A construção de uma unidade industrial para tratamento de bio-resíduos no Parque Empresarial de Parada/Baltar, em Paredes, pela Ambisousa, para servir os seis municípios do Vale do Sousa, gerou questões na última Assembleia Municipal.
Quer o PSD quer o presidente da Junta de Parada de Todeia, eleito pela CDU, quiseram esclarecimentos sobre este investimento de 18 milhões de euros, questionando o porquê de ser instalado em Paredes.
Manuel Gomes, eleito do PSD, foi mais longe, e acusou o presidente da Câmara de não ter falado do tema por ser ano de eleições. “É feita uma candidatura para instalar um equipamento de 18 milhões de euros e ninguém sabe? O senhor não avisou ninguém e sabe porquê. Porque se trata de uma unidade de valorização de resíduos e não convém, em ano eleitoral, falar de lixo”, sustentou.
Alexandre Almeida salientou que se trata de uma unidade industrial “inócua”, que só vai tratar resíduos orgânicos e deixou a garantia de que “não haverá cheiros”.
“Em matérias como estas é preciso informar com objectividade e de forma pedagógica para ganhar a confiança das populações”
A questão foi levantada por Albertino Silva, presidente de junta de Parada de Todeia, eleito pela CDU, mas foi também abordada, mais à frente, pelo PSD.
Albertino Silva citou as notícias vindas a público que apontam para “uma unidade de matriz tecnológica avançada, ambientalmente adequada e financeiramente sustentável” e onde foi invocado que “a escolha do local obedeceu a critérios que têm a ver com a centralidade, a facilidade de acessos com a auto-estrada A4 e a proximidade à rede de gás natural onde vai ser injectado o biogás produzido”. Mas o autarca de Parada de Todeia quis saber mais. “O tratamento de resíduos é problema sério. Sabemos que não há soluções perfeitas e que a procura de tecnologias mais amigas do ambiente e mais sustentáveis são o caminho certo, mas para evitar alarmismos junto da população importa responder a algumas questões”, defendeu o eleito da CDU que quis saber se foi feito algum estudo de impacto ambiental sobre esta instalação e quais os resultados, que garantias podem ser dadas sobre o funcionamento da unidade e se existem equipamentos similares a funcionar e com que resultados.
“Sendo uma unidade que vai servir 320 mil habitantes, tratando 25 mil toneladas de resíduos e produzindo 8200 toneladas de fertilizante anualmente, e que a seguir poderá evoluir para a separação de resíduos e triagem, terá certamente esta instalação uma dimensão física apreciável e vai gerar movimento de viaturas assinalável. Estão acautelados impactos do transporte e armazenagem dos resíduos?”, perguntou. Albertino Silva questionou ainda se estão previstos benefícios para as populações para acautelar eventuais impactos negativos de receber lixos de seis concelhos.
“Em matérias como estas é preciso informar com objectividade e de forma pedagógica para ganhar a confiança das populações e obter o seu consentimento informado para uma instalação que à partida ninguém quer ao pé da porta. Esse caminho ainda está por fazer”, argumentou o presidente da junta.
“Se tem uma ideia para Paredes, por pior que possa cheirar, traga-a a esta Assembleia para ser discutida”
Pelo PSD, Manuel Gomes foi ainda mais incisivo. “Para que servem uma Assembleia e uma reunião de câmara? E os meios de comunicação do município? É feita uma candidatura para instalar um equipamento de 18 milhões de euros e ninguém sabe? O senhor não avisou ninguém e sabe porquê. Porque se trata de uma unidade de valorização de resíduos e não convém, em ano eleitoral, falar de lixo”, criticou, dirigindo-se ao presidente da Câmara.
Voltou a deixar as questões já efectuadas pelo partido em conferência de imprensa: “Porquê Paredes e porquê Baltar?”. “Nem Paredes nem Baltar têm centralidade no âmbito da Ambisousa”, alegou Manuel Gomes.
Quis ainda saber se pode ser dada a garantia de que não existirão cheiros e como se vai realizar o transporte dos fertilizantes que lá vão ser fabricados.
“Senhor presidente não tenha medo desta Assembleia nem do escrutínio das pessoas. Se tem uma ideia para Paredes, por pior que possa cheirar, traga-a a esta Assembleia para ser discutida”, ironizou.
“É uma unidade industrial inócua, que não liberta cheiros, e não vai ter nada a céu aberto”
Sobre este investimento, que será realizado pela Ambisousa, o presidente da Câmara de Paredes voltou a salientar que se trata “de uma unidade industrial como outra qualquer, que vai tratar resíduos orgânicos”, como comida e verdes. “É só isso que vai lá ser tratado” e antes “tem de haver um grande trabalho para as pessoas separarem esses resíduos e haver uma recolha selectiva”, assinalou.
Alexandre Almeida disse ainda a Albertino Silva que já tinha as respostas às questões colocadas. “Colocou a questão sobre o estudo de impacte ambiental, eu sei que essa resposta já lhe foi dada. Porque você e deputados da CDU estiveram na Ambisousa numa reunião esta semana. Mas essa unidade não precisa de estudo de impacte ambiental porque é uma unidade industrial, como outras que lá existem”, respondeu ainda assim.
Esclareceu também que a unidade vai começar a trabalhar de forma “gradual” e que para já a triagem (dos resíduos recicláveis) continuará a ser feita em Lousada e Penafiel. “Para ali só vão os resíduos orgânicos para que os aterros que ainda existem – e não vão ser feitos mais aterros no Vale do Sousa – durem mais anos. Ttudo o que é outro tipo de lixo terá que ir para inceneração. Ali só se vai tratar resíduos orgânicos gerando biogás”, alegou o autarca de Paredes.
Unidade idêntica pode ser vista na Lipor. “Já lá estive a ver e posso garantir que não vai libertar cheiros. É uma unidade industrial inócua, que não liberta cheiros, e não vai ter nada a céu aberto. Não precisamos de benefícios porque não vai causar impacto negativo. Vão ser criados novos postos de trabalho, a sede da Ambisousa vai ser em Parada/Baltar, vai permitir criar um novo acesso na auto-estrada e permitir fixar mais empresas”, afirmou ainda, dizendo que se não prestou esclarecimentos “não é por não ter nada a esconder” é porque não lhe cabe fazê-lo. “O presidente da Ambisousa é o autarca de Penafiel que pode esclarecer sobre esse investimento”, apontou.
À oposição deixou um recado: “Já ouvi dizer que era um aterro, isso é aproveitamento político”.