O Cemitério de Valongo conta com cerca de 1.400 campas e jazigos. Mas nas sepulturas da Junta de Freguesia, cerca de 60% do total, não há espaço. Sempre que morre alguém é preciso ligar a famílias a pedir para remover ossadas.
“Cheguei a ser contactado ao sábado para vir ao cemitério pedir a famílias para retirar ossadas porque precisávamos de desocupar campas”, lamenta Ivo Neves, presidente da Junta. Nos últimos anos, o seu executivo tem procurado encontrar soluções para contornar o problema. Os primeiros a desaparecer foram os jardins, locais onde nasceram novas campas. As últimas criadas, há cerca de quatro anos, foram num sistema diferente, com uma estrutura para decomposição aeróbia (em altura), rentabilizando o espaço.
Mesmo assim o problema de sobrelotação continua. Para resolver a questão, a Câmara Municipal de Valongo aprovou, na última reunião de executivo, a declaração de utilidade pública para avançar com a expropriação com carácter de urgência de uma parcela de terreno, com quase 7.200 metros quadrados, para ampliação deste cemitério “superlotado e com falta de espaço para novos enterramentos”. A autarquia estima que a expropriação custe mais de 345 mil euros, segundo a avaliação realizada. “Este cemitério encontra-se no limite da sua capacidade, não existindo outro na freguesia, nem outras possibilidades de ampliação do existente, sendo por isso indispensável a aquisição do único terreno contíguo, com capacidade para este fim”, justifica o município.
Além de novas sepulturas e espaços de decomposição aeróbia será criado um parque de estacionamento. O investimento deve chegar a um milhão de euros, antecipa o presidente da junta.
É preciso estar sempre a pedir para retirar ossadas”, lamenta Ivo Neves
O Cemitério de Valongo é centenário e já foi sujeito a várias ampliações. O último alargamento terá acontecido há mais de 25 anos e, pelo menos nos últimos 20, que existem problemas de espaço.
A Junta de Freguesia de Valongo, responsável pela gestão do cemitério, tem procurado soluções. “Os espaços ajardinados foram sendo substituídos por campas e a última estrutura criada, há quatro anos, foi para decomposição aeróbia. Isso permitiu triplicar o espaço que iam ocupar as campas comuns”, explica Ivo Neves.
Mas esses 84 nichos, já ocupados, custaram 120 mil euros. “Se fosse uma junta que não tem a capacidade financeira da nossa isto tinha ficado tudo parado. Por ano são realizados cerca de 110 funerais e o problema de espaço é grave”, sustenta o autarca.
“Neste momento, temos poucos jazigos de família que não estão ocupados e se falecer alguém não temos para vender, embora 60% dos espaços sejam da Junta”, refere ainda o presidente da Junta. “Se houver uma tragédia qualquer e precisarmos de 10 sepulturas não conseguimos”, acrescenta.
Cada vez que falece alguém “não há campas da junta vazias”. “É preciso estar sempre a pedir para retirar ossadas”, lamenta Ivo Neves. É que num solo com muita água a decomposição dos corpos é mais demorada. “Há campas da junta em que devido a este solo ao fim de 20 anos não conseguimos ainda retirar as ossadas”, dá como exemplo. Daí que a solução por campas aeróbias, fora da terra, se mostre mais eficaz.
Para contornar as necessidades do imediato a Junta de Freguesia está, actualmente, a destruir o último jardim que restava no cemitério. “É o último bocado de terreno. Vamos fazer mais um sistema de nichos, com 50 espaços, e mais jazigos. Contamos que esteja pronto no 3.º trimestre deste ano e que isso permita atenuar o problema nos próximos dois anos”, diz. O investimento volta a rondar os 120 mil euros. Só desde que é presidente, Ivo Neves adianta que a Junta de Freguesia de Valongo já teve que investir 270 mil euros em obras no cemitério.
Com o alargamento do cemitério para o terreno que a Câmara pretende expropriar, o autarca acredita que o problema ficará resolvido em definitivo.
Além de sepulturas e espaços de decomposição aeróbia está prevista a construção de um parque de estacionamento e a criação de um espaço onde pode, no futuro, ser instalado um crematório. A obra vai avançar por fases e o investimento total, acredita Ivo Neves, pode chegar a um milhão de euros.