Recebe-nos com um abraço do tamanho do mundo e um sorriso de desarmar qualquer um. “Porque és menina”, justifica. Dos meninos, normalmente, tem vergonha, confessa.

Chama-se Cátia Soraia e tem 24 anos. Tem paralisia cerebral e uma história com algumas tristezas. O pai morreu quando era pequena, num acidente de carro, e a mãe há três anos, de AVC. Desde essa altura mora com os tios, a prima e a avó, em Rebordosa, Paredes, onde encontrou uma segunda família.

Apesar de os apoios da Segurança Social chegarem para as despesas do dia-a-dia, a menina precisa de uma cadeira de rodas adaptada nova para ter mais qualidade de vida. A factura é elevada, já que inclui ainda uma grua e um cinto especial.

No total são precisos cerca de 13 mil euros. Familiares e amigos já agendaram uma iniciativa solidária. A próxima decorre a 31 de Maio, em Valongo.

Cátia não esconde: a prenda que gostava de receber quando fizer 25 anos em Junho era a cadeira nova.

Mãe morreu há três anos e tios acolheram-na em Rebordosa

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Carminda Alves tinha duas filhas. Agora tem três, assume. Quando a irmã faleceu, há cerca de três anos, vítima de um AVC, não hesitou e trouxe a menina para viver com ela. “A minha irmã estava com cancro e tinha-me pedido que se lhe acontecesse alguma coisa ficasse com a Soraia. Tinha feito essa promessa, mas mesmo que não estivesse ficava com ela na mesma”, afirma.

A vida mudou, não escondem. Teve que aceitar o apoio de uma associação e da junta de freguesia para fazer obras de adaptação na casa de banho e no quarto que a Cátia Soraia partilha com a prima Maria.

Em Viana do Castelo, onde morava, frequentou o ensino regular até ao 9.º ano. Agora, frequenta o Emaús – Associação de Apoio ao Deficiente Mental, em Baltar, passando algumas horas, ao início da manhã e ao final da tarde, na Associação de Desenvolvimento de Rebordosa. É também utente do Centro de Paralisia Cerebral do Porto.

A cadeira cor-de-rosa, a sua cor favorita, já a tem há alguns anos, conta a tia. “Mas está pequena pra ela. Já metemos o pedido na Segurança Social no ano passado, mas temos que aguardar resposta e dizem-nos que a lista de espera é de dois anos”, explica Carminda Alves.

“Pedimos ajuda em vários sítios. Já mandei orçamentos e contei a história dela, mas não tivemos resposta”, conta. “Ela está sempre a queixar-se de dores porque tem uma luxação congénita na anca”, acrescenta.

Iniciativas solidárias ajudam a angariar verbas

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Até que uma familiar fez um vídeo com a Cátia a dizer que o seu sonho era ter uma cadeira de rodas nova. Organizou-se uma recolha de tampinhas e realizou-se uma caminhada solidária no dia 25 de Abril que rendeu 900 euros. Para o final do mês está já agendado um Free Trail, no Centro de Trail de Valongo, com as verbas angariadas a reverter a favor desta causa. E a Conferência de São Vicente de Paulo de Rebordosa está disposta a ajudar na criação de uma conta solidária.

No total, diz Carminda Alves, o orçamento, que inclui a cadeira adaptada, um cinto para a prender nas viagens de carro e uma grua para a ajudar a ir para a cama e à casa de banho, ronda os 13 mil euros. “Parece muito”, concorda, mas a cadeira, explica, tem banco, patins e encosto adaptados ao tamanho da menina e está preparada para o piso irregular que ladeia a casa.

Os tios, apesar de estarem os dois empregados, não têm rendimentos para suportar esta despesa extra. “Se tivéssemos já lha tinha dado”, garante a tia. Os apoios que recebem da Segurança Social chegam para todas as despesas da menina do dia-a-dia e para a medicação para a epilepsia, mas não para um investimento tão avultado.

Tem Facebook e dois namorados

Cátia Soraia comunica bem. Tem até Facebook e dois namorados! Gosta da escola, de trabalhos manuais e de música. “Gostava de ter uma cadeira nova para ir para a escola. Ia dar jeito, mas ainda não acredito”, assume entre sorrisos e olhos baixos. Faz 25 anos em Junho e não esconde que a prenda que queria era a cadeira nova.

Adora a prima Maria, a quem pede ajuda quando não consegue ganhar os jogos online ou passar de nível e com quem divide o quarto, e aos tios tanto chama tio e tia como mãe e pai. “Nós aceitamos de qualquer maneira”, sorri Carminda.

Na despedida há mais um abraço forte e o pedido de que a visitemos mais vezes.

 

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar
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