Foto: Bombeiros de Cete

Os dados de 2019 ainda não estão fechados, mas apontam já como foi o ano em termos de incêndios na região. Os números cedidos ao Verdadeiro Olhar pelos serviços de Protecção Civil das Câmaras Municipais de Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo mostram que houve menos incêndios/ignições, mas mais área ardida nestes concelhos.

O número de ocorrências desceu de 1.046 (em 2018) para 897 (2019), ao ponto que a área ardida subiu de 139 para 680 hectares no mesmo período.

De realçar que há incêndios que atravessam vários concelhos e podem influenciar os dados e que estes foram dois anos atípicos, referem algumas das autarquias.

Paredes e Penafiel continuam a registar o maior número de incêndios no país

O 8.º relatório provisório do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), lançado em Outubro, que avaliava a evolução dos incêndios entre 1 de Janeiro a 15 Outubro deste ano, dava conta de que, em 2019, houve um total de 10.841 incêndios rurais nesse período que resultaram em 41.622 hectares de área ardida, em povoamentos e zonas de matos e agricultura. “Comparando os valores do ano de 2019 com o histórico dos 10 anos anteriores, assinala-se que se registaram menos 46% de incêndios rurais e menos 70% de área ardida relativamente à média anual do período. O ano de 2019 apresenta, até ao dia 15 de Outubro, o 2.º valor mais reduzido em número de incêndios, o 2.º valor mais reduzido de área ardida e a 1.ª vez que a redução de área ocorre em dois anos consecutivos, desde 2009”, explicava o ICNF.

Nesse relatório, que aponta o incendiarismo – imputáveis (29%) e as queimadas de sobrantes florestais ou agrícolas (16%) como principais causas dos incêndios, os distritos de Porto (1843), Aveiro (924) e Braga (912) surgem como aqueles que registaram maior número de incêndios, enquanto Santarém, com 6711 hectares, Castelo Branco, com 6391 hectares, e Vila Real, com 3243 hectares, são os que tiveram maior área ardida.

Incêndios em 2019 na região | ICNF

No documento estão mencionados três concelhos da região entre os que têm maior número de incêndios: Paredes, Penafiel e Valongo, sendo que os dois primeiros lideram a lista. “Os concelhos que apresentam maior número de incêndios localizam-se, com excepção de Beja,

todos a Norte do Tejo e caracterizam-se por elevada densidade populacional, presença de grandes aglomerados urbanos ou utilização tradicional do fogo na gestão agroflorestal. Estes vinte concelhos representam 25% do número total de ocorrências e 15% da área total ardida”, explica o ICNF.

Nevogilde, Sousela e Meinedo com maior área ardida em Lousada

O Verdadeiro Olhar recolheu dados junto das câmaras municipais da região que mostram que houve menos ignições, mas mais área ardida registada este ano.

Em Lousada, foram registados 134 incêndios rurais em 2018, sendo considerados 113 fogachos, sete incêndios florestais e 14 incêndios agrícolas. Este ano, os dados provisórios apontam para 100 fogos (84 fogachos, oito incêndios florestais e oito incêndios agrícolas), adianta a autarquia. A área ardida passou de 37,6 hectares para 44,4 hectares.

As freguesias com maior número de ignições foram Sousela (18), Lustosa (17) e Nevogilde (16). Já as com maior área ardida este ano foram Nevogilde (16 hectares), Sousela (9,8) e Meinedo (6,8).

Os serviços de Protecção Civil de Lousada realçam que “para o aumento da área ardida em 2019 contribuiu o incêndio ocorrido em Fevereiro na freguesia de Nevogilde, em que só em povoamento florestal arderam 12 hectares”.

A autarquia acrescenta que, em 2019, o município executou as faixas de gestão de combustíveis da rede viária, rede viária florestal, polígono industrial e pontos de água previstos no Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios e promoveu também a limpeza dos terrenos propriedade do município numa área total de 59 hectares.

Na freguesia de Sousela, houve a equipa de Sapadores Florestais da Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa executou a faixa de gestão de combustível da rede viária florestal numa área de 5,7 hectares. Também o município, através do gabinete Técnico Florestal e em colaboração com a GNR, realizou sessões de sensibilização sobre o tema Queimas e Queimadas, de forma a esclarecer a população. As sessões tiveram lugar na Junta de Freguesia de Lustosa, na Junta de Freguesia de Lousada São Miguel e na Cooperativa Agrícola de Lousada.

Menos 10 hectares ardidos em Paços de Ferreira

Infografia: Verdadeiro Olhar

Em Paços de Ferreira, a área ardida baixou consideravelmente entre 2018 e 2019. Passou de 15,8 hectares a 5,5 hectares (até 30 de Novembro). Também o número de ocorrências baixou de 126 para 91 no mesmo período.

Neste concelho, as freguesias mais afectadas foram Carvalhosa, Ferreira, Freamunde, Penamaior e Sanfins de Ferreira, sendo que, este ano, a freguesia com maior número de ignições e maior área ardida foi Carvalhosa.

“A descida da área ardida e do número de ocorrências tem a ver com a maior consciencialização de todos para o trabalho que é necessário desenvolver nos espaços rurais e no âmbito das faixas de gestão de combustível, isto é, os trabalhos associados à limpeza dos terrenos”, acredita a autarquia pacense. “Todos os anos investimos na prevenção e sensibilização, sendo que os resultados finais devem-se, muito, à prevenção e, nomeadamente, à aposta das limpezas dos terrenos e na execução das limpezas confinantes com a via pública. Existe um trabalho contínuo do município e que já vem sendo desenvolvido ao longo dos tempos, principalmente com a população, no sentido de incentivar às limpezas das suas propriedades”, acrescenta a mesma fonte.

Mais área ardida em Paredes, mas menos ocorrências. Câmara fala em bons resultados

Segundo o pelouro da Protecção Civil da Câmara Municipal de Paredes, foram 430 as ocorrências de incêndios rurais registadas no concelho, em 2018. Em 2019, para já, foram 351. Já o número de hectares ardidos este ano é superior ao do ano passado: aumentou de 38 para 65,4 hectares, sendo que os dados só fecham a 31 de Dezembro.

A freguesia com maior área ardida em 2018 foi Recarei (11,3 hectares) e a com maior número de ocorrências (56) foi Astromil. Este ano, Lordelo registou o maior número de ignições (48) e a freguesia de Parada de Todeia foi a que teve mais área ardida: 37,2 hectares.

A Câmara destaca que “a redução do número de ocorrências está relacionada com o comportamento das pessoas, visto que as ignições são de origem humana”. “Quanto à área ardida, que sofreu um ligeiro aumento, deveu-se essencialmente a um incêndio de pequenas dimensões, ocorrido de madrugada em Parada/Cete, que teve como área ardida total cerca de 35 hectares. Em termos gerais estamos perante excelentes resultados em termos de área ardida visto o território de Paredes ter mais de 9.000 hectares de espaço florestal”, sustenta a mesma fonte.

Por outro lado, a autarquia de Paredes alega que o trabalho desenvolvido pelo Serviço Municipal de Protecção Civil e Unidade de Protecção Florestal tem sido contínuo ao longo dos anos, mas que, este ano, as acções de sensibilização, de prevenção e de apoio ao combate têm-se traduzido nestes melhores resultados. “Houve um maior empenho e dinamização das campanhas de sensibilização junto das populações, promovidas pela Câmara Municipal, e também acções conjuntas com os outros agentes envolvidos nos incêndios rurais. Tivemos o programa do IPDJ do voluntariado jovem para as florestas; sensibilização porta-a-porta, avisos à população do risco de incêndio, o controlo dos pedidos de queimas e fogueiras e também do fogo de artifício”, refere a resposta do município. “Em termos de prevenção, a Câmara Municipal efectuou várias acções de melhoria e beneficiação de caminhos, acções de fogo controlado para criar descontinuidades nas manchas florestais e redução do risco em diversas áreas, efectuou as faixas de gestão de combustível das vias municipais das freguesias prioritárias e dos terrenos da autarquia e beneficiação de pontos de água”, refere ainda, dizendo que deu também apoio ao combate de incêndios na parte logística, de maquinaria e através do apoio técnico do especialista em incêndios rurais do município.

Sensibilização tem descido número de ignições em Penafiel, mas arderam quase 310 hectares

Foto: Bombeiros de Penafiel

No caso de Penafiel, a diferença entre o número de incêndios rurais em 2018 e 2019 é pequena: 218 fogos contra 199. O caso muda de figura quando olhamos à área ardida que subiu, significativamente, de 36,8 hectares, no ano passado, para quase 310 hectares, este ano.

As freguesias com mais ignições foram Penafiel, com 36 incêndios, e Duas Igrejas e Oldrões, com 16 incêndios. Por outro lado, Luzim e Vila Cova – 86,5 hectares – e Boelhe – 72,5 hectares – foram as freguesias com mais área ardida.

A Câmara de Penafiel justifica a descida do número de ignições com a sensibilização e informação direccionada à população para a gestão da propriedade e consequentemente um aumento da resiliência do território à passagem do fogo; a sensibilização para a redução dos comportamentos de risco e divulgação das regras a cumprir no uso do fogo, através do licenciamento de queimas e queimadas; e a aposta das corporações de Bombeiros Voluntários e Câmara Municipal, através da sua Equipa Municipal de Intervenção Florestal, nas operações de rescaldo e vigilância pós-incêndio.

“Em 2018, as condições atmosféricas foram extremamente favoráveis no distrito do Porto, resultando numa área ardida bastante inferior a 2019. Contudo, a área ardida no concelho de Penafiel, em 2019, é o 3.º valor mais reduzido entre 2009 e 2019 (-57% de área ardida, relativamente à média anual do período 2009/2019 (727,0 hectares)”, explica a mesma fonte quanto à área ardida.

Freguesia de Sobrado é a mais afectada em Valongo

Os Serviços Municipais de Protecção Civil e Defesa da Floresta de Valongo ressalvam que “2018 e 2019 foram anos atípicos e que as estatísticas relativas a incêndios florestais devem considerar sempre intervalos de cinco e 10 anos”.

Quanto ao número de incêndios registados passou de 138 em 2018 para 156 em 2019, enquanto a área ardida foi de 11 para 255 hectares no mesmo período.

Segundo a autarquia, a freguesia de Sobrado foi a mais afectada, com 228 hectares de área ardida e um aumento do número de ignições para o dobro, de 25 para 48.

Sem apontar causas para a evolução dos incêndios rurais nestes dois anos, a Câmara de Valongo realça que “as campanhas de sensibilização para a limpeza de terrenos florestais, bem como a colaboração que tem sido prestada pelos Serviços Municipais de Protecção Civil e Defesa da Floresta na prevenção e apoio ao combate, têm seguramente produzido efeitos positivos ao longo dos últimos anos”.