O Presidente da República falou ontem ao país para anunciar a renovação do Estado de Emergência até ao dia 17 de Abril.
Marcelo Rebelo de Sousa elogiou a união de todos e considerou este “porventura o nosso maior desafio dos últimos 45 anos”, lembrando que os efeitos económicos e sociais serão “mais profundos e mais duradouros do que as crises mais longas que já vivemos” e será agravada a pobreza, desigualdade e exclusão.
O chefe de Estado elogiou o trabalho de várias classes profissionais, desde os profissionais de saúde, aos elementos de protecção civil, mas também instituições, empresas, agricultores, operários e camionistas, entre outros. “Todos entendem que o caminho é muito longo e muito exigente. Começa no combate da vida e da saúde, sem o qual o combate da economia e da sociedade não pode ser travado com sucesso. Mas a vida e a saúde exigem que a economia e a sociedade não parem”, disse.
Definindo quatro fases nesta pandemia, o Presidente da República afirmou que ultrapassamos a primeira, evitando que o crescimento de contaminados atingisse níveis elevados e pusesses em ruptura o sistema de saúde. “Para já ganhámos a primeira batalha, a da primeira fase, adiámos o pico e moderámos a progressão do vírus”, salientou, acrescentando que ganhamos tempo para tomar medidas.
“A segunda, em que entramos, será a das próximas semanas, neste mês crucial de Abril, tentando manter a desaceleração do surto, consolidando a contenção, tratando a maioria esmagadora dos infectados em casa, e gerindo a subida de doentes carecidos de internamento e, sobretudo, de cuidados intensivos”, explicou Marcelo Rebelo de Sousa. A terceira fase depende do sucesso da segunda e passará pela inversão da tendência do crescimento de casos, mas ainda enfrentando números exigentes em internamento grave e crítico e pela descompressão possível na sociedade portuguesa. Já a quarta corresponde ao controlo do surto e à progressiva estabilização da vida colectiva, referiu.
“Agora, temos de ganhar a segunda fase – não podemos desbaratar a contenção da primeira, temos de consolidar a moderação do surto com números que vão subir ainda, e muito, em valores absolutos, mas que irão, esperamos, descer em percentagem de crescimento e ao mesmo tempo a pôr de pé, no terreno, os apoios sociais e económicos mais urgentes de entre os urgentes”, frisou o chefe de Estado, definindo para esta fase cinco objectivos, num caderno de encargos para os próximos 15 dias.
Desde logo proteger os grupos de maior risco, desde os seniores aos sem-abrigo, assim como estudantes, trabalhadores em lay-off, Forças Armadas, forças de segurança e bombeiros, mobilizando recursos. Prevenir situações críticas de saúde pública nos estabelecimentos prisionais, em particular na população de maior risco ou de maior vulnerabilidade, com medidas e indultos em casos concretos.
“Assegurar que, por muitas razões que haja – e há – para cansaço, ansiedade, lassidão, nesta Páscoa, não troquemos uns anos na vida e na saúde de todos, por uns dias de férias ou reencontro familiar alargado de alguns. Daí as medidas extraordinárias do Governo, medidas a que o estado de emergência dá força acrescida, limitando a circulação de pessoas, de fora, para fora e cá dentro na época pascal”, frisou Marcelo Rebelo de Sousa.
Aos emigrantes pediu cautela: “pedir aos nossos compatriotas, que, de fora, quiserem vir, que entendam as restrições severas que cá dentro adoptaremos para a Páscoa e repensem, adiando os seus planos, como todos nós estamos a adiar os nossos planos, a pensar na Pátria comum”. Por último o Presidente da República sublinhou que é preciso definir os cenários para o ano lectivo, atendendo à evolução da pandemia em Abril.
“Só ganharemos Abril, se não facilitarmos, se não condescendermos, se não baixarmos a guarda. Vai custar a ver os números de infectados atingir as duas ou três dezenas de milhares até ao dia 17? Vai.”, assumiu o chefe de Estado.