O Serviço Nacional de Saúde (SNS) teve um desenvolvimento “fantástico” e permitiu “um grande crescimento da oferta de saúde em Portugal” e esbater desigualdades, mas “a verdade é que nos últimos anos o SNS tem mirrado”, afirmou o Bastonário da Ordem dos Médicos, em Lousada.
Miguel Guimarães, que participou na sessão de encerramento do 29.º Encontro do Internato de Medicina Geral e Familiar da Zona Norte – que contou com mais de 850 inscritos, 500 deles em modo presencial -, acrescentou que o SNS tem “mirrado” porque “não podemos continuar a ter um serviço de saúde que é gerido como era gerido há 43 anos atrás. “Temos de ter um SNS mais moderno, capaz de competir com o sector privado e com os outros países, capaz de oferecer condições de trabalho adequadas aos médicos que trabalham no SNS e, nomeadamente, aos médicos de família”, defendeu, apontando como exemplos de obstáculos “as disfunções informáticas nos vários sistemas” ou “o excesso de trabalho burocrático e administrativo” a que os médicos estão sujeitos e que “ocupa uma percentagem significativa do tempo que podia ser libertada para os doentes”. Por isso, argumentou ainda o Bastonário, o SNS “tem de ser capaz de melhorar as condições globais da carreira médica, incluindo a valorização do trabalho”.
“Enquanto o SNS não se adaptar a esta realidade nós podemos continuar a ter uma descapitalização em termos humanos do SNS que nenhum de nós quer. (…) Todos nós queremos um SNS mais robusto e com mais capacidade de resposta, mas que respeite os nossos doentes respeitando os profissionais que o fazem acontecer todos os dias”, ressalvou.
E porque isso “tem de ser uma exigência de todos os médicos”, Miguel Guimarães avançou: “É isso que vamos fazer perante o novo Ministério da Saúde. É ter um SNS capaz de competir, é ter uma nova carreira médica que consiga criar condições para que os médicos optem em primeiro lugar por ficar no SNS”.
O Bastonário elogiou ainda o papel dos médicos internos e destacou a evolução notável dos médicos de família desde que a especialidade apareceu. “Foi-se implementando, tornando-se uma especialidade sólida e tendo uma formação que é exemplar e que deveria servir de modelo para as outras especialidades. Conseguiu criar uma dinâmica a nível do internato e do desenvolvimento profissional contínuo dos vários especialistas que é um exemplo no país, na Europa e no mundo. Esta especialidade é de corpo inteiro e nuclear no funcionamento do SNS. Soube desenvolver-se e não se perdeu”, elencou.
No encerramento estiveram várias individualidades da área. Nelson Oliveira, em nome da Câmara Municipal de Lousada, apontou os “médicos como elementos essenciais e estruturais para a sociedade”. “Acho que está na hora de reconhecerem aquilo a que vocês têm direito. São necessárias melhores condições salariais e de trabalho”, sustentou o vereador, agradecendo a escolha de Lousada para o evento e pedindo que se voltem a lembrar do concelho no futuro.
“Com este evento demonstramos a capacidade de Lousada para receber grandes eventos nacionais, trazer pessoas de relevo no âmbito nacional e internacional e colocar o nome de Lousada na centralidade, neste caso, da medicina geral e familiar”, acrescenta Nelson Oliveira ao Verdadeiro Olhar. “Foi também importante para demonstramos aos jovens médicos o nosso território e oportunidades para constituírem a sua família no nosso concelho”, acredita.
Também o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa esteve presente na sessão. Num curto discurso, Carlos Alberto disse que o CHTS tem tido capacidade de atrair médicos na maioria das especialidades e disse que os dois hospitais estão “de portas abertas” para todos os profissionais. Destacou ainda a importância do papel dos médicos de família ao ajudar na afluência às urgências hospitalares. “O trabalho que vocês possam fazer em primeira linha, atendendo doentes e evitando que venham à urgência, é muito importante”, frisou, recordando que o Hospital de Penafiel é a segunda maior urgência do Norte.