Esta é uma luta “pelos nossos alunos, mas também pelos nossos filhos”, porque, no futuro, e com a falta de docentes que se avizinha, “não vamos ter professores nas salas de aulas, mas pessoas (sem qualificação adequada) a debitar matéria, tal como aconteceu no pós 25 de Abril”.
O alerta é do professor Nuno Costa, da escola de EB 1 de Campos, Nevogilde, Lousada, que garante que esta paralisação, que decorre desde o dia 9 de Janeiro em Portugal, “é pelos nossos alunos e também pelos nossos filhos”.
Apesar de reconhecer que a greve está a provocar muitos constrangimentos, Nuno Costa explica que é professor e encarregado de educação, por isso, entende os dois lados, mas a forma como que o Governo tem “destratado” a classe, está a “comprometer o futuro do país, porque a educação é a pedra basilar” de toda a sociedade.
Por isso, é peremptório em afirmar que “esta greve transcende os sindicatos”, razão pela qual a apelida de “histórica”, devido à forte adesão nacional. E isto acontece, porque “é uma luta de todos, com todos”, porque toda a classe se sente “indignada”, lamentando que o Governo trate a Educação “como uma mera questão orçamental”.
Nuno Costa sabe que há cada vez menos alunos a quererem enveredar pelo ensino, porque é uma profissão onde “não é premiado o mérito ou o desempenho”, levando a que “tenhamos uma classe envelhecida”. E como exemplo, refere que é o professor mais novo do agrupamento, apesar de ter 46 anos.
As reivindicações dos docentes são muitas e passam, por exemplo, pelo facto de terem tido a carreira congelada em dois períodos entre 2005 e 2017, durante nove anos. Em 2019, o Governo aceitou recuperar algum desse tempo, mas apenas quase três anos, ou seja, faltam “seis anos, seis meses e 23 dias”, como especificou Nuno Costa. Uma das exigências passa então pela “recuperação total do tempo de serviço”.
O fim das vagas de acesso aos 5.º e 7.º escalões da carreira docente é outra das contestações, porque, e mesmo que cumpram os restantes critérios, é necessário que abram vagas. Mas como os números de candidatos supera o de lugares disponíveis, acabam por não conseguir a progressão na carreira. Nuno Costa é exemplo disso, “devia estar no 6º escalão”, mas mantém-se no 3º.
A eliminação da precariedade, a criação de um regime especial de aposentação, e soluções para o excesso de burocracia são outros dos pontos que têm posto o Governo e os professores em lados opostos da barricada.
Entretanto, para este sábado está marcada uma manifestação de todos os professores, a segunda deste mês, para Lisboa. Designada de “Marcha pela Escola Pública”, é convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação, o S.T.O.P.. A greve poderá prolongar-se até ao final do mês de Janeiro.