Uma árvore não é só uma árvore, é muitas vezes todo um ecossistema que serve de casa a muitos outros animais e plantas. E é para provar a importância e o valor ecológico das árvores lousadenses que está a decorrer o projecto “Gigantes Verdes”. Nos últimos meses, e depois de muitos quilómetros percorridos a pé, João Gonçalo Soutinho, coordenador da iniciativa, tem já 7.389 árvores identificadas, estando caracterizadas 2.637 de 53 espécies diferentes. Há árvores com cerca de 200 anos e seis metros de perímetro no concelho.
Depois de inventariar estes “monumentos vivos”, a Câmara Municipal de Lousada quer preservá-los e isso passa por encontrar formas de compensar os munícipes que tratem e mantenham estas árvores de pé. “Essa será a parte desafiante. A árvore está num terreno privado, mas presta um serviço à comunidade”, alega o vereador do Ambiente, Manuel Nunes.
Árvores são medidas e inventariadas
O projecto “Gigantes Verdes” foi o grande vencedor do Fundo Ambiental e de Investigação Lousada Sustentável 2017. João Gonçalo Soutinho, já responsável por outro projecto ambiental ligado ao maior escaravelho da Europa, a vaca-loura, previa mapear 1200 árvores do concelho, num projecto “inovador em Portugal”. Mas esses números há muito foram suplantados.
Depois de ter sido lançado o apelo à população para que identificasse árvores de elevado valor ecológico, ou seja, árvores que “apresentam características como cavidades ou ramos mortos que lhes permitem ter um papel fulcral na conservação da natureza, principalmente por serem um local de abrigo e alimentação para muitos animais”, começou ele próprio a calcorrear a pé o concelho, em busca desses “monumentos vivos”.
Os seus dias são passados a medir árvores. “Metade do trabalho é falar com as pessoas e a outra metade medir as árvores” e registar a sua localização, explica o estudante universitário, que transformou o projecto numa tese de mestrado, estando integrado no grupo de investigação CE3C – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa.
Estas árvores têm normalmente um tamanho ou forma fora do normal, fruto da sua idade ou das condições ambientais do local onde se encontram. Muitas vezes, por desconhecimento, os espécimes com cavidades e ramos mortos, que são casa de animais como pica-paus, corujas, salamandras e escaravelhos, são abatidas por medo de que não ofereçam segurança. João Gonçalo Soutinho destaca a importância destes micro-habitats.
Em Nevogilde, por exemplo, há um “tulipeiro” com seis metros de perímetro que pode ser a segunda maior do país desta espécie. As árvores de dimensão assinalável serão “5% das que existem no concelho”.
Câmara vai estudar compensações para proprietários que mantenham gigantes de pé
Um dos exemplares de grande dimensão está na Casa do Rio, no Torno. É um carvalho alvarinho com cerca de quatro metros de perímetro. O proprietário nunca duvidou da importância das árvores de grande dimensão que tem no seu terreno. “Para nós estas árvores sempre foram de interesse e sempre as quisemos manter. Mas nem toda a gente percebe a sua importância”, reconhece Nuno Drumond, que se tem envolvido em vários projectos ambientais lançados pelo município, aderindo, entre outros, às casas ninho e à plantação de árvores.
Só ali tem dois “gigantes verdes” identificados. “É preciso uma educação ambiental activa para mostrar que estas não são apenas árvores. Para a maioria dos proprietários é difícil manter gigantes deste género devido às pressões”, ligadas à indústria e abertura de estradas, entre outros, admite. “Tenho gigantes noutros locais que serão mais difíceis de preservar”, assume o proprietário, realçando a importância do apoio dado à manutenção das árvores com técnicos especializados.
Quando o abate é o caminho mais fácil, Nuno Drumond reconhece que é preciso que manter uma árvore destas seja viável economicamente.
É esse o caminho que a Câmara de Lousada pretende seguir para preservar estas árvores. “Algumas, pela idade e pelo tamanho merecem uma classificação especial e há núcleos de árvores que valem pelo conjunto”, refere o vereador do Ambiente, Manuel Nunes.
Numa colaboração de proximidade com os proprietários, a grande meta é fazer com que a necessidade de abate seja minimizada e perceber quanto vale uma árvore para uma comunidade. “Quando este trabalho de inventariação estiver concluído vem um outro, mais desafiante, que é perceber como compensar os munícipes que tratem e mantenham estas árvores de pé. Isso pode passar pela redução de impostos”, sustenta, referindo, no entanto, que não será possível salvaguardar todas. “Temos de ser selectivos”, concorda, lamentando que, algumas das árvores inventariadas no ano passado já não estejam de pé. “Isso torna ainda mais urgente realizar o trabalho de campo para passar ao passo seguinte e ter um plano de acção para salvaguardar estes gigantes”, reconhece o autarca, lembrando que parte do trabalho passa pela educação ambiental e sensibilização, para combater o desconhecimento.