Passados sete meses do nascimento da Clara, dou por mim muito mais atenta e sensível ao tema da maternidade, como não poderia deixar de ser, e a tudo o que a ele diz respeito.
É natural que as conversas que tenho com outras mães acabem por tocar no tema de sempre: os nossos filhos, as nossas experiências, os nossos receios, dúvidas e até alguns desabafos.
Desabafos estes que registo com atenção, desabafos estes muitas vezes também sentidos e vividos por mim mesma enquanto mãe.
E é triste concluir que, apesar de toda a conversa em torno da maternidade, da necessidade de aumentarmos a taxa de natalidade no país, da importância de criar melhores condições para que as mães consigam acompanhar o crescimento dos seus filhos, para que possam efectivamente conciliar a sua vida pessoal e familiar com a vida profissional, tudo não passa disso mesmo: conversa.
Conversa bonita, conversa agradável de se ouvir e porque todos gostam e fica bem de se dizer, mas na verdade, na realidade, não em todos os casos, mas numa grande parte deles, as entidades e as pessoas não estão cultural e mentalmente preparadas para dar esse apoio efectivo a quem trabalha e é mãe.
Agora que sou mãe, sinto revolta para com esse tipo de situações porque dou o devido valor ao papel difícil e exigente da maternidade.
Porque sei bem o desgaste que sofremos, toda a carga de trabalhos que temos todos os dias antes de sair de casa e depois de chegar a casa…e sabemos bem que o tempo que sobra para estarmos com os filhos é muito pouco, referindo-me, claro, ao tempo de qualidade, ao tempo que estamos com a criança de corpo e alma, com a atenção só nela e para ela, sem estar a pensar nas tarefas que temos ainda para fazer, no email que ficámos de responder hoje sem falta, na chamada que temos ainda de devolver ou na reunião que vamos ter depois do jantar…
Esse tempo de qualidade, caras e caros leitores, é decididamente pouco e os adultos do futuro vão mostrar-nos isso.
Não podemos pedir a uma mãe que, ainda que indirecta e disfarçadamente, escolha entre um filho e o seu trabalho.
É injusto.
Não é correcto.
Recrimino quem o faz.
É preciso, por isso, que nos diversos locais de trabalho sejam criadas condições e respostas para que o trabalho seja feito, naturalmente, mas que quem é mãe possa sentir-se apoiada, acompanhada e acarinhada por estar a levar a cabo a sua missão de mãe, por estar a dar um contributo importante ao país, sem que a sua vida profissional e a sua capacidade de trabalho sejam postas em causa em qualquer momento.
Termino, deixando a minha solidariedade e apoio a todas as mães que, ao ler este pequeno texto, se vão nele rever, mas deixando, ao mesmo tempo, uma palavra de força e coragem para defendermos a nossa condição de mãe e de profissional que são, como todas sabemos, compatíveis.