A Misericórdia de Paredes inaugurou, esta sexta-feira, uma mostra de trabalhos de utentes da instituição que vai estar patente ao público até ao dia 8 de Dezembro, data em que se assinala o Dia da Imaculada Conceição, padroeira da Misericórdia de Paredes.
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Paredes, Ilídio Meireles, destacou que esta exposição/venda de Natal é já uma tradição na irmandade.
Além das rendas, a mostra integra motivos de Natal, brinquedos, roupa ou elementos decorativos feitos de materiais recicláveis.
“Trata-se de uma iniciativa que tem como propósito a valorização dos tempos livres, valorização do trabalho realizado, sendo uma forma de abrir a instituição para a comunidade. Temos feito um esforço nesse sentido. É pena que as pessoas não tenham percebido isso e não aderiram mais. Temos uma quantidade de irmãos diminutos e de avançada idade. Necessitamos de rejuvenescer porque de outra forma não temos futuro”, disse, salientando que a Misericórdia de Paredes está também disposta a colaborar com outras instituições sempre que para isso for solicitada e em participar em todos os programas de desenvolvimento da cidade e do concelho.
Sobre esta mostra, o provedor reconheceu que esta exposição permite também ocupar os idosos com actividades, sendo igualmente uma forma de fomentar o envelhecimento activo.
“Temos de aproveitar os que têm capacidades para se ocuparem, passar o seu tempo estimulando-os para estas acções”, sustentou.
Falando da instituição, Ilídio Meireles disse que a Santa Casa tem 60 utentes, o limite, estando em curso o projecto de arquitectura para Baltar para mais 40 camas.
“Queremos alargar a oferta. Aqui estamos sempre lotados. Há cada vez mais procura porque a qualidade do serviço também é boa. Fizemos todo o esforço ao nível do pessoal, das instalações. Quer ao nível da comunidade. Fizemos um esforço financeiro para dotar a instituição de excelentes condições, nomeadamente ao nível do primeiro piso”, expressou, assumindo que quando o projecto de Baltar estiver concluído, a Santa Casa irá fazer obras no primeiro e segundo piso da casa-mãe, de forma parcial.
“Estas instituições não produzem riqueza. o aumento do salário mínimo, sendo de inteira justiça, obriga o Estado a pensar na sobrevivências das instituições particulares de solidariedade social”
Referindo-se às instituições de solidariedade social, Ilídio Meireles reconheceu que estas lutam hoje com dificuldades, nomeadamente a de acompanhar a evolução progressiva do aumento do salário mínimo nacional.
“Aqui há poucos funcionários com o salário mínimo, mas quando fazemos o aumento do salário mínimo fazêmo-lo para toda a gente. Só que este sector não é produtivo. Presta apoio. O trabalho dos funcionários não se vende. Estas instituições não produzem riqueza. O aumento do salário mínimo, sendo de inteira justiça, obriga o Estado a pensar na sobrevivências das instituições particulares de solidariedade social. Já não falo na Misericórdia, falo nas múltiplas instituições particulares de solidariedade social que há pelo país fora e no concelho para quem este aumento do salário mínimo se torna complicado”, sustentou, recordando que este é um sector fundamental e que estas colectividades substituem-se muitas vezes ao próprio Estado.
“Toda a gente quer mais, não há fundos para… O aumento do salário mínimo vamos repercuti-lo nos 130 funcionários, o que equivale a um aumento da despesa anual para cima de 70 mil euros, o que é um valor significativo. Não aumentando o rendimento, vemos diminuída a expectativa de produzir um saldo positivo no fim do ano. A despesa aumenta, mas a receita não aumenta. Para isso era preciso que o Estado nos aumentasse as comparticipações no valor correspondente ao salário mínimo. Já houve tempos em que a comparticipação do Estado estava fixada nos 50% do custo efectivo, hoje anda nos 30 a 35%. Vai ser difícil para as instituições particulares de solidariedade social acomodar estes aumentos progressivos do salário mínimo nacional. Estamos a falar deste ano, 35 euros para o ano e se calhar mais 20 ou 30. Acho que os nossos funcionários para aquilo que fazem são mal pagos e, por isso, com o aumento dos salários, o encargo anual da instituição passou para mais de 300 mil euros”, acrescentou.
Questionados sobre a importância desta actividade, alguns utentes manifestaram que além de se manterem ocupados, esta actividade potencia o contacto com a comunidade, funcionando como um reconhecimento pelo trabalho realizado.
Alice Rocha, 89 anos, utente na Santa Casa, uma das artesãs que participou nesta mostra, realçou importância da instituição manter os utentes activos e de partilharem os trabalhos com a comunidade.
“Fui modista toda a vida e mantenho a paixão pelas rendas. Passo melhor o tempo, gosto de me manter ocupada. Acho que sou a única que sabe trabalhar nestas rendas. Sou natural de Baltar, casei e vim para Paredes. O meu marido faleceu e eu vim para a Santa Casa”, acrescentou, mostrando sentir-se bem na instituição, sendo uma pessoa acarinhada.
Rosalina Nunes, natural de Paredes, utente na instituição há três meses, realçou também a necessidade dos idosos participaram e manterem-se activos.
“Tenho algumas malhas nesta mostra, mas já as vendi. É uma iniciativa meritória, que nos mantém ocupados”, disse, recordando que sempre trabalhou na agricultura e na confecção de casacos. “Quando trabalhava tinha muitas encomendas. Não tinha mãos a medir”, retorquiu.
Albertina Moreira, utente há 10 anos na Santa Casa, relevou, igualmente, a importância de colaborar e dos idosos se sentirem úteis. “Sou uma pessoa activa, gosto de colaborar em tudo que são actividades”, avançou.
Já o presidente da Junta de Freguesia de Paredes, Artur Pereira da Silva, declarou que estes tipos de actividades são determinantes para fomentar o envelhecimento activo e contribuem para a qualidade de vida dos mesmos.
“Por outro lado, é uma oportunidade que a Misericórdia de Paredes dá aos utentes para mostrarem os seu trabalhos à comunidade e verem os mesmos reconhecidos”, afiançou, condescendendo que estas actividades só fazem sentido com o apoio da comunidade.