“Uma grande injustiça!” É assim que o grupo de Teatro Jangada, com sede em Lousada, reage ao facto de ter sido excluído dos subsídios atribuídos pela Direcção-Geral das Artes (DGARTES), ao abrigo do Programa de Apoio Sustentado às Artes 2023-26, razão pela qual promete “contestar esta decisão” que está ferida de “várias irregularidades”.
Recorde-se que a DGARTES é o organismo responsável pela coordenação e execução das políticas de apoio às artes, através de atribuição de verbas, detendo assim, “um papel fulcral na garantia de condições para a estabilidade, consolidação e renovação do tecido artístico profissional em Portugal, bem como para a sua internacionalização”, como a própria estrutura refere no seu site.
Ora o Jangada Teatro, que existe há 23 anos e é a única companhia profissional da região do Tâmega e Sousa, não está contemplada neste apoio, uma situação que a companhia “não entende”, apontando um “conjunto de irregularidades no concurso” que levou à atribuição das verbas.
A produtora, Ana Luísa Fernandes, explicou ao Verdadeiro Olhar que, no aviso de abertura do concurso, ficou assente que “nenhuma região podia ultrapassar os 40% do montante total das verbas”. Ora, contas feitas, o dinheiro previsto para a Região Metropolitana de Lisboa é de 43,9%, o que quer dizer que a DGARTES “não cumpriu as regras” do concurso.
Tendo em conta que o grupo é “crucial para a coesão social da região”, que “é uma zona cinzenta” do ponto de vista da oferta cultural, ao contrário do litoral, e que “só em 2022 fizemos 92 espectáculos”, esta é uma decisão “incompreensível”, sublinhou.
Assim, Ana Luísa Fernandes assegura que o grupo “vai contestar os resultados deste concurso”, porque aquele financiamento é essencial para a sobrevivência do grupo, sendo que como exemplo se pode referir que tem à sua responsabilidade a organização de dois festivais internacionais de teatro, o Folia e o Foliazinho.
A produtora revela que o grupo só depende em “30% dos subsídios da DGARTES”, mas aquele montante é “essencial para a sobrevivência do grupo”, uma vez que “nos permite investir na criação de espetáculos para que possamos gerar lucros a partir daí”.
Por este e outros motivos, o grupo prepara a contestação dos resultados deste concurso, destacando ainda que, trabalham para esta colectividade nove pessoas “que ficam também com o futuro comprometido”.
Ana Luísa Fernandes lamenta ainda que, “de quatro em quatro anos, tenhamos estar a debater estas questões, correndo o risco de fechar as portas”. “É sempre uma grande incerteza para grupos que tanto dão às regiões onde estão inseridos. “Não podemos viver sempre nesta precariedade”, sublinhou.
Para já, o teatro ‘Jangada’ vai contestar o concurso, mas se não for ouvido, promete não baixar os braços e até avançar para “a justiça”.
Recorde-se que o ‘Jangada Teatro’ foi fundado em 1999, com o objetivo de elevar o nível cultural da região geográfica onde está inserida, estando aquartelada no Auditório Municipal de Lousada, onde tem o seu espaço de trabalho, artístico e administrativo.
Ao longo dos anos de projecto, a companhia tem vindo a destacar-se no panorama teatral português, tendo-se apresentado nas melhores salas de norte a sul de Portugal e no estrangeiro, levando a que em 2005 tivesse sido agraciada com a medalha de mérito municipal, na área da cultura.
A organização de certames, como o Folia – Festival de Artes do Espetáculo de Lousada e Foliazinho, são da responsabilidade deste grupo que se tem vindo a destacar no panorama dos festivais tradicionais de teatro, por ter assumido, desde a primeira edição, “uma programação multidisciplinar”, uma vez que ali se juntam o teatro, a música, a dança, as marionetas e as artes plásticas.
A nível internacional tem marcado presença em Espanha, França, Lituânia, Brasil, Estados Unidos da América, México, China e Grécia.