O Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins, em Paços de Ferreira, assinalou o 70.º aniversário, uma data que ficou marcada pela realização de um ciclo de conferências e por uma reunião da Rede de Castros do Noroeste, que reúne 12 municípios e que contou com a presença do director regional de Cultura do Norte, António Ponte.
Nessa reunião, que decorreu no Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins, vários agentes culturais defenderam a necessidade de a Citânia de Sanfins, um dos maiores patrimónios proto-históricos de Portugal e da Europa, assim como os castros que integram a rede, serem dados a conhecer à comunidade, tornando-os num património cultural usufruível por todos que acrescente valor económico e turístico ao concelho e à região.
Os vários agentes culturais concordaram, também, com a necessidade de haver um reforço da dotação das verbas para implementar várias intervenções que dignifiquem este património singular.
Na sua intervenção, o presidente da Câmara de Paços de Ferreira, Humberto Brito, relevou a importância histórico-arquitectónica deste espólio e disponibilizou-se para, em articulação com o Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins, usar a sua magistratura de influência, para junto das entidades competentes, para reforçar a dotação financeira dos fundos comunitários de forma a assegurar o conjunto de intervenções que estão por realizar e valorizar este espaço.
“Não é a câmara municipal e não é a junta de freguesia que tem o poder de fazer essas intervenções. Isto não significa que não tenhamos responsabilidades em cuidar do espaço. E por isso, este ano, decidimos em colaboração com a junta de freguesia proceder à limpeza e ao asseio desta área, conferindo-lhe a dignidade que merece”, disse, frisando que este património é vital para a afirmação do município no país e no estrangeiro.
A este propósito, o autarca reiterou que o turismo representa 7% do PIB, representando a Citânia e todo o espaço envolvente um motor de atracção de visitas de cidadãos estrangeiros e um veículo do desenvolvimento do concelho.
O autarca realçou, também, que pretende empenhar-se na questão das acessibilidades à Citânia e ao espaço envolvente. “Estamos conscientes que uma intervenção se torna necessária, requalificando o espaço, as acessibilidades à própria Citânia, que não são nada condizentes com o espaço e não são nada apelativas”, reconheceu.
Refira-se que a Câmara Municipal de Paços de Ferreira apresentou uma candidatura dos municípios ao Portugal 2020 e essa candidatura foi reprovada.
Na sua intervenção, o chefe do executivo destacou, também, ser fundamental criar um plataforma digital que divulgue o vasto património que ali existe, publicitando-o através das redes sociais e atraindo novos públicos.
“A Citânia é visitada anualmente por 30 mil pessoas”
O director do Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins, Armando Coelho, falou da importância histórico-cultural da Citânia e esclareceu que passam por este espaço anualmente cerca de 30 mil pessoas.
“A Citânia é visitada anualmente por 30 mil pessoas, o que é muita gente. Já as visitas ao Museu andam entre os cinco e os 10 mil visitantes. Em 1999, por exemplo, visitaram o museu 12.500 pessoas. É um número bastante significativo se tivermos em conta as características destes museus. O Museu de História Natural da Universidade do Porto, mesmo no centro da cidade, na parte relacionada a estas culturas da citânia é visitado por menos de três mil pessoas”, adiantou.
Falando da efeméride dos 70 anos do Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins, Armando Coelho manifestou que o vasto espólio que integra este património faz parte da consciência colectiva de um povo, manifestando que não há paisagem proto-histórica nenhuma que se assemelhe a esta em toda a Europa.
“Sempre entendi que o concelho de Paços de Ferreira não se apercebeu muita da riqueza do que tem cá. Este sítio é singular. É um local que os estrangeiros admiram. Estranho que muitas vezes não seja contemplado por pessoas da terra. Julgo que são aspectos que muitas vezes passam por programas educativos que temos de implementar”, avançou, salientando que quer da citânia quer do museu saíram emanaram elementos essenciais para o conhecimento da cultura castreja no noroeste do país, enquanto substracto matricial da região.
Ao Verdadeiro Olhar, Armando Coelho avançou que o reconhecimento da história e da consciência colectiva são valores intrínsecos a qualquer cultura que contribuem para a identificação de um território.
“Hoje não entendemos as terras, os lugares, não nos entendemos a nós próprios, se não entendermos este passado. Faz parte da nossa consciência colectiva ainda que muitas vezes não nos apercebamos disso. É efectivamente obrigação dos museus interpretar, comentar e divulgar estes sítios com essas valências que muitas vezes passam ignoradas. Portanto, não se trata de andarmos a comemorar o passado pelo passado, mas dar a conhecer os lugares onde viveram os nossos antepassados e que nós, hoje, temos a obrigação de explicitar e interpretar”, acrescentou.
“Os estrangeiros não vêm a Paços de Ferreira por causa da praia”
Ao nosso jornal, Armando Coelho admitiu, por outro lado, que sem um reforço da dotação financeira e a consequente injecção de fundos comunitários a salvaguarda deste património poderá ficar mais difícil.
“Foi feito um investimento nos anos 90 e esse investimento com o tempo foi-se degradando. Torna-se necessário revitalizar e revalorizar outra vez a Citânia. Se estivesse actualizada estou convencido que a Citânia não teria nunca menos que 30 a 40 mil visitantes por ano, o que significa efectivamente um grande contributo para o desenvolvimento turístico da região se conseguimos associar estas visitas ao turismo cultural que está em desenvolvimento e ao facto de estarmos nas margens da cidade do Porto. Muitos estrangeiros procuram-nos por esta originalidade. Os estrangeiros não vêm cá por causa da praia”, expressou, reafirmando que a área da cultura tem uma dotação muito fracas.
“Temos de recorrer a outras fontes de financiamento, nomeadamente, na área do turismo, a outros ministérios que não o da Cultura, para conseguirmos os apoios necessários. São aspectos que teremos de explorar. Queremos associar a valorização da Citânia com um conjunto de outras áreas que se cruzam com interesses tão diversos e que não podem ser só financiados pela área da cultura. O que pedimos é que o Ministério da Cultura avalize, incremente e apoio as iniciativas que nós tomamos porque eles não nos vão dar dinheiro”, assegurou.
“É reconhecido por todos que há uma necessidade de reforçar a dotação global dos fundos comunitários para a área da cultura”
O director regional da Cultura do Norte, António Ponte, concordou que é urgente reforçar a dotação global dos fundos comunitários para a área da cultura.
“É reconhecido por todos que há uma necessidade de reforçar a dotação global dos fundos comunitários para a área da cultura. O ministro da Cultura já pensou nesse assunto e o Ministério da Cultura está a tentar exercer a sua magistratura de influência para que se consiga reforçar a dotação da área do património cultural nos fundos comunitários. Neste momento, não foi ainda possível, mas estamos conscientes da necessidade desse reforço para conseguir atacar um conjunto de outros projectos que até agora não conseguiram financiamento”, confessou.
Referindo-se à comemoração dos 70 anos do Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins, o director regional reafirmou que a Citânia de Sanfins é um ponto estratégico da Rede de Castros do Norte de Portugal.
“O que entendemos é que precisamos de a comunicar de uma forma mais assertiva e de a levar a um nível de comunicação que consiga ser mais atractiva para os públicos. A partir da Citânia de Sanfins, a partir de um conjunto de outras estruturas patrimoniais que fazem parte desta rede, queremos de facto agregar valor cultural e este valor cultural se transforme em valor económico, em valor social e em valor de conhecimento enriquecendo as comunidades. A Citânia de Sanfins e os outros castros serão motores de desenvolvimento que precisamos de agregar a outros valores que existem no território para reforçar o papel que estes bens patrimoniais podem ter. A comemoração destes 70 anos serve não apenas para demonstrar a importância da Citânia de Sanfins, mas para repensar o modelo de comunicação e o modelo funcional do património deste tipo de património para o próximo futuro”, anuiu.
Intervieram, também, na sessão comemorativa Luís Raposo, presidente do Conselho Internacional de Museus – ICOM Europa e Álvaro Brito Moreira, director do Museu Abade Pedrosa e Museu de Escultura Contemporânea de Santo Tirso.
O evento decorreu na Antiga Igreja Matriz de Sanfins e contou, também, com as presenças do Presidente da Assembleia Municipal, Ricardo Pereira, do vice-presidente da Câmara Municipal, Paulo Barbosa e do presidente da Junta de Freguesia da União de Freguesias de Sanfins, Lamoso e Codessos, Joaquim Santos, além de outros presidentes de junta de freguesia, directores de museus e demais personalidades.