio de humidade” e explica que “na sala do ensino especial o chão tem tanto desnível que parece que estamos a descer uma rua”. “A escola devia ter sido requalificada na totalidade na primeira fase”, argumenta ainda.
“A requalificação do Pavilhão de Mecânica da Escola Secundária de Ermesinde compete ao Ministério da Educação”
Em resposta ao Verdadeiro Olhar, a Câmara de Valongo esclarece que “iniciou um conjunto de reparações nas antigas oficinas da Escola Secundária de Ermesinde para eliminar algumas situações de perigo decorrentes de destacamento de betão de um elemento estrutural e de fissuração de paredes em salas de aula, esta causada por abatimento dos pavimentos”. “Trata-se, pois, de uma intervenção urgente direccionada para a segurança dos alunos e demais utilizadores dos espaços abrangidos”, orçada em pouco mais de 14 mil euros e que deve estar concluída em 60 dias.
“Esta intervenção será totalmente custeada pelo município, assim como foi custeado pelo município cerca de um milhão de euros com a primeira fase da requalificação da Escola Secundária de Ermesinde, cujo investimento global, incluindo fundos comunitários, rondou os quatro milhões de euros, sendo 3.48 milhões de euros em obra e o restante em projectos, fiscalização e mobiliário”, salienta a autarquia.
A mesma fonte frise que nesta escola “foi realizada a maior intervenção de reformulação e modernização de instalações escolares no concelho de Valongo, no actual ciclo governativo”, tendo sido reabilitados, na totalidade, três blocos de aulas, sido feita a ampliação do refeitório e a requalificação da cantina, realizado o tratamento exterior total do edifício administrativo, construída uma nova portaria, realizados arranjos exteriores e reformulados os balneários do pavilhão desportivo. “Ainda assim falta requalificar nesta escola o interior do edifício administrativo e a totalidade do edifício das oficinas, cujo financiamento compete ao Ministério da Educação”, reconhece a Câmara.
Questionada sobre se haverá ou não obras no auditório, a autarquia diz que “eliminar todos os problemas do auditório implica o tratamento exterior do edifício, como sempre foi referido, sendo que este não foi incluído na empreitada de requalificação geral, de 2018, por inexistência de verbas que o permitissem”. “O problema das infiltrações será resolvido quando for detectada a sua origem e poderá ser por recurso aos serviços de manutenção da autarquia”, mas, na “pequena” empreitada em curso estão incluídas apenas “as situações de perigo existentes no edifício das oficinas”, “o que é totalmente independente do tratamento do auditório”.
“A requalificação do Pavilhão de Mecânica da Escola Secundária de Ermesinde compete ao Ministério da Educação, dado que a verba atribuída não foi suficiente para a requalificação total da escola”, reitera o município, defendendo ainda que “seria muito injusto” avançar com a requalificação da pequena parte que falta da Escola Secundária de Ermesinde, antes da requalificação das restantes escolas do concelho, “por uma questão de equidade e igualdade de tratamento”, como é o caso da Básica Vallis Longus, Secundária de Valongo, Básica de S. Lourenço e Básica de Alfena. “São estabelecimentos de ensino degradados que nunca tiveram obras de requalificação e cujos alunos também têm direito a terem as suas escolas requalificadas”, argumenta a autarquia.
Ministério confirma segunda fase da obra, mas não diz quando
Sem responder directamente às questões realizadas, o Ministério da Educação lembra, antes de mais, o investimento que tem vindo a ser feito no concelho. “Desde 2016, a colaboração entre o Ministério da Educação e o Município de Valongo permitiu iniciar a requalificação da rede escolar deste concelho, pondo termo a um longo período de falta de investimento nas suas escolas. Neste âmbito foi possível assegurar a execução, pelo Município, da primeira fase de modernização da Escola Básica e Secundária de Ermesinde e a modernização da Escola Básica Vallis Longus, bem como uma intervenção de beneficiação na Escola Secundária de Valongo, com um investimento global de cerca de 6,5 milhões de euros, co-financiado pelo Portugal 2020, pelo Orçamento do Estado e por fundos municipais”, começa por referir o Governo.
“Entretanto, foi celebrado um contrato-programa entre o Ministério da Educação e o Município de Valongo para a requalificação da Escola Secundária de Valongo, com uma comparticipação do Ministério de Educação de dois milhões de euros para essa obra, dando sequência ao planeamento estabelecido para a modernização da rede escolar concelhia que acolhe mais de 10.500 alunos de todos os níveis educativos”, acrescenta.
O Ministério indica ainda que se prevê “o prosseguimento dos investimentos da rede escolar do concelho de Valongo nos próximos anos, incluindo a execução de novas fases na Escola Básica e Secundária de Ermesinde, de modo a dotar estas escolas de todas as condições para desenvolverem, com qualidade acrescida, os seus projectos educativos”, mas não especifica quando.
Recorde-se que, em 2018, em visita às obras na Escola e confrontado pela associação de pais, Tiago Brandão Rodrigues deixou a garantia de que a escola ia ser “totalmente requalificada”. “Estamos a preparar condições para que essa segunda fase se possa fazer”, afirmou.