As cidades, principalmente as mais urbanizadas, assistiram nos últimos anos à proliferação das grandes áreas comerciais, locais fechados onde se concentram diversas atividades económicas com potencial de complementaridade entre si e de atração de novos públicos. O comércio local, em paralelo, na forma como estávamos habituados, foi-se deteriorando progressivamente, com o encerramento de múltiplos espaços comerciais, alguns deles históricos.
A inevitável competição entre estes agentes económicos acaba por ser uma “luta” desigual, tendo em conta a diferença de argumentos, a capacidade de investimento e previsível retorno financeiro e a facilidade disponibilizada ao cliente, em função da diversidade e concentração de oferta e consequente satisfação do utilizador, adquiridos nos populares centros comerciais.
Mas por entre esta indefinição, o comércio local vai resistindo à pressão do mercado porque, tal como as pessoas afirmam, há qualquer coisa de diferente na loja de rua, desde o atendimento personalizado, à maior exclusividade, à proximidade e à garantia de qualidade. Se observarmos o território da região, verificamos que apenas no município de Paços de Ferreira está implementada uma grande unidade comercial desta tipologia, verificando-se nos restantes municípios uma predominância do comércio de rua, com pontuais centros comerciais de pequena dimensão, quase todos de circulação interligada com o espaço público, ou da presença de cadeias especializadas em determinados ramos.
Na nossa região, ainda conseguimos preservar essa identidade, mesmo que as cidades estejam a crescer, encontrando hábitos de consumo elevados nestes espaços, nomeadamente em Penafiel, Paredes, Lousada e em muitos outros pontos. A população tem vontade de visitar a sua loja preferencial nos centros das cidades ou nas freguesias de residência, recuperando velhos hábitos, o que leva a perceber que, em muitas situações, no final e feitas as contas, ficam mais satisfeitas.
A tendência tem dado sinais de estar a mudar, o que se comprova pelo ressurgimento das típicas mercearias com venda a granel, das lojas tradicionais e de outras formas de negócio, que tinham sido engolidas pelas grandes superfícies comerciais e que agora se reinventam, transpondo para o presente conceitos do passado, entretanto esquecidos no tempo.
Este esforço resulta, maioritariamente, da perseverança dos pequenos empresários e sai claramente alimentado por uma estratégia de valorização destas atividades, que alguns municípios fazem questão de adotar, ainda mais no momento em que vivemos, marcado pelas incertezas resultantes desta pandemia.
Importa refletir que, estas medidas não devem resultar de impulsos, quase sempre avulso, que apenas resolvem problemas pontuais, como aconteceu e bem nesta pandemia, sem atentar a aspetos estruturais, em que este setor mergulha há já muito tempo. Mais do que os incentivos, sempre bem-vindos e essenciais para estimular o dinamismo económico, é necessário criar condições para a fixação e atração de novos negócios, capazes de sustentar a criação de um polo convidativo para o público-alvo, potenciar as dinâmicas sociais, impactando indiretamente nos fluxos comerciais, e dar força à captação de população e ao seu interesse pela cidade, contrariando o apelo de outros pontos de interesse, caraterísticos dos grandes centros urbanos.
A normal convivência das duas modalidades é compatível, mas exige uma atenção redobrada sobre o elo mais fraco desta cadeia, quer do ponto de vista da sua capacidade individualizada, quer mesmo do poderio e condições mais vantajosas que estão associadas às grandes empresas, o que apela à disponibilização de mecanismos de proteção, por um lado, e de reforço do seu posicionamento no contexto social e económico municipal, por outro.
Para este objetivo, o contributo das Associações Empresariais e de outras instituições de proximidade ao comércio é vital para relançar esta atividade económica, na qual está integrada uma fatia significativa da população em Portugal e na região.