Milhares de crianças vestidas de padeiro desfilaram na abertura da Feira da Regueifa e do Biscoito de Valongo

Evento anima a cidade até domingo com várias actividades que reactivam as tradições do concelho

0

Esta quarta-feira foi dia de exaltar as tradições de Valongo. Milhares de alunos do pré-escolar e primeiro ciclo das escolas do concelho, públicas e privadas, desfilaram pelas ruas, representando um alimento tradicional da região.

“Olha a regueifa de Valongo. Venha comprar, freguês. Não existe pão mais gostoso”, entoa pelas colunas de som presentes em cada esquina das ruas decoradas a rigor. O calor é muito e as pessoas procuram o melhor lugar à sombra para ver o seu “cachopo” a passar no desfile e filmar o momento. “Olha para aqui”, repetem os pais vezes sem conta para tentarem a todo o custo tirar uma fotografia do filho.

Sónia Alves é uma das avós que está entre o público à procura da neta de cinco anos para lhe tirar uma foto, “mas ela está sempre escondida entre os outros meninos”. “É bom passarem a tradição uns aos outros, principalmente, nas escolas”, afirma. Vânia Moreira, mãe da Gabriela, trouxe a “família toda” para ver o primeiro desfile da filha e acompanhar todo o percurso. “Acho super giro, é da nossa tradição e é uma oportunidade de todos participarem para ficarem a conhecer também, para dar a conhecer, que é importante”, refere.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

Os mais novos, todos contentes e de mãos dadas uns aos outros, passam pelo meio das ruas, vestidos à padeiro e com uma imagem ou um colar a representar “As Maravilhas de Valongo”, remetendo a alguns dos doces que foram candidatos ao concurso que define as 7 Maravilhas Doces de Portugal. Uma delas e que ainda está a concorrer, é a sopa seca de Valongo, representada pela Escola Básica do Barreiro, que trouxe cerca de 120 alunos. “A ideia de representarmos a sopa seca foi de quem faz este doce, que é de Alfena, como nós”, explica Vânia Costa, auxiliar de Acção Educativa, enquanto tenta que os alunos não se dispersem.

Já a representar o gelado de regueifa está a Escola Básica das Saibreiras. Margarida, professora de primeiro ciclo, revela que tem “pena de as pessoas não aderirem tanto”, mas acha que “cada vez mais turmas estão a aderir”. “Era importante que fizessem, por exemplo, no dia da criança, como se aproxima, no dia em que a gente festeja na escola, podiam fazer este evento”, sugere.

Desfilam de vermelho, verde, amarelo e tantas outras cores atribuídas a cada escola, fazendo uma coreografia, já bem decorada por todos, pelo meio. Beatriz, aluna de segundo ano, diz que o que mais está a gostar é de “dançar e andar com os colegas”. Já Ângelo, de oito anos, que estava muito entretido a conversar com os amigos, confessa adorar o doce que representa, o gelado de regueifa, mas “o que mais gosta é mesmo o biscoito”.

O feitio dos chapéus à padeiro coube à imaginação de cada turma: uns com desenhos, outros com furinhos e outros ainda todos fechados.

Em último lugar no desfile vai o comboio turístico que leva alguns meninos e meninas muito curiosos à janela, desde a zona da fábrica até ao parque da cidade, onde se reuniram todos para lanchar.

Objectivo do evento é reactivar a tradição

Este desfile faz a abertura da Feira da Regueifa e do Biscoito e o Mercado Oitocentista de Valongo, que existe desde 2014. Faz parte da aposta na cultura, sendo “um investimento no futuro porque estas crianças ficam tocadas e adoram fazer isto e os papás também gostam e depois acabam por vir mais tarde, com mais calma, com a família”, explica o presidente da Câmara Municipal de Valongo, José Manuel Ribeiro.

Nesta edição, o investimento é ainda maior que o do ano passado, superior a 100 mil euros, mas o presidente explica que “é investir para colher no futuro”.

A iniciativa, que “já é uma marca da cidade”, surgiu para “reactivar o território através da cultura, construir identidade, que é fundamental num território suburbano e periférico, senão esta é mais uma periferia”, continua.

“A adesão das pessoas é a melhor homenagem que podíamos fazer a esta tradição”, sublinha, referindo que, em muitos casos, “são as próprias pessoas que embelezam as casas” e “algumas destas recriações é a comunidade que vai ao baú e começa a falar com a avó que ainda está viva e que propõe actividades que se faziam antigamente”. “É uma coisa muito curiosa como conseguimos criar um diálogo com a cidade sem pedir”, continua.

Num concelho em que “é quase tudo descendente de padeiro”, José Manuel Ribeiro conta que a tradição ligada ao fabrico do pão já tem cerca de 500 anos. “Quando o Porto começa a ser cidade, passa a fabricar pão porque passaram a autorizar os fornos. Os padeiros em Valongo adaptaram-se e, como tinham o forno e o know-how, foi muito fácil porque fazer biscoito é, basicamente, cozer duas vezes”, lembra.

Novidades no âmbito ambiental e solidário

A novidade, este ano, está na expansão do evento para um terreno que estava ao abandono para a criação de uma zona gastronómica, mas também numa medida ambiental e outra solidária.

Estão a ser oferecidos aos alunos das escolas do concelho uma saca de pano com versos escritos por uma fadista e está a ser promovida a separação dos resíduos durante os dias da feira. Estes resíduos serão depois recolhidos e a Lipor entregará uma parte desse valor arrecadado aos bombeiros de Valongo e de Ermesinde.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

A inovação surge também na realização de um “showcooking” com o chef Chakall, acompanhado pelo pizzaiolo siciliano Roberto Mezzapelle, na quinta-feira.

O evento prolonga-se até domingo com animação diária, com fabrico ao vivo, recriações históricas, exposições, cortejos, teatro, danças, passeios a cavalo, workshops e grandes espectáculos musicais.

Estão presentes as principais padarias e biscoitarias do concelho e outros comerciantes em mais de 50 bancas e casinhas espalhadas pelo eixo central da cidade.

Na sexta-feira, decorre a Bênção do Pão e Cortejo de Padeiros. No dia 1 de Junho está agendado o concerto de José Cid e no dia 2 decorrem o IV Capítulo da Confraria do Pão da Regueifa e do Biscoito e o Concurso da Melhor Regueifa e do Melhor Biscoito da Feira, assim como o espectáculo humorístico com Herman José. O certame encerra nesse mesmo dia com a procissão e Pregão de Santo António dos Almocreves.