A maioria das vítimas de violência da região do Tâmega e Sousa é mulher (91%) com uma média de idades de 44 anos, em 41% dos casos casadas, sendo que 37% encontrava-se numa situação de desemprego. Quase metade dos(as) agressores(as) da região (47%) possui algum tipo de dependências de álcool e/ou drogas. A violência psicológica está presente em quase todos os casos (95%) enquanto a física marca 54% das situações.
Os dados constam do estudo de “Caracterização da violência doméstica no Douro, Tâmega e Sousa: compreender para intervir” e foram apresentados no I Seminário da Unidas – Rede Intermunicipal de Apoio à Vítima do Douro, Tâmega e Sousa, uma rede constituída por 11 estruturas de atendimento a vítimas de violência doméstica e que é coordenada pela Comunidade Intermunicipal (CIM) do Tâmega e Sousa.
A CIM acredita que este é “um instrumento fundamental para se conhecer a realidade do fenómeno na região e, consequentemente, para a adopção de estratégias de prevenção e intervenção adequadas”.
Maioria das agressões acontece em casa
A amostra deste estudo foi composta por 490 vítimas de violência de doméstica (ou seja, todas as vítimas atendidas nas onze estruturas de atendimento da Rede Intermunicipal de Apoio à Vítima do Douro, Tâmega e Sousa, nos anos de 2020 e 2021, independentemente de o processo de acompanhamento se ter iniciado nestes anos, ou compreender um processo iniciado em anos anteriores, mas ainda em acompanhamento nesse período). Destas, um total de 309 foram apoiadas pelos serviços instalados nos concelhos de Lousada, Paços de Ferreira e Penafiel.
A caracterização do perfil da vítima e do(a) agressor(a), bem como das dinâmicas de violência doméstica reportadas no território do Tâmega e Sousa, surge como sendo similar àquele traçado a nível nacional.
Além dos dados já mencionados, o estudo permitiu concluir que “na maior parte das situações (72%), a vítima e o(a) agressor(a) têm uma relação de conjugalidade ou análoga, sendo o agressor maioritariamente do sexo masculino (90%), com uma idade média de 46,41 anos”. Os episódios de violência reportados ocorrem maioritariamente (67%) na residência comum da vítima e do(a) agressor(a), estando a violência psicológica presente na maioria dos casos (95%).
Em mais de metade (55%) dos agregados familiares das vítimas de violência doméstica da região existe, pelo menos, um menor de idade, sendo que, nos anos 2020 e 2021, foram 41 as vítimas crianças e jovens acompanhadas pela rede Unidas.
De acordo com a CIM, em 2021 foram iniciados 357 novos processos de acompanhamento a vítimas de violência e, no 1.º trimestre de 2022, existem já 113 novos processos de acompanhamento.
“Comparativamente ao ano de 2021, onde foram acompanhadas, no total, 481 vítimas, no 1.º trimestre de 2022 já são 245 as vítimas em acompanhamento. Em 2021 e 2022 (1.º trimestre) a Unidas realizou, no total, 3806 atendimentos a vítimas de violência doméstica”, relata a CIM.
É preciso mais formação e oportunidades profissionais para as vítimas
Se no global, as vítimas acompanham o perfil nacional, isso não acontece quanto à situação profissional. Os dados nacionais referem que “em 2020, 50% das vítimas estavam empregadas e apenas 24% estavam desempregadas”, enquanto “na região do Tâmega e Sousa, 37% das vítimas do território estão desempregadas e apenas 32% estão empregadas”. “Esta especificidade pode ser indicadora da necessidade de uma maior intervenção no âmbito da promoção de formação e oportunidades profissionais para as vítimas de violência doméstica, como forma de empoderar a vítima e colmatar eventuais situações de dependência económica destas relativamente ao agressor, podendo esta lacuna dificultar a sua autonomização”, conclui o estudo da CIM.
De referir que a Unidas conta com 11 estruturas de atendimento, uma por cada município da região, que estão em funcionamento deste Abril do ano passado e prestam um serviço especializado, confidencial e gratuito a vítimas de violência doméstica e a pessoas que procurem apoio neste âmbito, assegurando-lhes apoio social, psicológico e jurídico. Este Rede também faz a articulação com as restantes estruturas e respostas da Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica, tendo em vista uma maior proximidade e eficácia da intervenção.