Noel Ferreira vai ser empossado, este domingo, comandante dos Bombeiros Voluntários de Cete, durante as cerimónias que assinalam as comemorações do 93.º aniversário da corporação.
O capitão tem 34 anos de idade, é piloto-aviador da Força Aérea Portuguesa onde faz também busca e salvamento, licenciado pela Academia da Força Aérea em pilotagem aeronáutica, e assume que quer ser um factor de coesão dentro da instituição e um elo entre a direcção e os bombeiros.
Recorde-se que a imposição das insígnias ao novo comandante decorre após um período de turbulência que levou à saída da anterior direcção e do comandante.
“Não estou apegado a nenhum cargo. fui escolhido pelo corpo activo e tanto estou em Cete como vou embora se acharem que já não estou a cumprir com as minhas funções”
O responsável pelo corpo activo assumiu que, apesar de estar há anos na Força Aérea, manteve sempre uma ligação aos Bombeiros de Cete e às pessoas da corporação, factor que pesou e o levou a aceitar o convite que lhe foi endereçado pela actual direcção.
“Mantive-me na corporação durante cinco anos até ter conseguido entrar para a Academia da Força Aérea, em regime de internato, o que acabou por me ocupar o tempo todo. Deixei de estar nos bombeiros embora mantivesse contacto com as pessoas da corporação. Essa proximidade, e o facto de os bombeiros terem pedido a demissão da anterior direcção e do seu comandante, o que deixou a instituição numa situação bastante difícil, fez com que fosse convidado para representar o corpo activo nessa fase critica para a corporação. Findo esse processo, a direcção convidou-me para assumir as funções de comandante”, disse.
Falando do diferendo entre os bombeiros e a ex-direcção e o comandante de então, Noel Ferreira reconheceu que este foi um período conturbado na história da instituição, mas que foi solucionado, sendo seu propósito formar um corpo de bombeiros coeso e unido, reforçar os laços institucionais entre a actual direcção e os soldados da paz e reganhar a confiança que a população local tinha na corporação.
“Foi uma fase bastante conturbada como é do conhecimento público e mais do que estar a assacar responsabilidades, não é isso que me interessa, mas é um facto que neste processo a instituição foi a que mais perdeu”, expressou, salientando que veio para o comando com o objectivo de dar o seu melhor e ser um factor de coesão e união.
“Costumo dizer que temos os melhores bombeiros do mundo”
“Não estou apegado a nenhum cargo. Fui escolhido pelo corpo activo e tanto estou em Cete como vou embora se acharem que já não estou a servir o corpo activo nem a cumprir com as minhas funções. Não dependo dos bombeiros, estou aqui de corpo e alma porque gosto da corporação, quero o melhor para a instituição, sou um voluntário que não aufere qualquer remuneração. Nunca foi meu objectivo vir a ser comandante numa corporação de bombeiros”, avançou.
Sobre a sua gestão à frente do comando, o capitão Noel Ferreira realçou, também, que não espera dificuldades acrescidas, dado dispor de um corpo activo com voluntários muito bem preparados e que estão devidamente capacitados para fazer face às muitas solicitações com que os bombeiros hoje estão confrontados.
“Costumo dizer que temos os melhores bombeiros do mundo. Sinto que estão comigo o que facilita imenso a minha tarefa e a relação que mantenho com todos os elementos da corporação. Sinto que tenho os soldados da paz comigo, embora, garantidamente, dentro de um corpo activo haja sempre elementos que podem discordar disto ou daquilo. Espero trazer sangue novo, até porque existem sempre vícios instalados numa instituição que tem perto de cem anos”, destacou. “Tenho consciência que estou perante um novo desafio, não vou ser facilitador em termos de acção, mas serei sempre uma pessoa com que os bombeiros podem contar e um gestor de conflitos”, assumiu ainda.
“São necessários cerca de 700 mil euros para substituir as actuais viaturas e dotar parque automóvel de novos Carros”
Questionado sobre o parque automóvel dos Bombeiros de Cete, o capitão Noel Ferreira referiu que faltam viaturas de socorro e de combate a incêndios florestais uma vez que as existentes são antigas e já não respondem com eficácia e eficiência aos desafios que são colocados, presentemente, aos bombeiros em matéria operacional.
“Em termos de viaturas de socorro temos muitas fragilidades e todo o nosso parque está degradado. Temos viaturas envelhecidas que têm poucos quilómetros que não cumprem os requisitos operacionais. Ao nível do socorro, precisamos urgentemente de ter um carro de desencarceramento dado que as duas viaturas de desencarceramento que dispomos não fazem uma, isto é, uma tem todas as condições para acoplar o material, mas a máquina está envelhecida e a outra embora sendo nova não cumpre com os requisitos mínimos para acoplar o material. Em termos de socorro necessitamos, também, de adquirir Ambulâncias de Socorro. Temos uma que cumpre e que está operacional, as outras vão parar assim que houver hipóteses”, afiançou.
No que toca às viaturas de combate aos fogos florestais, o responsável pelo corpo activo destacou que a corporação dispõe de viaturas ligeiras e de carros de combate pesados.
“Nos ligeiros não estamos mal apesar de temos uma frota envelhecida, mas que consegue dar conta do recado. Já as viaturas pesadas de combate a incêndios, o cenário é muito mau. Precisamos de substituir tudo o que temos, estamos a falar de dois veículos florestais de combate a incêndios e um Veículo Tanque Táctico Florestal”, sustentou, sublinhando que para dotar a corporação só com viaturas de combate a incêndios florestais são necessários cerca de 500 mil euros, sendo que o bolo total necessário para remodelar o parque de viaturas é de cerca de 700 mil euros.
“a minha preocupação é o espaço para os bombeiros. Estamos a falar de um espaço diminuto, muito degradado, de construção antiga”
Além do parque automóvel, o capitão Noel Ferreira elegeu como sendo uma prioridade a requalificação do quartel dos bombeiros, intervindo ao nível das camaratas, das casas de banho e espaços de lazer, melhorando as condições físicas existentes de forma a permitir que os soldados da paz disponham de condições mínimas.
“Quero ter menos mas melhor. Não quero ter um parque automóvel com muitas viaturas, preciso é de ter a certeza que as viaturas que temos são seguras para os operacionais e que cumprem os requisitos. Em termos de espaço, a minha prioridade não tem a ver com o parque automóvel, a minha preocupação é o espaço para os bombeiros. Estamos a falar de um espaço diminuto, muito degradado, a construção é antiga. Eventualmente quando foi construído quem pensou a obra não pensou na evolução que os bombeiros, entretanto, tiveram”, confessou, garantindo estarmos a falar de uma requalificação bastante avultada e que a direcção tem feito, todavia, um esforço para melhorar o espaço.
“Sou a favor da profissionalização dos bombeiros”
Quanto aos recursos humanos, o capitão Noel Ferreira realçou ser a favor da profissionalização dos bombeiros com a formação adequada.
“Sou a favor da profissionalização dos bombeiros. É difícil conseguir exigir alguma coisa a quem é voluntário porque por muita boa vontade que exista por parte dos voluntários só vão cumprir com o que lhes for possível cumprir, enquanto os profissionais não. O voluntariado deve servir para complementar o socorro. Agora, estar na dependência de voluntários para cumprir o socorro não acho que seja uma boa política”, asseverou, informando que o corpo activo tem aproximadamente 50 bombeiros e que os operacionais existentes são suficientes apesar das múltiplas solicitações de que são alvo.
“Havia pessoas que estavam no quadro activo, mas que não cumpriam com os requisitos mínimos pelo que o quadro activo reduziu significativamente. Numa primeira fase aumentou com o regresso dos bombeiros à corporação, passando para 65, mas que com a passagem ao quadro de reserva diminuíram na ordem dos 10 ou 15″, referiu, manifestando, no entanto, que voluntários continuam a ter um papel primordial nas corporações e defendendo o seu reforço do quadro activo.
Refira-se que, no âmbito das celebrações dos 93.º aniversário dos Bombeiros de Cete, vai ser apresentado um corpo de bombeiros constituído por 43 bombeiros, 17 estagiários, dois cadetes e dois infantes. Recorde-se, ainda, que no âmbito dos acontecimentos que marcaram o início de 2017, o corpo activo ficou reduzido a 19 bombeiros.
Os Bombeiros de Cete têm uma área de influência que abrange as freguesias de Cete, Parada, Recarei, Sobreira e Aguiar de Sousa, sendo a corporação que tem a maior mancha florestal do concelho ao seu cuidado.