Não temos, mas já tivemos! (cap.I)

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Em 1993, quando Jorge Malheiro, presidente da câmara eleito pelo CDS, deixou a presidência da autarquia, Paredes era, no contexto regional, um concelho consensualmente aceite como líder.

Foi, por exemplo, o primeiro concelho a construir zonas industriais exemplares que ainda hoje estão ativas e com capacidade para integrar novos projetos económicos e diferentes tipos de indústrias; foi o único concelho que, na transferência obrigatória da gestão da eletricidade para a Eletricidade de Portugal (EP) , depois de duras negociações, conseguiu que as maiores freguesias do concelho , Lordelo e Rebordosa ( por terem um número de consumidores suficientes), três décadas depois, ainda paguem a eletricidade a custos inferiores aos do resto do país; foi o primeiro concelho a construir e a aproveitar na plenitude um pavilhão gimnodesportivo multifuncional, dos melhores do país, à época. Prova disso são as transmissões televisivas, algumas de vários dias, como a Torneio RTP em Basquetebol, a prova de maior dimensão no país, finais das taças de Hóquei em Patins, Andebol, Voleibol e tantas outras que não só atraíam multidões ao concelho como dinamizavam toda a economia local; foi o primeiro a construir uma piscina municipal que , mais de 30 anos depois, ainda é a de maior utilização no concelho e a única com utilização plena e rentável; foi o primeiro a criar uma Academia de Música, hoje Conservatório, mas com paralelismo pedagógico desde a sua fundação. Para não falar nas acessibilidades. Só na rodovia, ainda hoje, o concelho tem mais acessos do que muitos dos concelhos vizinhos juntos. E, à época, coisa única, nasce no concelho de Paredes uma instituição de ensino superior, numa área de conhecimento – a da saúde – cujas carências ainda hoje afetam, e muito, o pais.

O espaço da crónica é curto para falar do que, em 1993, era obra realizada, exemplar, importante e distintiva do concelho no contexto da região e do país, numa altura em que as receitas municipais próprias e as transferências do poder central eram quase ridículas.

E depois de Jorge Malheiro, o que acrescentou o seu sucessor, Granja da Fonseca?

Instituiu, imediatamente, o revanchismo político como política oficial. E se as questões pessoais e intrigas partidárias são o lado para que melhor dormimos, já não dizemos o mesmo quando essas atitudes se repercutem, com prejuízos irreparáveis, no erário público e na qualidade de vida a que todos os cidadãos têm direito.

Um homem, uma obra, disse-me ele, uma vez.

Uma treta, retorqui!

E Celso Ferreira?

A política é um local muitas vezes mal frequentada, mas não é este o caso.

Ao ex-presidente da câmara se há algo de que se pode acusar é de ter tentado interpretar literalmente uma afirmação atribuída a Fernando Pessoa e que já entrou na memória coletiva portuguesa:” Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce”.

Ou foi demasiado pretensioso ou leu pouco Pessoa. Só na “Mensagem”, obra donde se retira esta frase, podiam encontrar-se tantas outros que o deveriam ter obrigado a parar para pensar, no mínimo, duas vezes.  Pessoa também escreveu, no mesmo livro, que “a alma é divina e a obra é imperfeita”. Sobretudo, Celso Ferreira, nunca se devia ter convencido de que era o mito. “O mito é o nada que é tudo”, escreveu Pessoa, mas não estava a falar do ex-presidente da câmara. Sonhar é preciso. Sonhar em excesso foi um pesadelo.

E Alexandre Almeida?

É um equívoco. Um manifesto erro de casting. Faz-nos crer que é novo executivo, mas está lá há 11 anos, oito anos como vereador da oposição e três como presidente. Do tempo de vereador na oposição o seu silêncio é tão ensurdecedor que nos lembra as hienas que, pacientemente, esperam que as suas vítimas sejam devoradas ou morram de velhas para se apropriarem da carcaça em decomposição. Foi tempo demais a não ser coisa alguma e querer ser tudo agora. A História se encarregará de lhe atribuir, e saberá porquê, que foi eleito presidente de um concelho – Paredes- e só conseguiu ser presidente de uma freguesia- Rebordosa.

É verdade: Paredes já foi melhor.

Agora, dizem, andam a dar vida ao doente. Pena que o paciente sofra de tantas comorbidades. De tal forma que, ao centrar a ação só numa das evidentes fragilidades do doente, este médico origine a sua morte por via dos danos colaterais ou efeitos secundários. O doente, neste caso, é o concelho de Paredes e o médico tem o nome do presidente da câmara.

P.S. Declaração de interesses: o autor destas linhas foi chefe de gabinete na presidência de Jorge Malheiro, vereador na condição de independente durante a gestão de Granja da Fonseca e militante do Partido Socialista há cerca de 30 anos.