Os alunos tiram a senha para almoçar na cantina, mas, na maioria dos dias, acabam por não comer pela má qualidade da comida. Uns socorrem-se do bufete, comendo coisas nem sempre saudáveis, outros já nem sequer arriscam e trazem comida de casa. Perante estas situações, recorrentes, e depois de várias reclamações junto da direcção da Escola Básica e Secundária de Lousada Norte, em Lustosa, alguns pais resolveram convocar uma greve à cantina. O protesto está agendado para entre os dias 20 e 25 de Janeiro e os alunos são incitados a não tirar senha essa semana.
Segundo pais e alunos, na cantina são servidas cabeças de peixe, douradinhos queimados, almôndegas com sabor a detergente, batatas cruas, pão duro e sopa aguada, entre outros.
“Os pais não imaginam o que os filhos comem, ou melhor, não comem”
“Este problema já existe há muito. Os alunos queixam-se que a comida não presta e ninguém quer comer”, atesta Marta Reis, mãe de um aluno do 6.º ano, à porta da escola.
A situação tem vindo a agravar, conta João Fontes, que tem dois filhos no estabelecimento de ensino em Lustosa. “O meu filho não queria comer porque a comida estava intragável e uma funcionária obrigou-o. Ele vomitou tudo e eu reportei a situação à direcção. No outro dia fui buscá-lo e não tinha comido nada. Além de pagar a senha ainda tive de lhe dar o almoço. Os meus filhos vão fazer greve à cantina. O mais velho já quase nunca almoça lá”, sustenta.
Para Ilda Pinto o problema é claro: “a alimentação é péssima”. “Já serviram cabeça de peixe e douradinhos queimados. Outras vezes é comida crua, sem tempero, a saber a detergente. Já provei a comida e não estava comestível. É impensável almoçar aqui”, garante a mãe, que almoçou por várias vezes na escola perante as queixas do filho.
“As crianças não almoçam. Devolvem tudo para trás e depois vão para o bufete comer. Acredito que alguns ficam com fome. Há dias que o meu filho chega a casa esfomeado”, alega. Outros alunos, sobretudo os mais velhos aproveitam o micro-ondas existente e trazem comida de casa.
“A direcção da escola diz que a refeição é comestível. Já fomos à Câmara que também não pode ajudar. Isto não pode continuar assim”, critica Ilda Pinto, dizendo que devia ser trocada a empresa de catering que confecciona as refeições na escola.
Para Sofia Teixeira há outro problema. Muitos pais nem sabem o que se passa. “Os pais não imaginam o que os filhos comem, ou melhor, não comem. Alguns vieram provar a comida, mas outros não têm a mínima noção do que se passa”, refere. A luta desta mãe já dura há vários anos. Tem uma filha no 12.º ano que frequentou a escola desde o 5.º ano, e agora um filho que acabou de ingressar no estabelecimento escolar este ano lectivo. “Há miúdos a levar tabuleiros cheios para trás. Até a sopa há dias que não se consegue comer. A minha filha mais velha vai a casa, o meu filho vai ao bufete. Já fiz várias reclamações, mas nunca houve respostas e não muda nada”, queixa-se. A filha, Ângela Teixeira, de 17 anos, confirma. “Quase não almoço na escola por causa da má qualidade da alimentação. Ainda há pouco tempo comi na cantina e era bacalhau gratinado com batatas cozidas, mas as batatas estavam cruas. Vejo muita gente sair da cantina e ir ao bufete comer alguma coisa. Eu própria já fiz isso”, resume.
“90% dos dias os miúdos queixam-se da comida”
Diana Pinheiro, que tem um filho no 5.º ano, vê o problema da mesma forma. “A sopa é aguada, a comida que parece mastigada, o pão é duro e até cabelos na comida o meu filho já encontrou. Aqui nesta escola a cantina é um desastre”, diz.
Também Filipe Cunha, que tem duas filhas na escola, lamenta a situação vivida. “Tenho uma filha com 17 anos que anda no 11.º ano e uma que entrou este ano para o 5.º ano. A alimentação foi sempre um degredo aqui. O anormal é que os miúdos na primária adoram a comida e chegam aqui e passam a ser todos ‘esquisitos’”, aponta o pai. “90% dos dias os miúdos queixam-se da comida. A maioria não tira senha e os que tiram vão almoçar mas não comem, deixam o tabuleiro cheio e vão para o bufete. Concordo com esta greve. As minhas filhas vão aderir”, adianta Filipe Cunha, referindo que a filha mais velha traz comida de casa, mas a mais nova vai à cantina e muitas vezes comer ao bufete a seguir. “Acabamos por pagar a senha e depois gastar o dinheiro no bufete na mesma. A minha mulher já reclamou várias vezes. Ela já chegou a vir aqui almoçar e aquilo não é comida que se apresente”, garante.
À entrada da escola, vários alunos do 6.º ano atestam esta realidade. “Às vezes as batatas estão cruas, a sopa não tem sabor, a comida está fria ou o arroz parece chiclete. Quando é massa com peixe não tem peixe, só espinhas”, dizem. Outros explicam que deixaram de comer na cantina e trazem de casa ou vão ao bufete.
A direcção do Agrupamento de Escolas Dr. Mário Fonseca não quis comentar esta situação.
Na resposta enviada ao Verdadeiro Olhar, o Ministério da Educação refere que a “escola não reportou qualquer reclamação aos serviços” e que “o referido refeitório escolar apresenta uma apreciação global de ‘nível Bom’ no registo diário de refeições, assegurado pela direcção e por trabalhadores”.
Por outro lado, o Ministério acrescenta que “de acordo com as informações da Direcção, uma encarregada de educação apresentou uma queixa, à qual foi dado o devido seguimento”. Questionada, a mesma entidade adianta que o contrato com a empresa está em vigor neste ano lectivo.
A Escola Básica e Secundária Lousada Norte é frequentada por cerca de 500 alunos.