Durante quatro dias as ruas da cidade de Penafiel encheram-se de literatura, com a obra de Mário Cláudio a contaminar o espaço público em mais uma edição do Festival Literário Escritaria. Houve tempo para ver arte pela rua e exposições e assistir a conferências, sessões de teatro, música e cinema e à apresentação do novo livro do romancista.

Depois de Urbano Tavares Rodrigues, José Saramago, Agustina Bessa-Luís, Mia Couto, António Lobo Antunes, Mário de Carvalho e Lídia Jorge, na cidade ficou a marca de mais um autor. Na sexta-feira, foram descerradas a frase e a silhueta do escritor portuense, que passaram a fazer parte da cidade, na Praça da Escritaria, no Sameiro, juntando-se às dos autores que foram homenageados nas outras sete edições do festival.

Mostrando-se grato pela forma como foi recebido pelos penafidelenses, “com grande generosidade, de maneira muito afectuosa e atenta”, o escritor deixou elogios ao Escritaria: “É uma iniciativa louvável, pelos objectivos e pela forma como é realizada, com muita imaginação, inteligência e grande sentido de rigor”. “O Escritaria transformou Penafiel numa espécie de Capital da Literatura Portuguesa Contemporânea. É uma ideia muito bonita, que coloca Penafiel no mapa da cultura portuguesa”, afirmou Mário Cláudio.

 

“Fui recebido com grande generosidade”

Na sexta-feira, Mário Cláudio, pseudónimo de Rui Manuel Pinto Barbot Costa, assistiu aos espectáculos de arte de rua baseados na sua obra e participou no descerrar da placa com a sua frase: “…irão acusar-te de me teres inventado, considerando-se muito argutos pela descoberta, mas não será verdade que cada biógrafo inventa o seu biografado, e que andamos todos nós a inventar-nos uns aos outros?”. Foi realizada ainda uma largada de balões com frases de todos os autores que passaram pelo Escritaria. No mesmo dia, o autor apresentou o seu novo livro, “Astronomia”, no Museu Municipal.

Ao VERDADEIRO OLHAR, Mário Cláudio falou da gratidão por ter recebido este convite para participar no Escritaria e da responsabilidade que isso significa. “Todos os autores que passaram por cá são ou foram meus amigos, pessoas com quem me cruzei muitas vezes e pelas quais tenho grande admiração”, referiu o escritor. Defendendo que as homenagens não são muito importantes, o portuense sustenta que é no entanto importante que “se chame atenção para o trabalho das pessoas”. “A validação do trabalho é indispensável para que o trabalho ganhe em qualidade e para que se difunda. É isso que está na raiz de iniciativas como esta”, afirmou.

Mário Cláudio disse-se ainda agradecido pela recepção dos penafidelenses. “Fui muito bem recebido, com grande generosidade, de maneira muito afectuosa e atenta. O que me interessa é isso, é poder dialogar e estar na vida dos outros por um bocadinho”, disse. Pela primeira vez no evento, o autor caracterizou o Escritaria como uma iniciativa “louvável, pelos objectivos e pela forma como é realizada com muita imaginação, inteligência e sentido grande de rigor”.

 

Mais de 300 alunos ajudaram a confeccionar a arte de rua

 

Já o presidente da Câmara Municipal de Penafiel garantiu ao VERDADEIRO OLHAR que a autarquia tem procurado inovar sem perder a essência do evento que tem trazido notoriedade ao concelho. “A todos os eventos da programação do Escritaria este ano quisemos associar o envolvimento das escolas do concelho. Mais de 300 alunos, do Agrupamento de Escolas de Paço de Sousa, do Agrupamento de Escolas de Pinheiro e da Escola Secundária de Penafiel, conceberam e executaram uma parte significativa da arte de rua”, deu como exemplo. Este é um evento “prestigiante”, que dá “visibilidade ao concelho” e que traz retorno ao longo do ano, com visitantes a procurarem a cidade, defendeu Antonino de Sousa.

“Depois de oito edições do Escritaria, a cidade, e todo o concelho, continua a viver intensamente a literatura, as letras e a lusofonia de uma forma completamente diferente. O Escritaria tem a capacidade de tirar as letras e a literatura dos lugares onde normalmente estão confinadas, trazendo a literatura para a rua”, realçou o autarca.

 

 

Poeta popular de Penafiel homenageado

No domingo, inserida nas actividades do Escritaria, foi realizada uma homenagem a Afonso Leal, poeta popular penafidelense que faleceu recentemente. “Era uma figura querida de Penafiel e dos penafidelenses. É o momento mais indicado para o homenagear”, defendeu Antonino de Sousa.

Afonso Leal foi recordado na Biblioteca Municipal, no encerramento do festival literário, com uma interpretação encenada e declamação de algumas das suas quadras.

Do seu extenso currículo, de destacar os poemas intitulados “Mãe” e “Se eu fosse pintor”, que fazem parte do álbum do Grupo de Guitarras de Penafiel, e ainda o seu livro “Pensamentos, Palavras e Poemas”.

 

 

Prémio Carreira/Jornalismo para o “poeta da rádio”

Durante o festival foi atribuído o Prémio Carreira/Jornalismo a Fernando Alves, jornalista da rádio TSF, com 40 anos de carreira.

“A organização da Escritaria decidiu de forma unânime atribuir o prémio carreira Jornalismo/ Escritaria 2015 a Fernando Alves pelo trabalho desenvolvido em prol e em defesa da língua portuguesa”, justifica a organização do festival literário.

Este prémio é entregue desde 2011 e tem como objectivo “estimular e premiar profissionais da comunicação social cujos trabalhos contribuam para a promoção da cultura e da língua portuguesa”.

Fernando Alves, o “poeta da rádio”, apresenta diariamente, há mais de 20 anos, o programa “Sinais”, na TSF, emissora que ajudou a fundar.