Há uma startup em Freamunde que aposta na economia circular e transforma peças de aviões desmantelados em novas peças de mobiliário e decoração com design. Chama-se JetBones e faz de caixas do motor e de tanques de combustível em sofás ou zonas de refúgio. Mas a imaginação é o limite, garantem os responsáveis.
Esta foi uma das três empresas visitadas pelo ministro do Planeamento, Nelson de Souza, que esteve em Paços de Ferreira, na passada sexta-feira. Esteve ainda na Feira Capital do Móvel e participou num jantar conferência com o presidente da Comissão Directiva do Compete 2020, Jaime Andrez, e o director-geral da COTEC Portugal, Jorge Portugal.
Economia circular é aposta de futuro
Foi há cerca de quatro anos que começou a germinar na cabeça de Michael Amara, um investidor estrangeiro apaixonado pela aviação, a ideia de aproveitar peças de aviões desmantelados para fazer peças de mobiliário e decoração.
Paços de Ferreira surgiu como escolha natural para concretizar o negócio por ser a “Capital do Móvel”, explica Nelson Barros consultor e responsável pelo design e produção da JetBones.
A startup nasceu em Junho do ano passado e começou a laborar, num pavilhão em Freamunde, com quatro funcionários, em Janeiro.
“As peças nascem em função de projectos ou do que o que o cliente desejar. É tudo personalizável, desde o acabamento até à customização interna, até ao hardware que tem.
Poderá ter internet, tomadas e muitas soluções tecnológicas aliadas sempre à reutilização das peças”, dá como exemplo.
A empresa adquire peças de aviões que estão inutilizados e vão para a sucata, neste momento no Reino Unido, e dá-lhes uma nova vida. A curto prazo querem ter peças concluídas numa aposta na economia circular e na “sensibilização para o futuro”. Para já apenas um espaço de produção, querem depois ter um de exposição.
Empresa familiar gerida por netos do fundador
Também em Freamunde o ministro visitou as novas instalações da CRN, uma empresa de 62 anos que agora é gerida pela terceira geração da mesma família.
O avô construiu uma pequena fábrica de móveis que foi crescendo até não ser possível viver e trabalhar no mesmo espaço. Com a oportunidade de crescer, a empresa foi para o mercado externo. “Conseguimos construir isto com muito sacrifício”, conta Marco Mendes, um dos três netos à frente do negócio. Fizeram uma aposta em máquinas que dão maior rentabilidade, mais versáteis e mais rápidas e empregam agora 33 pessoas, mais 15 desde que mudaram de instalações. Trabalham sobretudo na área do mobiliário doméstico e hoteleiro.
O investimento realizado, apoiado até 60%, foi de 1,9 milhões de euros. “Tivermos 1,4 milhões de euros em negócios no ano passado. Temos o objectivo de atingir os dois milhões de euros já este ano”, adianta Marco Mendes.
A CRN tem clientes na Holanda, França, Espanha, Angola, Moçambique e também já produziu um hotel para os Estados Unidos da América.
Novas instalações para expandir o negócio
Em Paços de Ferreira, a Premium Sofá é também exemplo de sucesso. Acaba de adquirir umas novas instalações onde instalou a produção e pretende ter uma área de showroom. No total são cerca de 10 mil metros quadrados.
Criada por Ramiro Lobo, a empresa, com 27 anos, é agora gerida pelo filho Miguel Lobo. “Ele é o acelerador e eu às vezes sou o travão”, brinca o pai.
Em 2010, criaram marca própria e, em 2013, começaram com o processo de internacional e fizeram obras nas primeiras instalações fabris. “Compramos uma nova fábrica no final de 2014 e, no final do ano passado, avançamos para este imóvel para podermos aumentar a produção e ficar garantidos em termos de condições para continuar a expandir o negócio”, justifica Miguel Lobo.
Empregam 29 pessoas e contam criar 10 postos de trabalho no próximo ano. Trabalham com mercados como França, Reino Unido e Bélgica, mas também com mercados não naturais como Nigéria, Costa do marfim, Cazaquistão, Turquemenistão.
Produzem sofás, cadeiras, cadeirões, camas, painéis estofados, “com tudo o que é estofo”. “Três quartos do volume de negócios é para hotelaria e é nisso que estamos focados”, diz o empresário.
No ano passado, a empresa facturou 2,4 milhões de euros. “Este ano esperamos atingir os três milhões”, afirma.
Concelho é exemplo na execução de fundos estruturais, diz ministro
No final das visitas e já na Capital do Móvel, o ministro do Planeamento disse-se satisfeito com o que viu. “Vim conhecer e tomar contacto directo com a realidade empresarial do concelho de Paços de Ferreira. Fiquei com vontade de voltar e ver com mais detalhe. Aquilo que vi foi um concelho com uma dinâmica muito grande de investimento, de energia, de capacidade e de iniciativa”, afirmou.
“Como responsável pela aplicação de fundos estruturais, convido a virem visitar Paços de Ferreira para verem como se aplicam bem os fundos estruturais e para verem como não estão atrasados em matéria de execução porque aqui podemos testemunhar, como eu testemunhei como as empresas estão a investir modificando a sua forma de trabalhar e produzir criando postos de trabalho, alargando horizontes de exportação e ajudando a criar riqueza para que todos possam ter melhores condições de vida”, sustentou o governante.
Ainda assim, concordou, há “dores de crescimento”. “Para um país que teve uma taxa de desemprego de 20%, quem diria que teríamos agora dificuldades de encontrar mão-de-obra. É um desafio que temos que enfrentar e encontrar soluções, continuando a dar hipóteses aos jovens de se qualificar. Não devemos fazer como no passado e tirar os jovens da escola. Levo isso de trabalho de casa para fazer. Para em conjunto com as associações empresariais e câmaras municipais arranjamos soluções para isso”, argumentou.
“Não apouquem o trabalho dos empresários, dos autarcas e das associações e IPSS que utilizam bem os fundos estruturais. Não façam calúnias sobre o trabalho para obter vantagens políticas efémeras”, criticou Nelson de Souza.
Ao lado, o presidente da Câmara de Paços de Ferreira elogiou a actividade dos empresários “que pela sua iniciativa, dinamismo e empenho demonstram que o concelho está preparado para enfrentar o futuro e que há criação de emprego e riqueza”.
No concelho a taxa de desemprego é residual e os empresários queixam-se de falta de mão-de-obra. “A nossa preocupação é saber como vamos preparar o futuro, preparando as empresas para ter menos pessoas disponíveis e daí a aposta na qualificação. Ainda este ano avançaremos com a academia de ensino profissional e vamos falar da capacidade de autonomizar ainda mais a componente da produção, porque já hoje não conseguimos dar resposta à procura. É uma dificuldade que me deixa preocupado”, disse Humberto Brito, lembrando que já há algum tempo que as pessoas que estão no activo no concelho não chegam para preencher todos os postos de trabalho existentes.