O fascínio pelos soldados da paz, a disponibilidade para ajudar os outros e o sentimento de entrega fazem parte do ADN do novo comandante interino dos Bombeiros de Baltar, António Ferreira, que  assumiu, no dia 1 de Janeiro, a gestão do corpo activo, na sequência da saída do anterior comandante da corporação, Delfim Cruz.

António Ferreira confessa que foi a sua ligação aos bombeiros e à Associação Humanitária  que o levou a aceitar o desafio lançado pela actual direcção e a querer continuar com o rumo que foi traçado em prol de uma missão nobre e que representa um desafio para qualquer ser humano.

Com um currículo ligado aos bombeiros e apesar de estar ainda a exercer funções de comandante interino, António Ferreira deverá ver o seu processo para ascender definitivamente a comandante, a curto prazo, após parecer final do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS). Na corporação já é tratado como comandante.

NOS BOMBEIROS Há 30 anos 

Foto: Miguel Sousa/Verdadeiro Olhar

Admirador do espírito de coragem, da abnegação e de disponibilidade dos soldados da paz, o comandante interino afirma ser uma pessoa exigente, um bombeiro entre muitos que tem como prioridades unir a corporação, garantir a operacionalidade do corpo activo e servir a comunidade.

“Fui convidado pela direcção no dia 27 de Dezembro do ano passado. Pedi um período de reflexão, reuni depois com os bombeiros e aceitei o convite para exercer as funções de comandante interino. Estou consciente dos desafios, a responsabilidade do que é ser comandante, mas a experiência acumulada ao longo dos anos, o facto de ter estado no quadro de comando durante 12 anos e de conhecer a parte operacional dão-me algum conforto na assumpção das minhas novas responsabilidades. Até costumo dizer que não é nada que não tivesse feito antes e para o qual não estivesse preparado. Conheço esta casa há muitos anos, tenho um bom relacionamento com todos e venho para ajudar”, afirmou.

Ao Verdadeiro Olhar, o comandante interino, o oficial mais graduado do corpo activo, assumiu que a vontade de fazer parte dos Bombeiros de Baltar começou a ganhar raízes quando ainda era muito novo.

O facto de viver próximo do antigo quartel dos bombeiros e de frequentar o café da corporação, facilitaram a aproximação aos soldados da paz e ajudou a cimentar a paixão que já tinha pela missão.

Foto: Miguel Sousa/Verdadeiro Olhar

“Comecei a frequentar as instalações do antigo quartel muito cedo, vivia atrás do quartel e como tal respirava o ambiente da corporação. Vinha frequentemente ao bar dos bombeiros tomar café. Quando fiz 21/22 anos, o comandante à data, Hipólito de Sousa, fez-me o convite para ingressar como motorista auxiliar, arrastou-me, digamos, de alguma forma para esta causa e há 30 anos que estou na corporação”, adiantou, sustentando que depois fez a escola de bombeiro de terceira, tendo sido convidado por Delfim Cruz para integrar o quadro do comando, função que ocupa desde 2008.

“A saída de qualquer comandante é sempre uma perda para as corporações. Não pretendo substituir ninguém. Apenas vou dar continuidade ao trabalho que vinha sendo realizado”

Questionado sobre as suas novas funções, António Ferreira, parco em palavras, manifestou querer continuar o legado que o anterior comandante dos Bombeiros de Baltar, Delfim Cruz, lhe deixou. “A saída de qualquer comandante é sempre uma perda para as corporações, assim como foi a saída do comandante Hipólito Sousa. Não pretendo substituir ninguém. Apenas vou dar continuidade ao trabalho que vinha sendo realizado. Reconheço que o comandante Delfim foi um grande comandante que marcou o corpo activo e a instituição. Foi sempre o meu comandante”, avançou, optando por não comentar as  razões que precipitaram a à saída do anterior comandante.

“Não gostaria de abordar esse tema. Assumi e aceitei o convite que me foi feito porque gosto dos bombeiros, partilho dos valores e do sentido de missão que lhes estão subjacentes e tenho como metas unir o corpo activo, assegurar o espírito de equipa que sempre norteou a corporação assim como cumprir com a prestação do socorro e as missões que me estão confiadas no âmbito do serviço operacional”, adiantou, afirmando estar convicto que irá encontrar a mesma entrega e compromisso por parte dos bombeiros.

“Os bombeiros de Baltar sempre foram uma família, sempre evidenciaram entrega, dedicação, profissionalismo. Como disse compete-me dar continuidade ao trabalho que vinha sendo desenvolvido e conto, para isso, com o apoio dos meus pares, dos bombeiros, pois só garantindo a união e a convergência de esforços poderemos obter resultados e garantir as missões que hoje nos estão atribuídas”, esclareceu.

“Quero apostar na formação, nos equipamentos e na protecção individual. Quando se trata de pessoas não podemos facilitar”

Foto: Miguel Sousa/Verdadeiro Olhar

No quadro daquilo que são os seus objectivos, António Ferreira, apontou, também, a aposta na formação como sendo uma das metas que irá prosseguir.

A este propósito, o novo comandante reconheceu que os soldados da paz estão, hoje, confrontados com novos desafios e novas solicitações, operam em diferentes cenários e contextos e têm de estar devidamente preparados para dar resposta e fazer face a essas solicitações com prontidão, eficácia e eficiência.

“Quero apostar na formação, nos equipamentos e na protecção individual. Quando se trata de pessoas não podemos facilitar. Temos uma escola que terminou no final do ano e queremos dotar esses elementos dos respectivos equipamentos de protecção individual”, asseverou, sublinhando que a corporação dispõe de cerca de 90 efectivos e cerca de 30 viaturas, estando devidamente equipada e preparada para intervir em qualquer cenário.

“O parque automóvel está dotado dos meios necessários, temos uma área densa com uma significativa mancha florestal e urbana que integra as localidades de Gandra, Vandoma, Vila Cova, Recarei até ao Salto, sendo a margem direita que liga Recarei a Aguiar de Sousa da responsabilidade dos Bombeiros de Baltar. Em caso de necessidade, estamos próximos de Paredes e dispomos de quatro corporações no concelho e rapidamente conseguimos reunir os meios necessários”, esclareceu, defendendo que mesmo em termos de incêndios industriais, a corporação dispõe de meios para intervir em qualquer contexto.

“Sou empresário, venho da área da panificação, e verifico que além da formação dos bombeiros os próprios empresários têm, hoje, uma maior sensibilidade. Houve uma evolução significativa neste domínio”, assegurou, confirmando que nos bombeiros de Baltar não acontece o que acontece noutras corporações quando toca a sirene e os soldados da paz têm que deixar os seus empregos.

“Sabemos que a saída de um bombeiro tem sempre um custo para as entidades empregadoras e por isso não temos bombeiros empregados. Sei que nem sempre é fácil porque também sou empresário e a saída de um bombeiro, sobretudo, se esta situação se repetir sistematicamente, tem um custo associado”, afiançou.

Como voluntário que é, António Ferreira concordou que o bombeiro tem de estar preparado para intervir, ajudar o próximo e na sua missão e no exercício da sua actividade profissional, encontra adversidades, sendo que o risco está sempre presente a essa actividade.

Foto: Miguel Sousa/Verdadeiro Olhar

“Recordo-me de um acidente, fomos chamados para prestar assistência e quando chegamos ao local fomos confrontados com um sinistrado que tinha entrado em paragem cardio-respiratória. Após várias tentativas de reanimação, felizmente conseguimos trazê-lo para o lado de cá. São estes e episódios que nos motivam, fazem a diferença e valorizam a nossa missão. Na altura, senti que tinha cumprido com o meu dever”, referiu, recordando um outro episódio de uma menina, de Vandoma, que entrou também em paragem cardio-respiratória no dia de Natal, há cerca de três quatro anos, em que a intervenção dos bombeiros foi igualmente determinante. “Mais tarde, a criança veio cá numa formatura agradecer aos bombeiros. Já estava a ser seguida no hospital, entrou em paragem e os bombeiros de Baltar agiram de imediato, tendo sido depois transportada depois para o S. João”, sustentou, apontando, também, uma outra situação de uma outra criança que os pais tiveram um acidente na auto-estrada, esta mais recente.

“A criança fez questão de vir agradecer pessoalmente aos bombeiros. É sempre gratificante ver que o nosso trabalho e a nossa missão são reconhecidos”, afiançou, contrapondo a esta realidade uma outra, a falta de apoio aos soldados da paz.

“Os Bombeiros deveriam ter mais benefícios. Os voluntários não têm praticamente nada. Beneficiam da taxa moderadora nos centros de saúdes e nos hospitais se estiverem de serviço, caso se desloquem a título pessoal já não beneficiam da isenção. Acho que as autoridades deveriam estar mais próximas dos bombeiros até porque são um dos pilares da protecção civil”, considerou.

A par da falta de benefícios sociais, António Ferreira concordou, também, que outros dos problemas com que as corporações se vêem confrontadas é a falta de voluntários, reconhecendo que os sacrifícios da vida pessoal, são obstáculos a ter em conta.

“A vida mudou. As pessoas nem sempre estão disponíveis e aquelas que estão acabam por abandonar porque efectivamente não conseguem dar continuidade”, declarou, admitindo ser o voluntariado tem menos custos para as corporações, embora o tema do profissionalismo seja, admitiu, uma questão que tem estado igualmente em debate.

“Não sei o que irá acontecer. Só o futuro o dirá”, concretizou.