Mudar o nascimento para melhor, contrariando o medo que existe em torno do parto, promovendo a partilha de experiências positivas sobre o nascimento e de informação sobre as escolhas e direitos no parto é o grande objectivo do Positive Birth Movement, uma rede internacional de encontros sobre o parto que conta com mais de 450 grupos em todo o mundo.
Um casal de Penafiel, Nuno Pires e Cátia Quintas, acaba de criar um núcleo deste movimento no concelho, o primeiro do Norte do país e o terceiro a nível nacional.
Os encontros serão mensais e gratuitos. O primeiro acontece já no sábado e tem como tema o pós-parto, mais concretamente o quarto trimestre. A meta é que todos ensinem e todos aprendam.
A ideia é só uma, diz Nuno Pires, todas as mulheres merecem um parto positivo e devem ser respeitadas seja lá qual for o tipo de parto que escolherem. “Sobreviver ao parto é o principal objectivo mas não deve ser o único. Um parto pode ser uma coisa extremamente boa e positiva”, sustenta o fundador do grupo.
“Sobreviver ao parto é o principal objectivo mas não deve ser o único. Um parto pode ser uma coisa extremamente boa e positiva”
Nuno Pires, já foi empresário e agora trabalha na área comercial. A esposa Cátia Quintas é enfermeira na área dos cuidados intensivos de cardiologia. Foi a própria experiência de gravidez da filha Inês, hoje com 17 meses, que fez com que o casal mudasse a sua visão sobre o parto.
Cátia Quintas começou por querer tudo o que a pudesse ajudar a ter um parto sem dor. Mas Nuno Pires começou a informar-se e a ler estudos científicos sobre as melhores maneiras de nascer. Chegou a uma conclusão: seria através de um parto fisiológico, sem intervenção médica, sem anestesia ou epidural. “Mas também um parto com preparação e outras técnicas de alívio e controlo da dor”, salienta.
No início a esposa mostrou-se reticente, confessa. Acabaram por consultar uma parteira para desconstruir alguns medos sobre o parto sem intervenção médica e participaram num grupo onde casais trocavam experiências sobre a gravidez e o parto.
Escolheram a sua opção. “A Inês nasceu na água, com o acompanhamento de duas parteiras, num hospital para termos alguma segurança. Foi uma experiência fantástica e indescritível, a mais feliz da minha vida, e foi transformadora para a Cátia”, testemunha Nuno Pires.
O normal em Portugal não é isto, diz o fundador do Positive Birth Movement Penafiel. “As 30 a 40 mulheres com quem falei, antes do nosso parto, descreveram quase todas experiências de parto horríveis, em que a única coisa boa era terem sobrevivido. A maioria não se sente respeitada”, sustenta.
“Sobreviver ao parto é o principal objectivo mas não deve ser o único. Um parto pode ser uma coisa extremamente boa e positiva. E a nossa experiência foi tão positiva que decidimos repensar a nossa vida”, explica Nuno Pires.
“Queremos que as pessoas estejam informadas sobre o parto, percebam o que querem e depois possam tentar que respeitem as suas escolhas”
Cátia Quintas está a especializar-se como enfermeira parteira para ajudar mulheres a terem a mesma experiência que tiveram. Também para lutar por isso, Nuno juntou-se à Associação Portuguesa pelos Direitos das Mulheres na Gravidez e no Parto. “Não defendemos nenhum tipo de parto, mas defendemos que a mulher deve ser informada das suas opções e a sua escolha deve ser respeitada”, resume. E tiveram conhecimento da rede do Positive Birth Movement criado em 2012 com o objectivo de ligar mulheres grávidas para partilharem histórias, conhecimentos e positividade sobre o parto, e decidiram criar um grupo em Penafiel.
“O nosso principal objectivo é ajudar grávidas e a comunidade em geral a mudar a perspectiva do parto, ajudando as mulheres a terem partos mais respeitados, informados e positivos. Não consideramos nenhum tipo de nascimento acima do outro. Nós acreditamos que qualquer tipo de nascimento pode ser um parto positivo, e isso depende do que as mulheres decidem, de onde e de como elas querem ter o seu bebé”, sustenta Nuno Pires.
O objectivo não é ensinar ninguém, garante. “Neste grupo todos são iguais nos encontros, todos ensinam, todos aprendem. Não estamos aqui para ensinar ninguém. O objectivo é por as pessoas a conversar e não interessa se quer ter o parto em casa ou no hospital, vaginal ou por cesariana, com epidural ou sem”, afirma o fundador do grupo. “Queremos que as pessoas estejam informadas sobre o parto, percebam o que querem e depois possam tentar que respeitem as suas escolhas”, frisa.
É que as dúvidas e pré-conceitos sobre os partos persistem, com muitos medos à mistura, acredita. “Sempre pensei no parto como algo cheio de berros e dores, como algo assustador. A verdade é que o nosso parto não foi assim. Um melhor parto consegue-se pelo conhecimento e pelo combate ao medo”, defende.
Os encontros serão mensais (no último sábado de cada mês) e gratuitos. Nesta primeira sessão, em que ainda não sabem qual será a adesão, optaram por um modelo intimista na sua própria casa. O tema será o pós-parto no quarto trimestre. Mas não há rigidez sobre o rumo da conversa, que vai depender dos participantes
“O movimento é feito a pensar nas grávidas, mas pode aparecer qualquer um que se queira informar sobre estes assuntos”, conclui.