As marcas estão bem visíveis na estrada. Quase todas as sextas-feiras, sábados e domingos à noite o cenário repete-se. A avenida principal do Parque da Cidade de Paredes torna-se numa pista de corridas improvisada de “street racing”, garantem os moradores dos prédios contíguos que estão cansados da falta de segurança e do “barulho ensurdecedor” durante a madrugada.
Queixam-se da falta de intervenção da GNR e estão a reunir assinaturas num abaixo-assinado que pede medidas urgentes à Câmara de Paredes. A situação, dizem, piorou desde que uma padaria e cafetaria num dos prédios recebeu licença para funcionar até à 1h00 da manhã.
“Até parece que estão à e espera que aconteça uma desgraça para fazer qualquer coisa”
“Os moradores dos Edifícios do Parque I, Parque II, Parque III e Forte de São José, sitos na Avenida Francisco Ribeiro da Mota, Rua Conde Ferreira, Rua São José e Travessa Conde Ferreira, respectivamente, freguesia e concelho de Paredes, vêm por este meio protestar a inércia da Câmara Municipal de Paredes e das autoridades de segurança, perante as corridas de veículos motorizados, que ocorrem todas as semanas na Avenida do Parque da Cidade de Paredes (Rua Padre Marcelino da Conceição)”, sustenta o abaixo-assinado, assinado já por cerca de 130 moradores.
“Estas corridas, para além de perigosas e de transgredirem o Código da Estrada, provocam um ruído ensurdecedor, afectando o repouso, a tranquilidade e o sono de todos os moradores”, acrescentam os subscritores.
A situação não é nova. Há muito que estes “duelos de velocidade” acontecem, com os condutores a usarem a avenida, com duas faixas de rodagem para cada lado ligadas por uma rotunda, como um circuito.
As corridas “ilegais” começam a horas distintas, muitas vezes a partir das 23h30, e prolongam-se durante a madrugada, dizem os moradores. E desde que foram construídos estes prédios, onde moram já centenas de pessoas, as avenidas que os ligam também já são atractivo para os aceleras, afirmam.
Apesar das muitas queixas apresentadas pelos moradores junto das entidades competentes, nada foi feito. “Ligamos à GNR e, às vezes, vêm duas horas depois. Outras vezes quando vêm fica tudo sossegado mas quando vão embora volta tudo ao mesmo”, testemunha Sérgio Sousa, um dos moradores. Outras vezes a GNR nem aparece, salientam.
“Já foram prometidas medidas mas até à data nada aconteceu. Até parece que estão à e espera que aconteça uma desgraça para fazer qualquer coisa”, critica Ágata Ferreira.
“Primeiro era daquele lado mas agora também já andam aqui no meio dos prédios. Há dias estava aqui um a acelerar com o travão de mão puxado e quando arrancou quase que me apanhava”, conta Paulo Martins.
“Tenho uma filha pequena que acorda muitas vezes à 1h00 ou 2h00 da manhã com o barulho, fica assustada e não consegue dormir sozinha”, explica Adriana Rocha. “O meu filho já não dorme sozinho há algum tempo”, lamenta também Sérgio Sousa.
Entre as medidas propostas, que limitem a velocidade, estão lombas elevadas nas passadeiras.
“Quando vamos à varanda pedir silêncio e bom senso somos insultados”
A situação piorou, salienta o grupo de moradores, desde que uma padaria e cafetaria, no edifício Parque I, foi autorizada a abrir até à 1h00 da manhã.
“Além do ruído oriundo do interior do estabelecimento comercial, incluindo a esplanada, que não possui qualquer isolamento acústico, já que os moradores dos andares superiores ouvem tudo, ainda os clientes dirigem-se para o exterior daquele, e continuam a falar alto, cantar, a dar gargalhadas, provocar distúrbios, ou seja, perturbando o direito ao repouso e sono dos moradores”, sustenta o abaixo-assinado que será entregue ao presidente da Câmara.
“Por diversas vezes que alguns moradores são forçados a dirigirem-se às varandas durante a madrugada, para solicitar aos clientes do estabelecimento comercial que falem mais baixo, todavia, aqueles ainda são insultados, e em retaliação, atiram pedras para dentro das varandas e lixo o que está a originar uma onda de temor”, refere ainda o documento.
Os moradores pedem que encerre no máximo às 21h00. “As pessoas ficam ali até tarde, diariamente, e os habitantes do edifício Parque I, sobretudo, não conseguem descansar”, afirma Ágata Ferreira.
“Há pessoas que têm medo de vir por o lixo à noite”, garante Fátima Brito, outra moradora. “Quando saímos fora da porta somos abordados de forma absurda e quando vamos à varanda pedir silêncio e bom senso somos insultados”, testemunha Adriana Rocha. “Quando dizemos que já não são horas de estar a fazer barulho e que as pessoas precisam de descansar atiram pedras e tremoços em retaliação”, acrescenta Sérgio Sousa.
“Se não tivesse ali o café não iam parar tanto aqui. Antigamente paravam na rotunda”, salienta Paulo Martins.
“A maioria das pessoas comprou apartamento aqui por ser uma zona de lazer e sossegada, agora é um desassossego”, critica Ágata Ferreira.
GNR garante que tem feito fiscalização. Câmara diz que vai avançar com obras
Contactada, a GNR sustenta apenas que “tem realizado diversas acções de fiscalização rodoviária, nas imediações do Parque da Cidade de Paredes, resultando na elaboração de autos de notícia no âmbito criminal e/ou contra-ordenacional” e que irá continuar a acompanhar a situação, garantindo o cumprimento das normas de circulação rodoviária e a segurança dos utentes da via. Nada esclarece, no entanto, sobre as acusações de não acorrer ao local quando contactada pelos moradores.
A Câmara Municipal de Paredes limita-se a dizer que a situação já foi reportada por moradores e que serão implementadas lombas na referida via logo que o tempo o permita. Não diz nada quanto à possibilidade de alteração do horário do estabelecimento comercial, como é exigido pelos moradores.
Esta sexta-feira, já depois de contactada pelo Verdadeiro Olhar, a Câmara fechou uma das vias do Parque da Cidade e colocou uma máquina a efectuar obras junto a uma das passadeiras. Os moradores garantem que o abaixo-assinado se mantém.