Já comanda a corporação desde Julho do ano passado, mas, este domingo, Alexandre Alves toma posse, oficial, do cargo de comandante dos Bombeiros Voluntários de Penafiel.

A sua vida tem sido toda dedicada à área do socorro e protecção civil. Mesmo não sendo natural de Penafiel, foi na corporação que se tornou bombeiro há 26 anos e que vem fazendo carreira de forma natural. Ser comandante não era ambição, mas aceitou o desafio para corresponder aos anseios dos Bombeiros de Penafiel e para continuar o caminho que tem vindo a ser trilhado nos últimos anos, com mais aposta na formação, na qualificação dos soldados da paz e em equipamentos de protecção e socorro.

Assume que antes de tomar qualquer medida se põe no lugar dos bombeiros.

Bombeiro em Penafiel desde os 26 anos

Tem 48 anos e é natural de Macieira da Lixa, Felgueiras. Foi aí que fez a escola primária antes de seguir para o Colégio de São Gonçalo, em Amarante, onde fez o restante percurso educativo até ao 12.º ano. Juntou-se aos pais, que estavam a morar em Penafiel, por volta dos 16 anos e, desde essa altura, a sua vida cruza-se com a do concelho.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Começou a trabalhar no Centro de Coordenação Operacional de Penafiel, situado nas instalações do quartel dos Bombeiros Voluntários de Penafiel, em 1991. Tinha feito um curso técnico de informática e foi ele que deu formação a colegas que nunca tinham visto um teclado ou um computador, conta. Eram os inícios dos comandos distritais operacionais de operações de socorro e as suas funções passavam por receber e despachar alertas, reforços de meios e registos de ocorrências.

Os tempos eram muito diferentes. “Estou desde o início até à automatização. As minhas funções são as mesmas”, explica. “Antes os corpos de bombeiros ligavam para cá, era tudo por telefone. Não havia computadores. Agora é tudo online e ao segundo”, compara. Foi operador até 2014, altura em que passou a responsável pela sala de gestão de operações de emergência no Comando Distrital de Operações de Socorro do Porto. Deixou de fazer turnos e passou a gerir as ocorrências mais graves. Está disponível 24 horas por dia. “Continuo a apagar muitos fogos, sentado com o telefone e o rádio”, salienta.

O gosto e o conhecimento pela causa fê-lo querer entrar nos bombeiros. Ingressou na corporação de Penafiel em 1997, aos 26 anos.

“Via os bombeiros a sair e a adrenalina quando tocava a sirene. Queria estar no teatro de operações e conhecer as dificuldades”, explica. Fez a carreira de aspirante, depois de bombeiro de terceira de segunda até que, há cerca de 10 anos, foi convidado por António Rodrigues, que comandou a corporação até ao ano passado, para assumir funções como adjunto de comando. É bombeiro de primeira.

Fez parte da mudança dos últimos 10 anos e quer continuá-la

Foram 10 anos de muito trabalho, admite. Chegou numa altura de mudança em que se exigia cada vez mais aos bombeiros e foi com a sua ajuda que se implementaram várias alterações nos Bombeiros de Penafiel. “Evoluímos muito. Mérito também do anterior comandante que reuniu uma equipa boa e nos deu espaço para fazer alterações”, salienta Alexandre Alves.

“Nestes 10 anos a maior aposta foi o equipamento de protecção individual, porque a segurança dos bombeiros é fundamental. Têm que estar equipados para não correr riscos”, defende o comandante.

Fez-se formação e qualificação dos bombeiros e adquiriu-se equipamento. “Todos os bombeiros têm novos Nomex (fatos de protecção individual), quando entrei eram cinco. Quase que triplicou o número de ARICAS (aparelho respiratório isolante de circuito aberto) para o combate a fogos urbanos e industriais e com matérias perigosas. E temos duas salas de formação com todas as condições”, dá como exemplo.

Na formação a evolução também foi grande. “Quando entrei Não havia nenhum TAS (tripulante de ambulância de socorro), neste momento temos 18. Temos dois formadores de TAT (tripulante de ambulância de transporte), um formador de salvamento e desencarceramento, uma bombeira responsável pela formação de liderança e motivação humana que é chefe da equipa psicossocial da região Norte, um formador de condução fora de estrada e temos bombeiros formadores em suporte básico de vida”, refere. “O caminho é este e queremos ter formadores em todas as áreas. Falta-nos em fogos urbanos e rurais e em operadores de telecomunicações”, acrescenta.

O “acaso” de ser comandante

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Chegar a comandante foi “um acaso”, confessa. E não aceitou logo. “Uma coisa é ser adjunto e isso já é muita responsabilidade. Outra coisa é ser comandante. É um patamar acima. Não é mais trabalho, mas é ter a responsabilidade toda”, clarifica.

Acedeu a aceitar o desafio porque “havia vontade dos bombeiros de que não houvesse grandes mudanças porque estávamos no bom caminho”. A direcção, recorda, colocou a decisão de quem seria o novo comandante, devido à saída de António Rodrigues, comandante há mais de uma década, que teve que sair por limite de idade, entre os dois adjuntos de comando. Em concordância com o outro adjunto, José Silva, que agora assumirá as funções de segundo comandante, Alexandre Alves resolveu avançar. “Vamo-nos complementando. Eu mais na sala e ele mais no teatro de operações. É um trabalho de equipa e acho que ele mais tarde ou mais cedo vai chegar a comandante”, acredita.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

“O presidente aceitou e os bombeiros também aceitaram, não houve contestação interna”, diz com orgulho. Se o houvesse neste período desde que está a exercer funções de comandante interino, desde Julho do ano passado, ter-se-ia afastado e continuado a exercer funções como bombeiro, afirma. “Não estava agarrado ao lugar. A minha primeira preocupação são sempre os bombeiros”, frisa o novo comandante da corporação de Penafiel.

“Acho que não houve contestação porque não caí cá de paraquedas. Não deixo de ser bombeiro e em todas as medidas que tomo penso-as como bombeiro”, garante.

Mais formação, renovação de viaturas e recrutamento de mais bombeiros são objectivo

No futuro, Alexandre Alves não tem dúvidas das apostas a fazer. É preciso mais formação, renovar alguns equipamentos e apostar no rejuvenescimento da corporação.

“O veículo de salvamento e desencarceramento está um bocadinho desactualizado, apesar de estar bem equipado. No futuro é fundamental substituir este veículo porque só tem três lugares quando as actuais equipas são de seis elementos, o que exige sempre a saída de um segundo veículo”, justificou.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Por outro lado, a já muito falada auto-escada também é uma necessidade e uma ambição, sobretudo numa cidade em que se tem apostado na construção em altura.

A luta pela renovação de veículos é constante, no que toca às ambulâncias de socorro e transporte de doentes, mas “a população pode estar descansada” com a qualidade dos veículos que tem ao dispor, sustenta o novo comandante.

Os Bombeiros de Penafiel são uma das corporações que tem “mais área florestal e de socorro” e que ”a nível dos incêndios rurais tem mais ignições no país”. Além disso, lembrou o comandante, os soldados da paz desta corporação estão sempre a ajudar os outros em qualquer ponto, integrando os grupos que acorrem aos grandes incêndios do país, como aconteceu com Pedrógão. “Se conseguimos estar em todo o lado é porque os bombeiros quando é preciso estão cá”, salientou.

São cerca de 90 no corpo activo. Mas não são muitos. Uma das apostas passa por aumentar esse número com campanhas de angariação de voluntários e escolinhas de formação. “Queremos tentar revitalizar a secção de Abragão e para isso é preciso pessoas. Temos que garantir que o voluntariado não morre”, defende Alexandre Alves.

O novo comandante dos Bombeiros de Penafiel é casado e tem quatro filhos. A esposa integrou uma das últimas escolas de formação e também é bombeira na corporação.