A Comunidade Intermunicipal (CIM) do Tâmega e Sousa premiou, esta sexta-feira, as melhores ideias de negócio, as empresas mais inovadoras e os melhores exemplos de inovação social.
Ao todo, foram nove os projectos distinguidos na 2.ª edição do Concurso “TâmegaSousa Empreendedor – Onde as ideias se concretizam!”, distribuídos por três categorias. O objectivo desta iniciativa é estimular o empreendedorismo inovador na região.
Os grandes vencedores foram o projecto Walkest, um novo conceito de botas, a empresa I.S.I. Indústria de Solas Injectadas, Lda, e uma estrutura de Apoio a Doentes Oncológicos.
A sessão de entrega de prémios, que decorreu no auditório do Parque de Feiras e Exposições em Penafiel, contou com a presença do ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral.
Houve 126 candidaturas
No total foram apresentadas 126 candidaturas a este concurso que procurava ideias, empresas e projectos sociais que contribuam para o desenvolvimento económico e social da região do Tâmega e Sousa.
A primeira categoria “Ideias com futuro” destinava-se a premiar ideias de negócio em fase de projecto que potenciem o aparecimento de novos produtos, novos processos produtivos, novos serviços, novas formas de comercialização ou novas abordagens de mercado. O grande vencedor foi o projecto Walkest, de Carlos Gonçalves, um jovem de 23 anos, de Amarante, que interrompeu os estudos na universidade para desenvolver um novo conceito de botas. “O meu pai fazia artesanato e já fez calçado. Tive a facilidade de conhecer o processo de fabrico. Em 72 dias desenvolvi a ideia e o próprio protótipo. Foi tudo muito rápido mas muito trabalho”, explicou. Estas novas botas são desenvolvidas artesanalmente, com peles de origem animal mas com processos de tratamento vegetal. “O objectivo é fazer uma bota o mais ecológica possível. Este protótipo ainda não é o ideal, mas para chegar longe temos que dar o primeiro passo”, sustentou Carlos Gonçalves. Além disso, adiantou, por cada par de botas vendidas serão plantadas duas árvores. Esta distinção é validação da ideia. Agora vai avançar com uma campanha de crowdfunding, que vai começar a meio de Agosto e ficará concluída a meio de Setembro, cuja meta é angariar 15 mil euros. “Este prémio monetário vai ajudar, até pela divulgação”, acredita o jovem. Em segundo lugar ficou o projecto atTâmega: turismo criativo e idiomático e em terceiro o i-BedBaby (Intelligent Baby Bed).
Na segunda categoria a concurso, que visava apoiar empresas “com futuro”, dedicadas à inovação e criatividade, foi premiada a I.S.I. Indústria de Solas Injectadas, Lda, empresa de Felgueiras que se dedica à produção e acabamento de solas injectadas e pré-fabricadas. Vencer foi uma surpresa, afirmou Vítor Mendes, até porque na região há muitas empresas com projectos de inovação. “Ficamos satisfeitos por ao fim destes 20 anos de trabalho termos mais este motivo de orgulho e validação. O reconhecimento é o principal prémio, já que a parte económica para nós não é o mais importante”, assegurou o empresário. “A empresa distingue-se pela capacidade de desenvolvimento e criação de produtos, pela versatilidade que consegue apresentar e pela capacidade técnica que tem. A nível tecnológico somos das empresas melhor preparadas da Europa”, acrescentou Vítor Mendes. No ano passado, a empresa facturou 8,6 milhões de euros. Produz em média 20 mil pares de solas por dia e exporta (directa e indirectamente) 99% da produção. Em segundo lugar ficou a Metalúrgica do Fojo Lda e em terceiro a Magnolinspiração Lda.
Por fim, na categoria de “Inovação social com futuro”, que premeia ideias de inovação social que procurem dar resposta a problemas importantes e negligenciados da sociedade, venceu um projecto de Apoio a Doentes Oncológicos, “Na Coordenação e acompanhamento nas Consultas e Tratamentos nos Hospitais”.
Foi com emoção que José Nunes, de Castelo de Paiva, subiu ao palco para receber o prémio. “Gostei de ver as pessoas acreditar no projecto que dá transporte a quem não tem forma de ir para os tratamentos e coloca voluntários a acompanhar os doentes”, disse. “Esta comunidade ter acreditado no meu projecto e nas minhas ideias faz-me pensar que é possível concretizar o meu sonho”, acrescentou o vencedor, também ele doente oncológico. José Nunes acredita que este prémio vai ajudar a divulgar o projecto junto da comunidade. O dinheiro será usado para adquirir um computador e uma impressora para os serviços administrativos. “Mas se houver alguém que queira oferecer o dinheiro será encaminhado para outros fins”, apela. A instituição, criada em 2015, tem protocolos com os hospitais de Santo António e São João, com o IPO e com o Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Foram ainda distinguidas a empresa social Paladares Paroquiais, de Paços de Ferreira, e o projecto “O divã do Cabeleireiro”, de Lousada.
“O vosso sucesso é o sucesso da região e do país”
Na abertura da sessão, Susana Oliveira, vice-presidente da Câmara Municipal de Penafiel, destacou que este concurso visa “alavancar o desenvolvimento económico do Tâmega e Sousa”. “Os autarcas têm o dever de abrir portas aos empreendedores, de dar-lhes oportunidades, para que possam transformar o território num espaço mais inovador, mais capaz e mais atractivo. O sector público tem que ser facilitador e criar condições para que os empresários e empreendedores possam escolher o nosso território para investir”, defendeu a autarca.
Mais tarde, Inácio Ribeiro, presidente do Conselho Intermunicipal da CIM do Tâmega e Sousa falou de um território com mais de 425 mil habitantes e muitas coisas boas, mas também muitas debilidades. “Temos um rendimento per capita de 70% e temos que o fazer subir. Mas o nosso território exporta 2,5 vezes mais do que importa e temos os municípios mais jovens do país”, disse.
O também presidente da Câmara Municipal de Felgueiras lamentou que a região tenha menos 100 milhões de euros à disposição no âmbito do Portugal 2020, em relação ao quadro comunitário anterior, e pediu ajuda ao ministro da Economia para conseguir um maior envelope financeiro para os municípios e também ajuda para combater o problema dos jovens “nem nem” e para aumentar a empregabilidade. O autarca pediu ainda atenção a infra-estruturas há muito reivindicadas pela região, como o IC35 e a electrificação da Linha do Douro.
“O sonho é a arma mais potente de que o homem dispõe, disse Inácio Ribeiro, elogiando a qualidade dos projectos desta e da primeira edição do concurso. “O vosso sucesso é o sucesso da região e do país”, lembrou aos empreendedores.
“É muito importante estimular o empreendedorismo”
O ministro da Economia deixou os parabéns aos premiados. “Gostei das categorias escolhidas. É muito importante estimular o empreendedorismo, mas também olhar para as empresas já estabelecidas, que sabem fazer a diferença e criar valor dentro do seu sector, e para os projectos de empreendedorismo social”, referiu.
Para Manuel Caldeira Cabral convém entender que “o empreendedorismo é algo de muito sério e não é obrigatoriamente para todas as pessoas”. “Nem todos os projectos empreendedores são, em primeiro lugar, acerca de ter lucro. Ter lucro é importante e é um factor de incentivo e de promoção social. São esses projectos que têm potencial para criar emprego e riqueza. Mas muitos dos projectos de empreendedorismo tecnológico que conheço das universidades é muito mais motivado por mudar o mundo do que para ter lucro e muitos ligados ao empreendedorismo social tem outras motivações”, deu como exemplo.
Caracterizando o Tâmega e Sousa como uma região “bonita” e com “empreendedorismo muito forte”, o governante reconheceu o baixo rendimento per capita, abaixo da média nacional. “Temos que trabalhar para criar valor nos produtos, diferenciá-los, incorporar mais tecnologia, certificá-los para entrarem na cadeia de valor mais à frente e traduzir isso em mais inovação e valor económico”, afirmou, apontando um caminho que já tem vindo a ser trilhado.
Sobre os pedidos de Inácio Ribeiro, o ministro foi claro: “eu não controlo os fundos estruturais regionais”.
Quatro empresários de sucesso deram o seu testemunho
Antes de serem conhecidos os nomes dos vencedores, quatro empresários de referência da região falaram do seu exemplo de empreendedorismo: João Sousa, CEO da Onwork – Technical and Functional Wear; Vítor Barbosa, CEO da Nautilus, SA; António Pinto, fundador e administrador da AJP Motos; e Carlos Macedo, do grupo Macedo’s Pirotecnia.
“O empreendedorismo dá trabalho”, começou por salientar João Sousa, dizendo que os primeiros dois anos de uma empresa são muito difíceis. “As parcerias são fundamentais” e “é importante comunicar”, garantiu. “Temos que saber dizer aos outros o que fazemos”, acrescentou o empresário.
“É preciso saber pensar em grande. Se não inovarmos morremos. Isso tem que fazer parte da nossa cultura”, salientou Vítor Barbosa. “E é preciso acreditar naquilo que fazemos. Eu acredito. Tive que ir competir e ser campeão nacional para mostrar o valor das minhas motos. E é preciso trabalhar, claro”, disse António Pinto.
“Ser empreendedor é pegar no que fazemos bem e projectá-lo”, sustentou Carlos Macedo, reconhecendo que faltam apoios a muitas empresas para conseguirem entrar no mercado.
O Concurso “TâmegaSousa Empreendedor – Onde as ideias se concretizam!” é promovido pela Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa em parceria com várias entidades.
A iniciativa é co-financiada pelo Norte 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
Vencedores do concurso
Categoria 1
- Walkest
- atTâmega: turismo criativo e idiomático
- i-BedBaby (Intelligent Baby Bed)
Categoria 2
- I.S.I. Indústria de Solas Injectadas, Lda.
- Metalúrgica do Fojo Lda.
- Magnolinspiração Lda.
Categoria 3
- Apoio a Doentes Oncológicos – Na Coordenação e acompanhamento nas Consultas e Tratamentos nos Hospitais
- Paladares Paroquiais
- O divã do Cabeleireiro