O pião de Valongo

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Nunca pensei que, na minha provecta idade, alguém me fosse oferecer um pião. Mas foi isso mesmo que aconteceu neste Natal, em mais uma e original gentileza de um velho amigo.

Devo dizer que foi com alguma emoção (e montes de saudades) que atei a faniqueira ao pião, bem apertadinha como se deve fazer, enrolando a outra ponta no dedo médio. Depois agarrei o pião com o bico para trás e lancei-o com êxito, pois ficou a rodar com força bastante para conseguir agarrá-lo e  apanhá-lo pondo-o a rodar na palma da mão.

Devo confessar que o lancei “à menina”, com um movimento da mão pararelo ao solo. Também tentei um lançamento “à rapaz”, com um movimento de alto a baixo – sem sucesso – mas acho que ainda vou consegui-lo…

E recordei os vários jogos que se faziam com piões, em que os vencedores tinham o direito de infligir ao pião derrotado umas tantas “nicas”, pancadas que o bico de ferro do vencedor aplicava no pião vencido, devidamente fixado no buraco de um muro. Para evitar danos excessivos pelas nicas, num bom pião, havia quem lhe protegesse o lombo espetando-lhe pioneses. Ou então servir-se para as penalidades de um pião mais velho, o… “pião das nicas”… claro!

O pião vinha muito bem acondicionado numa bela caixa de cartão e acompanhado de umas quantas delícias comestíveis. Nestas sobressaía uma lata redonda com tradicionais – e saborosos – biscoitos da Paupério. Na conversa em que agradeci a oferta, contou-me o meu amigo que Valongo era a “capital do brinquedo” e que o seu fabrico tem vindo a renascer – como o do pião – e o mesmo se passa com aquela fábrica de biscoitos, da mesma cidade, com a feliz descoberta de grande quantidade de antigas caixas para biscoitos, muito ao gosto dos consumidores atuais.

As coisas boas de Valongo não ficam por aqui, e queria referir o esforço que o seu município tem feito para o alojamento condigno de famílias carenciadas e creio que algumas delas já terão passado um Natal mais feliz.

E agora, se me dão licença, vou ver se dou mais uns giros ao pião: queria mesmo tentar o lançamento “à rapaz”, mesmo sem ter um pião das nicas onde aplicar as bicadas por um eventual bom sucesso.