A tua mãe diz a toda a gente que és um bom rapaz e um bom filho, nas alguns dos que te conhecem acham que és um safardana do piorio e contam algumas das peripécias que te meteram na cadeia mais que uma vez. Se calhar todos têm razão, mesmo a tua mãe que só te vê fazer coisas boas desde que regressaste a casa em liberdade condicional: és carinhoso para com ela, comes, dormes, vês televisão e até passeias o cachorro. Por mim, bem acredito no que me disseste de teres deixado certas companhias e mesmo de fazeres certos telefonemas.
Contastes-me que na cadeia te deu para ler a Bíblia e como ficaste impressionado com certos patifes que lá aparecem e como Jesus se dava com eles, ao ponto de alguns, que se julgavam melhores que os demais, O criticassem. Era o caso dos publicanos: cobravam os impostos que entregavam aos romanos; de caminho arrecadavam mais um quanto para meter ao bolso e rapidamente ficavam ricos, porque em vez de se contentarem com umas comissãozita, abarbatavam umas comissãozonas.
Caso marcante foi o de Zaqueu, chefe de publicanos e pessoa grada na sua terra, Jericó, que Jesus atravessava. Querendo ver o Mestre e, em face da multidão que o tapava por ser pequenote, correu mais à frente, não teve vergonha de trepar a uma árvore e ficar à espera. Ao passar por ele, Jesus ergueu os olhos e pediu-lhe hospedagem. Radiante e comovido pelo pedido, Zaqueu não só acedeu ao pedido como resolveu mudar de vida, prometendo logo dar metade dos seus bens aos pobres e restituir em quádruplo aos que tivesse cobrado a mais.
Também te tocaram outras histórias como a de Pedro que negou por três vezes conhecer o Senhor e depois chorou de arrependimento. Ou o filho pródigo da espantosa parábola que depois de esbanjar os bens numa vida desregrada, regressa a casa disposto a ser tratado como um servo e é recebido com beijos pelo pai que faz uma festa por recuperar o filho que se tinha perdido. Ou a do bom ladrão que no Calvário roubou o coração de Cristo e conseguiu uma boleia direta ao Paraíso sem precisar sequer de Purgatório. Sei que tudo isto te ajudou à feliz decisão de te confessares nesta quaresma e assim passares mesmo de um mero bom patife a um verdadeiramente bom filho como a tua mãe te considera.